Skip to main content
id da página: 7362 CONHECIMENTO — VER — VISÃO

Visio

TRADIÇÃOCONHECIMENTOVER — VISÃO


VIDE: olho; adaequatio rei et intellectus; visão espiritual


Frithjof Schuon: Schuon Olho; trad. Antonio Carneiro

A transposição simbólica do ato visual no plano intelectual fornece uma imagem bastante expressiva da identificação pelo conhecimento: nesse processo, é necessário com efeito ver o que se é, e ser o que se vê ou conhece; o objeto é Deus nesses dois casos, com a diferença, entretanto, que aparece como « concreto » no primeiro caso e como « abstrato » no segundo. Mas, o simbolismo da visão é universal e se aplica também ao macrocosmo e a todos os graus deste: o mundo é uma visão indefinidamente diferenciada cujo objeto é em última análise o Protótipo divino de tudo o que existe, e, inversamente, Deus é o Olho que vê o mundo e que, estando ativo aí onde a criatura está passiva, criou o mundo pela sua visão que é ato e não passividade1 ; o olho torna-se assim o centro metafísico do mundo onde é ao mesmo tempo o sol e o coração.2 . Deus não vê3 somente o exterior, mas também — ou muitas vezes com mais forte razão — o interior, e é esta última visão que é a mais real, ou ainda mais, rigorosamente falando, a única real, pois é a visão absoluta ou infinita onde Deus é por vezes o Sujeito e o Objeto, o Conhecedor e o Conhecido. O universo não é senão visão ou conhecimento, de qualquer modo que isso se realize, e toda sua realidade é Deus : os mundos são tecidos de visões4 , e o conteúdo dessas visões indefinidamente repetidas é sempre o Divino, que é assim o primeiro Conhecimento e a suprema Realidade 5 ,—, Conhecimento e Realidade sendo dois aspectos complementares da mesmo Causa divina.


André Allard: A iluminação do coração

Falarei de vista, de visão, de visibilidade por modo de imagem. A visão pelos olhos do corpo figura não importa que percepção sensorial, e o que é dito da vista pode ser dito, mutatis mutandis, da audição, do tato, do olfato ou do paladar. Eis a «visão» sensível em toda sua generalidade. No entanto, é possível, e mesmo necessário, operar uma transposição muito mais decisiva. Não somente a visão pelos olhos do corpo figura correntemente não importa que percepção, quer dizer toda tomada, toda apreensão de objeto por meio dos sentidos abertos sobre as coisas sensíveis, mas, além do mais, e por uma espécie de consenso universal, toda espécie de tomada ou de apreensão em favor da qual um conhecimento ou um re-conhecimento se realiza. A palavra visão é então empregada para significar o ato do sentido da vista. Mas em razão da dignidade e da certeza deste sentido, o emprego foi estendido, por conta dos usos da linguagem, a todo conhecimento dos outros sentidos. Não se diz: «vês este sabor" ou "este cheiro", ou "como está quente". E posteriormente ainda o uso se estendeu ao conhecimento intelectual; assim se lê nas Beatitudes (Bem-aventurados os corações puros...).

Neste sentido, o termo «visão» convém ainda para exprimir o ato pelo qual o espírito considera e inspeciona todo objeto de pensamento imediatamente oferecido a ele. O alemão wissen (e as palavras da mesma família — die Weisheit, o saber, a ciência, der Weise, o sábio) deriva de visum, supino do latim videre. Dei Weise, a maneira, o modo, deriva também, como eidos, no sentido de maneira de ser, deriva de FID, raiz vizinha do indo-europeu VID que significa «ver»: donde as palavras sânscritas veda, vidya (conhecimento) e mesmo vidyut (relâmpago). A raiz VID significa ao mesmo tempo «ver» (latim videre) e «saber», como no grego oida, que deriva de FID caindo o F. Sabe-se que oida é o perfeito, que tem o sentido do presente, de um verbo cujo infinitivo é eidenai e que significa «conhecer», «saber». Desta mesma raiz FID derivam eidos: aspecto, forma física; espécie, maneira de ser, e idea: aparência, beleza, forma, ideia, espécie. A mesma palavra designa os átomos de Demócrito e as Ideias de Platão. Em resumo, a raiz VID = FID =ID, cobre as noções: 1) de ver; 2) de saber; 3) de aparição à vista; 4) de clarão, relâmpago, do que iluminando, dá a ver e faz saber; 5) de forma do que aparece, de beleza; 6) de maneira de ser, de se apresentar à vista.


