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Estórias

Contos filosóficos do mundo inteiro. Estórias dignas de pensar. CARRIÈRE, Jean-Claude. Le Cercle des menteurs. Contes philosophiques du monde entier. Paris: Plon 1998 / MAUNOURY, Jean-Louis. Sublimes paroles et idioties de Nasr Eddin Hodja. Paris: Phébus, 2002 / REPS, Paul. Zen flesh, Zen bones. Tokyo: Tuttle Publishing, 1998 / Wei Wu Wei. Unworldly Wise. Boulder: Sentient, 2004.

Um homem e meio homem

Perguntaram a um homem sábio, que havia viajado muito pela Terra, se ele havia conhecido algum homem notável sobre o qual gostaria de falar.

- Conheci apenas um homem e meio-homem, disse ele.

- Quem era o meio-homem?

- Um homem que só tinha coisas boas a dizer sobre os outros.

- E o homem inteiro?

- Um homem que não dizia nada.

(CarriereMenteurs2)

Último koan

- Mestre, perguntou um discípulo, por que o Buda veio do Ocidente?

O mestre apontou para um pote em frente à porta e respondeu:

- Olhe para aquele pote ali.

- Não estou compreendendo, disse o discípulo, olhando para o pote.

- Nem eu, disse o mestre.

(Jean-Claude Carrière)

Não importa!

Todos os meses, o discípulo enviava religiosamente ao seu Mestre um relatório detalhando seu progresso.

No primeiro mês, ele escreveu: “Sinto uma expansão da consciência e experimento minha unidade com o universo”. O Mestre deu uma olhada na nota e a jogou na lixeira.

No mês seguinte, ele escreveu: “Finalmente descobri que o Divino está presente em todas as coisas”. O Mestre pareceu desapontado.

No terceiro mês, as palavras entusiásticas do discípulo exclamavam: “O mistério do Um e da multiplicidade foi revelado diante dos meus olhos maravilhados”. O Mestre balançou a cabeça e jogou a carta no lixo novamente.

A carta seguinte dizia: “Ninguém nasce, ninguém vive e ninguém morre, porque o eu egoico não existe”. O Mestre levantou as mãos para o céu em total desespero.

Depois disso, passou um mês, depois dois, depois cinco e, finalmente, um ano inteiro sem receber notícias. O Mestre decidiu que era hora de lembrar ao discípulo seu dever de mantê-lo informado sobre seu progresso espiritual.

Então, o discípulo respondeu: “Não importa!”.

Ao ler isso, um olhar de grande satisfação cruzou o rosto do Mestre.

Sabedoria alcançada?

Um noviço perguntou a um mestre:

- Como um ser humano pode saber que alcançou a sabedoria suprema?

- Quando parar de fazer essa pergunta.

(Jean-Claude Carrière)

Fazer

Tu desprezas os budistas?", perguntou o coelho com tristeza.
"Não particularmente", respondeu a coruja com indiferença.
"Mas tu me disseste ontem que preferias um rato!
"É verdade, um que estivesse preparado para sacrificar seu precioso "si mesmo", se bem me lembro...
Sim, este aqui", disse o coelho, modestamente torcendo o nariz, "Posso saber por quê?
"Não há ninguém para fazer isso", explicou a coruja, "uma ausência não tem sabor; é digerível, mas não nutritiva".
"Não estou entendendo", suspirou o coelho.
Uma presença relativa não tem nada a oferecer", explicou a coruja pacientemente, "e somente sua ausência poderia fazê-lo".
"Por que isso?", perguntou o coelho, perplexo.
"O que está presente recebe, mas não dá", afirmou a coruja, "essa é a natureza da volição egoísta estendida no espaço-tempo".
"Mas quando dá?", perguntou o coelho.
"Enganando a si mesma", disse a coruja, "somente a Ausência pode FAZER".
"Me dá o que pensar", refletiu timidamente o coelho.
"Perda de tempo", disse a coruja. "Não desperdice, não queira - apenas FAÇA".
"Mas como FAZER?", perguntou o coelho.
"Faça como tu gostarias que fizessem", e deixe-se fazer!", concluiu a coruja. 'De qualquer forma
- tu serás!

