Christophe Andruzac: RENÉ GUÉNON
Há entre o homem e Deus, um mediador, ao qual o hinduísmo dá o nome de Buddhi, e que é ora um anjo, ora o Homem-Deus, quer dizer a Shekinah de baixo e do alto. A Queda de Lúcifer operou, a princípio virtualmente, em seguida realmente, a unidade humano-divina, de que fala Ruysbroeck e com ele todos os espirituais cristãos. É então que convém de uma maneira admirável que o Mediador fosse — não mais um anjo — mas Alguém que fosse Deus, e ao mesmo tempo um homem. Compreende-se desde então o caráter ambíguo de Buddhi e, na tradição judaica posterior à Encarnação (onde o Cristo é desconhecido), aquele de Metatron. Em Cabala, Metatron se apresenta com os caracteres próprios ao Anjo da Face e, ao mesmo tempo, com aqueles da Shekinah. Paul Vulliaud afirma: «A Cabala dá à Shekinah um paredro que porta nomes idênticos aos seus e possui consequentemente os mesmos caracteres». Este paredro é Metatron. Mas esta duplicidade não é ao fundo senão uma aparência, e a maneira de ortografar o nome de Metatron em hebreu o indica suficientemente: «Escrito com um iod, esta palavra designa a Shekinah; sem iod, designa o anjo servidor de Deus». Qual é este Anjo servidor de Deus? McGinn Anticristo Alterego, antes da queda. É importante de jamais esquecer que há, em Cabala, uma confusão constante entre o Anjo da Face e o Verbo ou Logos. Segundo a Cabala, o nome de Lúcifer, antes da queda, era Ha-Kathriel, o que significa «Anjo da Coroa» (quer dizer de Kether, a mais elevada das sephiroth). Ora — curiosidade cabalística, diria Paul Vulliaud — o número da palavra Ha-Kathriel, calculado segundo o método da guematria, é também aquele de Samael, o aspecto obscuro e demoníaco de Metatron, seja 666, o número mesmo da Besta no Apocalipse de João.