Michel Henry: Michel Henry Verdade

Se a Revelação de Deus nada deve à verdade do mundo, se sua matéria fenomenológica pura não se identifica a este horizonte de luz que é o mundo, de maneira que ela não pode se mostrar neste e não se mostra aí jamais, como podemos aí ter acesso? E então como podemos pensá-la? Pois o pensamento nada mais é que um modo de nossa relação ao mundo. Pensar é sempre pensar algo ao qual o pensamento se reporta em um ver sensível ou inteligível, e assim sob a condição do mundo. Toda forma de conhecimento e notadamente o método científico de pesquisa, aí compreendido o método fenomenológico, procede segundo um jogo de implicações intencionais desdobrados cada vez de maneira a alcançar a uma evidência e assim a um ver. É neste ver e graças a ele que se constitui toda a aquisição de conhecimento. O trabalho aqui empreendido concernindo a Verdade do Cristianismo, quer dizer a auto-revelação de Deus, como poderia concluir se esta se furta no princípio a toda visada do pensamento, a qual pressupõe sempre a abertura prévia de um mundo?

A desqualificação do poder de mostração próprio ao mundo, a substituição a este poder de um modo de revelação radicalmente heterogêneo ao ver e nada lhe devendo, único capaz no entanto de revelar a essência divina se auto-revelando no Verbo e como este Verbo ele mesmo, esta mutação decisiva da fenomenologia, de uma fenomenologia cuja fenomenalidade é a Vida e não mais o mundo — tudo isso está contido na palavra que dá acesso ao conteúdo do cristianismo, a Deus — ao preço é verdade de uma reviravolta completa dos pressupostos que guiam a tradição do pensamento ocidental desde sua origem grega: «Ainda um pouco de tempo e o mundo não me verá mais; mas vós, vós me vereis porque eu sou vivente e que vós vivereis, vós também» (Jo 14,18; Mostre-nos o Pai).

Substituir uma fenomenologia a uma outra, àquela da Vida, àquela do Logos, àquela do mundo, não é desconhecer o poder de manifestação que pertence a este último, mas é circunscrever de maneira rigorosa o domínio e assim a competência. Para o pensamento tradicional como para a filosofia clássica, para o senso comum como para a ciência, a pertinência dos conceitos que tem que ver com o conhecimento se funde de maneira exclusiva sobre a fenomenalidade do mundo e sobre o ver que ela dispõe. Situando ao contrário a Verdade original em uma forma original de revelação que só pertence à vida e consiste em sua auto-revelação — a vida retirando sua essência nesta capacidade de se auto-revelar e sendo única a poder o fazer —, o cristianismo realiza a inversão dos conceitos fenomenológicos que se encontram no fundamento de todo pensamento mas a princípio na experiência sobre a qual este pensamento se modela (Experienciar).


C.S.Lewis: Imagem do Mundo

No obstante, hemos de reconocer que, mientras que se recalcaban las consecuencias morales y emocionales de las dimensiones cósmicas, a veces se ignoraban las consecuencias visuales. Dante en Paradiso (XXVII, 81-3) mira hacia abajo desde la esfera de las estrellas fijas y ve el hemisferio norte que se extiende desde Cádiz hasta Asia. Pero, de acuerdo con el Modelo, difícilmente podía verse toda la Tierra desde aquella altitud, y decir que se ven marcas en su superficie resulta ridículo. Chaucer en House of Fame está inimaginablemente más abajo que Dante, pues se encuentra todavía en el aire, por debajo de la Luna. Pero, aun así, resulta sumamente improbable que hubiese podido distinguir barcos y ni siquiera, si bien unethes («con dificultad»), bestes («animales») (II, 846-903).

La imposibilidad, en las condiciones supuestas, de ese tipo de experiencias visuales es evidente para nosotros, porque hemos crecido desde la infancia bajo la influencia de representaciones que aspiraban al máximo de ensueño y observaban las leyes de la perspectiva. Estaremos en un error, si suponemos que el mero sentido común, sin dicha instrucción, permitiría a los hombres ver una escena imaginaria o incluso ver el mundo en que viven, tal como lo vemos hoy.6 El arte medieval era deficiente en la aplicación de la perspectiva y la poesía siguió su ejemplo. Para Chaucer, la naturaleza es siempre primer plano; nunca representa un paisaje. Ni los poetas ni los artistas sentían demasiado interés por el ilusionismo estricto de épocas posteriores. El tamaño relativo de los objetos en las artes visuales estaba determinado más por el interés con que el artista deseaba recalcarlos que por los tamaños del mundo real o por su distancia. El artista medieval nos muestra cualquier detalle que quiera hacernos ver tanto si es visible como si no. Creo que Dante estaba en perfectas condiciones de saber que no habría podido ver Asia y Cádiz desde el Stellatum y, aun así, citó dichos lugares. Siglos después, Milton hace que Rafael mire desde la puerta del cielo, es decir, desde un punto exterior a todo el universo sideral — «distancia imposible de expresar en cifras» (VIII, 113) — y vea no sólo la Tierra, no sólo los continentes sobre la Tierra, no sólo el Edén, sino también cedros (V, 257-61).

De la imaginación medieval e incluso de la isabelina en general (aunque no de la de Dante) podemos decir que, incluso al tratar objetos en primer plano, es vivida en lo que se refiere al color y a la acción, pero raras veces usa la escala coherentemente. Vemos gigantes y enanos, pero nunca llegamos a descubrir su tamaño exacto. Gulliver fue una gran novedad.