Wei Wu Wei Coruja Coelho

A razão porque

'Tu pareces cansada e com fome?' disse o coelho com compaixão.
Estou", respondeu a coruja.
Então, por que não come e dorme?
Não tenho nada para comer e não estou com sono.
"Permita-me", sugeriu o coelho, "estou disponível e à sua disposição".
'Tu! Tu te tornaste um budista ou algo assim?
"Sim", respondeu timidamente o coelho, "é muito divertido!
"Então tu te ofereces a mim?
"Com prazer", disse o coelho com uma expressão extasiada, seu nariz se contraindo. O sacrifício é uma grande felicidade.
Desculpe, mas não estou brincando!
"Por que não?", perguntou o coelho, magoado.
"Budistas assim não abrem o apetite nem têm gosto bom", esbravejou a coruja; "prefiro um rato!

Wei Wu Wei Coruja Coelho

Eu que sou nada...

"Se tu pudesses dizer de forma simples", observou o coelho, "talvez eu pudesse entender".
"Simplesmente o quê?", perguntou a coruja.
"Simplesmente em uma dúzia de palavras".
"Oito seriam suficientes", disse a coruja.
"Bem, então oito - se oito forem suficientes".
"Oito é demais, mas tu precisas delas".
"Como tu pensas", suspirou o coelho; "o que são?
"Eu, que não sou nada, sou todas as coisas", disse a coruja.
Como você pode ser as duas coisas se não é nenhuma?
"É exatamente porque não sou nenhuma das duas coisas que sou ambas".
"Então o que eu sou?
"É porque tu pensas que és alguma coisa que não és nada".
"E daí?", perguntou o coelho. "Então tu sofres", respondeu a coruja, decidindo jantar.

Wei Wu Wei Coruja Coelho

Pa-a-ra-a qu-e-e-e

“Às vezes me pergunto”, disse o coelho, “por que pareces preferir a lua ao sol.”
“Hábito profissional”, respondeu a coruja. “Quando brilho diretamente à luz do dia, outros fazem o que precisa ser feito; quando brilho indiretamente ao luar, ocupo-me das coisas eu mesmo.”
“Das coisas — como tu mesmo?”, sugeriu o coelho, dando um salto travesso no ar.
“Todas as ‘coisas’ são manifestações do que-eu-sou”, disse a coruja severamente, “estendidas no espaço-tempo conceitual, na mente integral.”
“De fato”, comentou o coelho, mordiscando um trevo suculento, “deve ser ótimo para elas!”
“Fico contente que penses assim”, respondeu a coruja, “mas, na relatividade, quando minha mente está dividida, deve haver também sofrimento aparente. Se o positivo e o negativo fossem iguais, anular-se-iam mutuamente, e a equanimidade, que é a reintegração, sobreviria.”

“Então é por isso que temos de sofrer?”, perguntou o coelho, “por isso existe a infelicidade?”
“Nem felicidade nem infelicidade existem”, respondeu a coruja; “nenhuma contraparte interdependente existe — são estimativas conceituais que se anulam mutuamente em negação recíproca.”

“Então, o que são elas?”, perguntou o coelho.
“O que és tu?”, replicou a coruja. “O que é toda percepção sensorial, todo conhecimento, julgamento, discriminação?”
“Aquilo que faz tudo isso, suponho”, disse o coelho. “Eu mesmo, por exemplo.”
“Como tal, és apenas o que é percebido”, piou a coruja, “isto é, apenas um objeto na mente.”
“Então o que percebe o que é percebido?”, perguntou o coelho.
“Eu”, respondeu a coruja; “Eu, eternamente Eu.”
“E a quê ou a quem se aplica esse ‘Eu’?”, perguntou o coelho, contraindo o nariz de modo desconfiado.
“A quê ou a quem?”, repetiu a coruja. “Queres que te diga?”
“Sim, por favor!”, disse o coelho.
“Muito bem”, disse a coruja, “ouve, e escutarás.”
E — erguendo as asas e estendendo o pescoço — a floresta ecoou e re-ecoou o seu brado retumbante:
“Pa-a-ra-a qu-e-e-e, pa-a-ra-a qu-e-e-e, pa-a-ra qu-e-e-e-m!”

