VIDE: Mediador; Mundo Intermediário
Henry Corbin: Corpo Espiritual e Terra Celeste
Enfatizando a necessidade imperativa de um inter-mundo, de um intermediário entre o sensível e o inteligível, Corbin baseia sua argumentação tanto nos Platonistas da Pérsia, quanto nos Theosophos do Ocidente. A começar por Jacob Boehme que faz questão de definir entre o inteligível e o sensível, mais precisamente entre a Deidade transcendente e oculta, a Deitas abscondita, e o mundo do homem, um intermediário que denomina o Santo Elemento, uma «corporeidade espiritual», que é a Morada, a Presença Divina em nosso mundo. Esta Morada, é a Sabedoria, a Sofia. Esta Presença, é a Shekhina dos cabalistas. Ela é o lugar imaginal de uma encarnação totalmente espiritual, precedendo por toda eternidade aquela que a religião exotérica situa na história, esta história que para os teósofos xiitas e ismaelitas não é senão a metáfora de Verdadeira Realidade.
De um lado e de outro, é a ideia de Teofania que é a dominante, como se realizam por essência e necessariamente entre o inteligível e o sensível, e isto que é designado como Sofia, como «Alma do Mundo, é ao mesmo tempo o lugar imaginal e o órgão desta Teofania. É ao mesmo tempo a mediadora necessária, Deus revelatus, entre a Divindade pura, para sempre oculta, fora de alcance, e o mundo do homem. É o que denominamos alhures o «paradoxo do monoteísmo», e que é um tema constante em todas as doutrinas, aparentadas de uma maneira ou outra à Cabala nas «religiões do Livro». Em mística judaica igualmente, os Hassidim estabelecem uma tripla diferenciação: há o Deus inconhecível, há o lugar de emanação da Glória, o qual é a «Face do Alto» e que nem mesmo os Anjos conhecem; enfim há a Glória manifestada, a «Face de Baixo», a única que podemos contemplar. Esta «Face de Baixo», é o Anjo Metatron como «Anjo da Face», e que por aí mesmo é também a Presença, a Sofia, a Alma do Mundo.
É precisamente a necessidade desta Entidade espiritual mediadora que recusa todo e qualquer dualismo originário de um modo ou de outro, do cartesianismo, ou aparentado a este. A necessidade da mediação que nos lembram Jacob Boehme e os seus, é precisamente a necessidade do mundus imaginalis, experimentada por nossos filósofos Ishraqiyun.
Ibn Arabi levou longe a metafísica da Imaginação. Ele está em perfeito acordo com Sohravardi para estabelecer a realidade, de pleno direito, do mundo mediano que é o barzakh, o mundo do entre-dois. Ele o designa pela expressão corânica de «confluente dos dois mares». É para ele o confluente do mundo das Ideias puras em sua substancialidade inteligível e do mundo dos objetos da percepção sensível. É o mundo no qual se torna viva toda coisa que aparece inanimada neste mundo aqui. É o mundo ao qual chegou Moisés antes do encontro com seu iniciador (Khezr, Khadir).
René Guénon
Remitiremos aquí a lo que ha sido dicho sobre la noción del barzakh, lo que permite comprender sin esfuerzo cómo deben entenderse estas dos caras de la realidad; la cara interior esta vuelta hacia El-Haqq, y la cara exterior hacia El-khalq; y el ser cuya función es de la naturaleza del barzakh debe unir necesariamente en él estos dos aspectos, estableciendo así un «puente» o un «canal» por el que las influencias divinas se comunican a la creación.
CHITTICK, William C. The Sufi path of knowledge: Ibn al-ʻArabi’s metaphysics of imagination. Albany, N.Y: State University of New York Press, 1989.
Os nomes divinos são o barzakh entre nós e o Nomeado. Eles olham para Ele, pois O nomeiam, e olham para nós, pois nos concedem os efeitos atribuídos ao Nomeado. Assim, eles tornam conhecido o Nomeado e nos tornam conhecidos. (Futuhat II 203.3)