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id da página: 2201 Evangelho de Tomé - Logion 3

Evangelho de Tomé - Logion 3

Jesus disse: se os que vos guiam, vos dizem: eis que o reino está no céu, então os pássaros do céu vos avantajarão; se vos dizem que está no mar, então os peixes vos avantajarão. O reino está dentro e fora de vós. Quando vos conhecerdes a vós mesmos, então sereis conhecidos e sabereis que sois os filhos do pai vivente; mas se não chegais a vos conhecer, então estareis na pobreza, sereis a pobreza. (Roberto Pla)
Jesus disse: Se aqueles que vos guiam afirmam: eis, o Reino está no Céu, então os pássaros dele estão mais próximos que vós; se vos dizem: eis, está no mar, então os peixes já o conhecem... O Reino: ele está no interior de vós, e ele está no exterior de vós. Quando vós vos conhecerdes a vós mesmo, então sereis conhecidos e conhecereis que sois os filhos do Pai, o Vivente; mas vós não vos conheceis a vós mesmos, sois no vão, e sois vaidade. Jean-Yves Leloup

EVANGELHO DE JESUS: Deut 30,11-14; Lc 17:20-25; Rom 10,6-8


Roberto Pla

A ideia ou revelação principal que expressa este logion 3 é que o Reino — dos céus, de Deus, do Pai — “está dentro e fora de nós”. Está dentro porque é a essência ainda não conhecida de nós mesmos, nossa consciência pura, a «morada», o Monte Santo, “onde habita o Senhor” ["SENHOR, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte?" (Salmo 15:1)]; está fora, posto que é a essência ou consciência pura de todos os Viventes, os quais são Viventes porque neles habita o Senhor que é a Vida. Para afirmar esta interioridade do Reino em todos e em cada um, explica o logion que o Reino não está no céu, o lugar ou espaço do ar que serve de «morada» aos pássaros, e que tampouco está no mar, o lugar ou espaço das águas onde habitam os peixes [Em versão paralela no P. Oxyr 654, 2 não diz “mar” mas “terra” na tentativa de apurar ainda mais o contraste entre ambos “meios” (o alto e baixo, “ali” e “aqui”), nos quais não está o Reino.]. Com isto se diz com clareza que o Reino não tem ou pode ter um lugar objetivo próprio, porque não há lugar ou ponto espacial limitado como residência sua, nem no mundo de “lá”, superior (físico, ou psíquico), nem o de “aqui”, inferior (terrestre, hílico), simplesmente porque o Reino pertence a um mundo próprio do Pai e do Filho ingênitos.

E dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo (engeken). Arrependei-vos, e crede no evangelho. (Mc 1:15) Chamada


Jean-Yves Leloup

Antes de definir o que é o Reino, convém pôr a questão: «Quem reina sobre nós?» — nosso passado, nosso inconsciente, o meio, uma paixão ou ideia qualquer?

O Reino é o Reino do Espírito em nós, em todas nossas faculdades; não é somente nosso Ego com suas memórias, seus medos, seus desejos que reina sobre nós, é o Espírito mesmo do Vivente que nos anima.

Este logion nos indica que o Reino, a Presença do Espírito de Deus em nós, não se deve buscar no interior somente ou no exterior somente; ele nos convida a sair da Dualidade que é o clima de nossa consciência ordinária. Trata-se então de não fechar os olhos à aparência mas também de não se fechar aí nelas. Tentar sentir a interioridade de tudo que existe, sua profundidade, ver tudo o que é invisível no visível, tudo que há de silencioso na palavra que entendemos, tudo que há de impalpável no que tocamos... Esta atitude desenvolve um estado de despertar particular no cotidiano. «Nossa Ascese é a conformidade, o milagre nosso pão de cada dia» dizem os gnósticos...

Tocar alguém com amor, com interioridade, é ao mesmo tempo muito Sensível, muito sensual, e no entanto uma outra dimensão pode estar presente. «Aquele que é carnal, o é até nas coisas do Espírito; aquele que é espiritual, o é até nas coisas da carne», dizia Agostinho de Hipona. Amar seu próximo como a si mesmo, como interior a si mesmo e no entanto não «o reduzir a si», tais são as condições de uma verdadeira relação.

Na tomada de consciência de si mesmo, descobrimos «que somos conhecidos», como afirma o logion. No mais íntimo de nós mesmos, no movimento mesmo de integração de tudo o que somos, descobrimos o Outro que nos funda (novamente, descobrimos o exterior no interior de um ponto de vista metafísico desta vez).

Assim se conhecer, é se descobrir de novo. É descobrir des-encobrir que em todo ato de conhecimento, há participação em uma Inteligência que se comunica através de nós e que nos dá a participar em sua Luz.


Philippe Suarez

Ao longo do Evangelho segundo Tomé, testemunhamos incessantes desentendimentos entre Jesus e seus discípulos sobre uma palavra: Reino, à qual os discípulos atribuíram um significado totalmente diferente do de Jesus. O iminente Juízo Final traria o advento do Reino de Israel em meio a uma grande demonstração de forças cósmicas. Os discípulos estavam atentos aos sinais do que estava por vir, enquanto Jesus os trouxe de volta à humilde realidade da vida cotidiana e os direcionou para o Reino interior. Apesar das lições das parábolas, das correções e admoestações de Jesus, a falta de compreensão permaneceu trágica até o fim.


Karl Renz

Pensar que existe um dentro e um fora é apenas uma ideia (interior-exterior). Primeiro, procuramos fora, esperando encontrar felicidade em objetos, como um carro novo, ou na família, etc. Procuramos a harmonia fora e não a encontramos. Porque será sempre uma harmonia imperfeita, subjacente, dependente. Dentro é a mesma coisa. Entramos na dimensão interna infinita, mas lá, também não há harmonia. Há apenas vazio. É sempre um não-encontrar, e não um encontrar dentro.

Quero apenas salientar que não há encontro nem dentro nem fora. Então, permanecemos indecisos porque não é nem dentro nem fora. Jesus disse: Eu sou o que está dentro e eu sou o que está fora, mas eu mesmo não tenho dentro nem fora. É sempre a essência do dentro e do fora. Não há Jesus que tenha um dentro ou um fora.