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Em casa

“Este hábito moderno de ‘viver e morrer’ é um grande incômodo!”, suspirou a coruja, estendendo as asas com cansaço.
“Eu até que gosto disso”, respondeu o coelho.
“Queres dizer, suponho, que pensas que gostas.”
“Então, como poderia não gostar?”
“O pensar é apenas uma noção da mente dividida”, disse a coruja. “Não há nada de factual nisso, absolutamente nada.”
“Mas eu sou feliz”, insistiu o coelho.
“Disparate, disparate”, grasnou a coruja, “não há ‘tu’ que possa ser algo, nem qualquer ‘coisa’ que possa sê-lo para ti!”
“Que pena”, suspirou o coelho, “sempre pensei que houvesse.”
“Pensar! Pensar!!”, lamentou a coruja, girando a cabeça em noventa graus. “Um hábito inútil, universalmente condenado pelos Sábios.”
“E o que são, então, esses Sábios, que não se dão ao trabalho de pensar, e como é que ‘sabem’?”
“Aqueles que apercebem”, explicou secamente a coruja, “apresentam uma extensão dimensional suplementar.”
“E o que seria isso?”
“Uma direção adicional de medida — de visão”, explicou a coruja.
“E como isso funciona?”, perguntou o coelho.
“A conceitualização é então excluída”, cortou a coruja; “a mente dividida torna-se inteira.”
“E qual é o efeito disso?”, indagou o coelho.
“Eles veem diretamente, é claro”, respondeu a coruja, girando de volta a cabeça e fixando o coelho com seus olhos luminosos, “e então, naturalmente, ‘eles’ estão ausentes.”
“E daí?”, murmurou o coelho, inquieto. “Quero dizer, o que está presente?”
“Presente?”, perguntou a coruja. “Ora, tudo, evidentemente!”
“Tudo?”, exclamou o coelho, saltando surpreso. “Como pode ser isso?”
“Na minha ausência conceitual”, piou a coruja, “todos e tudo são bem-vindos AQUI, onde EU SOU — e onde estarão absolutamente em casa!”

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O jeito que é

"Como eu poderia amar tu?", disse a coruja ao coelho. Eu sou o que tu ÉS".
"É mesmo?", respondeu o coelho, mastigando delicadamente um dente-de-leão.
"Como poderia me odiar?", continuou a coruja, "tu és o que EU SOU".
Eu nunca notei isso", observou o coelho, pensativo.
"Como poderia ser de outra forma?", perguntou a coruja. "O que quer que sejamos - EU SOU".
"Desde quando?", perguntou o coelho. "É recente?
"Desde sempre", respondeu a coruja, "não existe "Tempo"".
"Então, onde isso ocorre?
Em toda parte; não há "espaço".
"Então somos realmente um só?", sugeriu o coelho alegremente.
"Certamente que não", disse a coruja. Não existe "um".
"Então, o que existe?", indagou o coelho, duvidoso.
"Nenhuma coisa!", respondeu a coruja com severidade.
"E daí?", perguntou o coelho, perplexo.
"Então, a vida!", disse a coruja, batendo suas grandes asas e batendo o bico. "Como os Mestres disseram tantas vezes, "quando estou com fome - eu como, e quando estou cansado - eu durmo!

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Aqui

Minha ausência é o que eu sou", disse a coruja, "e foi chamada de "o Vazio".
"Sim?", comentou o coelho, brincando com um cardo saboroso.
"Quando estou ausente, o universo está presente", continuou a coruja, "e até tu serias bem-vindo".
"Que bom!", respondeu o coelho, pulando educadamente. "Mas onde?
"Aqui", disse a coruja de forma conclusiva, "absolutamente AQUI".
"E onde exatamente é isso?
"Onde eu estou, que é onde eu estava e sempre estive", respondeu a coruja.
"Então, onde estarei?", perguntou o coelho ansiosamente.
"Aqui, AQUI, é claro! Onde mais tu poderias estar?
"Mas onde haverá espaço para nós dois onde tu estiveres?", perguntou o coelho inocentemente.
"Tu estarás presente na minha ausência", explicou a coruja pacientemente.
Não vejo como isso pode acontecer", respondeu o coelho. "Tu estarás, tu estarás!", assegurou a coruja, preparando sua ausência. "Vou me certificar disso".

