GUYONVARCH, Christian-J.; LE ROUX, Françoise. Les druides. 4e éd ed. Rennes: Ouest-France, 1986.
O Domínio dos Druidas sobre os Elementos
- Os druidas e os filid exerciam um controle absoluto sobre os elementos naturais, sendo a água e o fogo os meios primordiais de sua ação mágica, benéfica ou maléfica, dependendo exclusivamente da vontade do sacerdote, como demonstrado na morte de Loegaire, o Vitorioso, onde o poeta Aed Mac Ainine, condenado ao afogamento, encantou e secou sucessivamente todos os lagos e rios da Irlanda até que não restasse água para sua execução, exceto no lago junto à própria casa de Loegaire.
- A capacidade de manipular a hidrosfera é reafirmada no confronto entre o druida Mog Ruith e os druidas de Leinster; enquanto estes haviam ligado todas as águas da província de Munster causando seca, Mog Ruith realizou a operação inversa, fazendo jorrar um torrente através de suas lanças mágicas e de uma retórica específica, restaurando a força e a dignidade dos homens e do gado.
- Na Segunda Batalha de Mag Tured, o controle hídrico assume caráter estratégico militar quando o copeiro dos Tuatha De Danann promete a Lug privar os inimigos Fomoire de qualquer acesso à água, escondendo magicamente os doze principais lagos e rios da Irlanda, enquanto garante o abastecimento para seus próprios aliados.
- A água possui também uma função lustral e fecundante sob controle druídico, exemplificada no nascimento de Conall Cernach, cuja mãe, Findchoem, após lavar-se e beber de uma fonte indicada por um druida, engole um verme que define o destino guerreiro e implacável do embrião; inversamente, a pureza excessiva da água pode ser fatal para quem não possui a qualificação necessária, como no caso de Boand, que perdeu a vida e partes do corpo ao desafiar a fonte secreta do sid de Nechtan.
- A audição profética das ondas constitui outra faceta desse poder, onde o mar atua como local de revelação para os poetas; o file Nede, por exemplo, soube da morte de seu pai Adnae ao ouvir e encantar um som estranho nas ondas, que lamentavam o falecimento e a transferência da dignidade doutoral para outro.
O Fogo Druídico e os Rituais Sacrificiais
- O domínio sobre o fogo é uma competência essencial, onde a superioridade mágica se manifesta na minúcia do ritual, como visto na vitória do fogo benéfico de Mog Ruith sobre o fogo maléfico de madeira de sorveira dos druidas de Cormac, decidida pela construção precisa do bucheiro e pela execução correta das prescrições rituais.
- Fontes clássicas, como César, Diodoro e Estrabão, corroboradas por escólios tardios de Lucano, descrevem o uso do fogo em sacrifícios gauleses, mencionando grandes manequins de vime ou colossos de madeira e feno preenchidos com homens e animais para serem imolados em honra aos deuses, possivelmente Taranis, indicando que o fogo era um instrumento central na liturgia e nas cerimônias religiosas celtas.
- Na Irlanda, a tradição preservada por historiadores como Keating relata a instituição de fogos rituais obrigatórios, notadamente o fogo de Tlachtga na noite de Samain, onde druidas oficiavam sacrifícios e a partir do qual todos os outros fogos da ilha deveriam ser reacendidos, e o fogo de Beltaine em Uisneach, dedicado ao deus Bel, entre cujas fogueiras o gado era purificado para proteção contra epidemias.
- A sacralidade e a primazia do fogo real e druídico eram tais que a violação da regra de não acender nenhum fogo antes do fogo real de Tara na noite de festa acarretava pena de morte, conforme registrado em textos hagiográficos que descrevem o conflito entre São Patrício e o poder real pagão.
O Vento, a Névoa e a Terra como Armas Mágicas
- O "vento druídico" é uma manifestação do poder sacerdotal capaz de impedir navegações e invasões, utilizado pelos Tuatha De Danann para repelir os filhos de Mil, criando tempestades que afastavam os navios da costa irlandesa, um feitiço que só pôde ser quebrado pela contra-magia do poeta Amorgen.
- Distinto da tempestade física, existe o "sopro druídico", uma técnica de ilusão e metamorfose que permite ao druida transformar a aparência de exércitos inteiros, fazendo com que aliados se matem ao confundirem uns aos outros com o inimigo, ou petrificar adversários, como Mog Ruith fez com os três druidas do rei Cormac, transformando-os em pedras.
- A manipulação da terra inclui a capacidade de alterar a geografia física, com druidas como Mog Ruith fazendo colinas desmoronarem através de sopros e encantamentos, ou o feiticeiro Mathgen prometendo lançar as montanhas da Irlanda sobre os invasores Fomoire, demonstrando que o poder druídico se estende à própria estrutura geológica da ilha.
- A "névoa druídica" opera como um estado intermediário entre o ar e a água, servindo para desorientar, paralisar ou ocultar; heróis como Loegaire, Conall Cernach e Cuchulainn foram imobilizados por nevoeiros escuros e densos que os impediram de prosseguir viagem, e no Tochmarc Ferbe, uma névoa tricolor (preta, vermelha e verde) surge como presságio de massacre e morte.
A Continuidade e a Adaptação Hagiográfica do Poder Mágico
- A literatura hagiográfica irlandesa, ao narrar os conflitos entre santos e druidas, não nega a realidade dos poderes mágicos pagãos, mas apresenta o santo cristão como um mago superior, capaz de subjugar os elementos com maior eficácia; São Columba, por exemplo, supera o druida Broichan ao navegar contra um vento contrário suscitado pelo druida e ao curá-lo com uma pedra branca flutuante que desafia as leis naturais.
- A assimilação da magia druídica pelo cristianismo insular é evidenciada na facilidade com que milagres de cura e controle climático são transferidos para os santos, mantendo a estrutura técnica da magia pré-cristã sob uma nova roupagem teológica, onde Cristo é invocado como a fonte suprema de um poder que opera de maneira idêntica ao antigo druidismo.
- O rei Cormac é retratado em uma posição de transição, recusando a adoração direta aos elementos (pedras, árvores) em favor daquele que os criou, prenunciando o monoteísmo, mas a estrutura mental subjacente permanece ligada à eficácia ritual e à interação direta com as forças cósmicas, como provam as incantações contra veneno atribuídas a São Patrício, que preservam fórmulas rítmicas obscuras de clara origem pagã.