Peixe

'Eu sou a Mente na qual o mundo aparece', comentou a coruja para o coelho.
"É mesmo?", respondeu o coelho, mordiscando um dente-de-leão suculento e girando-o no canto da boca. A ideia não tinha me ocorrido.
"É", continuou a coruja, "e os pensamentos não são peixes para serem capturados por animais ou homens".
"Por que isso?", perguntou o coelho.
"Eles não são objetos", afirmou a coruja com um estalo de seu bico.
"Então o que são? Sujeitos?
Esse sujeito seria um objeto.
"Por que isso?
"Porque tu o fazes".
"Então, os pensamentos podem se pegar sozinhos?
"Os peixes podem?", respondeu a coruja.
"Então quem pode pegá-los?", perguntou o coelho.
"Quem pergunta é a resposta".
"Como sempre!
"Como sempre.
"E quem é esse?
"A mente na qual o universo aparece", disse a coruja severamente.
"E o que é isso?", perguntou o coelho. "Eu sou", anunciou a coruja, "mesmo que tu o digas!

Wei Wu Wei Coruja Coelho

Dentro

"Eu sou este-eu", disse a coruja, "absolutamente eu, desprovido de qualquer qualidade objetiva".
"É mesmo?", fungou o coelho, torcendo o nariz.
Objetivamente, eu sou tudo e o que quer que apareça no espelho de minha mente, o que absolutamente sou.
"Tu não pareces nada com isso", comentou o coelho.
"Você só está olhando para o que vê", respondeu a coruja; "está olhando da direção errada, como sempre".
Só consigo ver o que está na minha frente e, ao me virar, o que está atrás.
"É isso mesmo, é isso mesmo", respondeu a coruja, "e tu não vês nada além do que não está aí!
"Então onde eles estão?", perguntou o coelho.
"Dentro, dentro", assegurou a coruja. "Tudo está dentro. Tu verás!", acrescentou, batendo o bico e levantando as asas majestosamente, pronta para um golpe.

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Amor

“Por que comes tanta grama?”, perguntou a coruja. “A grama é um emético.”
“Considero-a digestiva”, respondeu o coelho, “e adoro-a.”
“Por que não comes caracóis?”, continuou a coruja.
“Porque os detesto”, respondeu o coelho.
“Impossível!”, exclamou a coruja. “Quem haveria para amar o quê, e o que haveria para ser odiado por quem? As duas palavras mais tolas de nossa língua!”
“Qualquer dois de nós”, sugeriu o coelho, “tu e eu, por exemplo.”
“Absurdo”, replicou a coruja, “como poderíamos ser dois?”
“Por que não?”, indagou o coelho.
“Porque eu sou, e tu não és”, concluiu a coruja.
“Mas no espaço-tempo…”, sugeriu o coelho.
“Em tempo algum”, cortou a coruja, com um estalido forte do bico e um mergulho quase vertical.
“Talvez”, disse o coelho, enquanto mergulhava em sua toca, “mas não neste!”

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Quando eu brilho

O coelho, olhando para o alto, disse à coruja, enquanto ingerindo várias folhas de grama, «frequentemente me pergunto porque abres teus olhos quando está escuro e os mantém fechados quando há luz?

«Quando eu brilho», replicou a coruja, «não há nenhuma escuridão, pois a escuridão é somente a ausência de luz, e quando eu te observo perpetuamente comendo o que quer a terra ofereça; quando cesso de brilhar nada que seja pode aparecer.»

«Então nossos mundos devem ser diferentes?» sugerindo o coelho.

«Não há nenhum mundo,» laçou a coruja, com um clique de seu bico, «outro que aquele que aparece quando eu brilho.»

E o que aparece quando o sol brilha?» sugeriu o coelho.

«Sou o sol,» concluiu a coruja; «o que pensas que vês é somente uma reflexão em tua mente-dividida.»

«É assim de fato?» replicou o coelho, mexendo seu nariz duvidosamente. «Então porque você e o sol não brilham ao mesmo tempo?»

«Eu sou o «tempo», adicionou a coruja, «e todo o «tempo» é meu tempo. Além do mais neste «tempo» estou começando a sentir fome.»

«Tá bem, tá bem,» suspirou o coelho — enquanto mergulhava com pressa em sua toca.

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Parábola

Buda contou uma parábola em um sutra: Um homem viajando por um campo encontrou um tigre. Ele fugiu e o tigre o perseguiu. Chegando a um precipício, ele se agarrou à raiz de uma trepadeira selvagem e se jogou pela borda. O tigre o farejou de cima. Tremendo, o homem olhou para baixo e viu que, bem abaixo, a mãe tigre estava esperando para comê-lo. Somente a videira o sustentava.

Dois camundongos, um branco e um preto, começaram a roer a videira pouco a pouco. O homem viu um morango delicioso perto dele. Agarrando a trepadeira com uma mão, ele arrancou o morango com a outra. Que sabor doce ele tinha!

Lamaçal

Certa vez, Tanzan e Ekido estavam viajando juntos por uma estrada lamacenta. Uma chuva forte ainda estava caindo.

Ao fazer uma curva, eles encontraram uma linda garota com um quimono de seda e uma faixa, que não conseguia atravessar o lamaçal.

"Vamos, garota", disse Tanzan imediatamente. Levantando-a em seus braços, ele a carregou através da lama.

Ekido não voltou a falar até aquela noite, quando chegaram a um templo de hospedagem. Então, ele não conseguiu mais se conter. Nós, monges, não nos aproximamos de mulheres". Ele disse a Tanzan, especialmente as mais jovens e adoráveis. É perigoso. Por que tu fizeste isso?

Deixei a garota lá", disse Tanzan. 'Tu ainda a estás carregando?

Obediência

As palestras do mestre Bankei eram assistidas não apenas por estudantes zen, mas por pessoas de todos os níveis e entes. Ele nunca citava sutras nem se entregava a dissertações escolásticas. Em vez disso, suas palavras eram ditas diretamente de seu coração para os corações de seus entes.

Suas grandes audiências irritavam um sacerdote da seita Nichiren porque os adeptos tinham saído para ouvir sobre o Zen. O sacerdote egocêntrico da Nichiren foi ao templo determinado a debater com Bankei.

"Ei, professor zen", ele chamou. Espere um pouco. Quem o respeita obedecerá ao que tu dizes, mas um homem como eu não o respeita. Podes me fazer obedecê-lo?

"Venha para o meu lado e eu lhe mostrarei", disse Bankei.

Orgulhoso, o sacerdote abriu caminho entre a multidão até o professor.

Bankei sorriu. "Venha para o meu lado esquerdo".

O sacerdote obedeceu.

"Não", disse Bankei, "podemos conversar melhor se tu estiveres do lado direito. Venha para cá".

O sacerdote orgulhosamente deu um passo para a direita.

"Veja", observou Bankei, "você está me obedecendo e acho que é uma pessoa muito gentil. Agora sente-se e ouça".

É mesmo?

O mestre zen Hakuin era elogiado por seus vizinhos como alguém que levava uma vida pura.

Uma bela garota japonesa, cujos pais eram donos de uma loja de alimentos, morava perto dele. De repente, sem qualquer aviso, seus pais descobriram que ela estava grávida.

Isso deixou seus pais furiosos. Ela não queria confessar quem era o homem, mas, depois de muito assédio, finalmente disse o nome de Hakuin. Com muita raiva, os pais foram até o mestre. "É mesmo?" era tudo o que ele dizia.

Depois que a criança nasceu, ela foi levada a Hakuin. A essa altura, ele já havia perdido sua reputação, o que não o incomodava, mas cuidou muito bem da criança. Obteve leite de seus vizinhos e tudo o mais de que a criança precisava.

Um ano depois, a mãe da menina não aguentou mais. Ela contou a verdade a seus pais: que o verdadeiro pai da criança era um jovem que trabalhava no mercado de peixes.

A mãe e o pai da menina foram imediatamente até Hakuin para pedir perdão, desculpar-se longamente e recuperar a criança.

Hakuin estava disposto. Ao entregar a criança, tudo o que ele disse foi: "É mesmo?

Xícara de chá

Nan-in, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor universitário que veio perguntar sobre o Zen.

Nan-in serviu chá. Ele encheu a xícara do visitante e ainda continuou a servir.

O professor observou o transbordamento até que não conseguiu mais se conter. "Está cheia demais. Não cabe mais nada!"

"Como esta xícara", disse Nan-in, "tu estás cheio de tuas próprias opiniões e especulações. Como posso lhe mostrar o Zen a menos que tu esvazies primeiro a tua xícara?"

O idiota

Junto com outros camponeses, Nasr Eddin leva o trigo ao moleiro para ser moído. Enquanto os outros conversavam, ele secretamente pegava punhados de grãos do trigo deles para aumentar o seu próprio. Mas ele é pego em flagrante por um dos camponeses, que o repreende duramente:

- Nasr Eddin, você não tem vergonha?

- Vergonha de quê?

- Você está colocando no seu saco trigo o que não lhe pertence!

- É isso mesmo? É bem possível. Eu realmente não sei o que estou fazendo, sou um pouco idiota, ao que parece.

- Se você fosse estúpido, nada o impediria de fazer o contrário...

- Ouça com atenção e não deixe que seu segundo ouvido ouça o que o primeiro ouve: Sou idiota, mas não tão idiota que não reconheça minha própria bolsa.

O varal

- Nasr Eddin, pode me emprestar seu varal? pergunta outro de seus vizinhos. Minha esposa está indo lavar uma roupa grande.

- Você está realmente sem sorte", responde o Hodja sem sequer olhar para ele. Acabei de usá-lo para secar um pouco de farinha.

- Por Alá! Você diz que está secando farinha em um varal? E espera que eu acredite em você?

- Você é simplesmente ignorante. Não sabe que, quando não se quer emprestar o varal, você pode secar qualquer coisa nele?

A ventania

Certa noite, Nasr Eddin decidiu roubar alguns legumes da horta de seu vizinho. Não era a primeira vez, e o vizinho chegou inesperadamente para pegar o Hodja em flagrante.

- Que vergonha, Nasr Eddin! Desta vez, você não poderá alegar que não entra na minha casa à noite!

- Você não está vendo o vento?", responde Nasr Eddin. É por isso que estou em seu jardim: ele me carregou, contra a minha vontade, e me jogou aqui.

-Mas você estava cavando um alho-poró com as duas mãos quando o peguei, não estava?

- Acalme-se! Estou me agarrando ao que posso para não sair voando.

- Mas esses vegetais em sua bolsa, como eles foram parar aí?

- Essa é exatamente a pergunta em que eu estava pensando quando você chegou. Dê-me um pouco de tempo para descobrir.

As vestes

Um dia, Nasr Eddin recebeu um comerciante da distante cidade de Brousse, recomendado por um amigo, que queria expandir seus negócios na região de Akshéhir.

O homem queria ser apresentado aos notáveis locais, então Nasr Eddin, que podia ver que o que ele estava vestindo estava desbotado por causa da viagem, ofereceu-se para emprestar-lhe seu melhor terno, e eles saíram em uma excursão, começando pelo cadi.

- Honorável cadi, começou Nasr Eddin ao entrar na sala do juiz, deixe-me apresentá-lo a Tarik, um homem que tenho o prazer de ter entre meus amigos. A nobreza de suas maneiras e seu conhecimento de comércio são admiráveis, mas o terno que ele usa é meu.

Assim que eles saíram, o comerciante deixou transparecer seu mau humor:

- Pela barba do profeta! Que incongruência! Dizer que o terno que estou usando é seu! O cadi não pôde deixar de pensar que eu era pobre demais para me vestir adequadamente. Você causou um grande dano aos meus negócios!

- Desculpe-me, respondeu Nasr Eddin, não tive a intenção de magoá-lo. Agora vamos falar com o imã. Você verá que vou reparar o meu erro.

Da soleira da porta da casa do imã, Nasr Eddin chama:

- Reverenciado Imã, tenho o prazer de lhe apresentar Tarik, um homem de grande piedade, que Alá o abençoe! Quanto à roupa que ele está usando, é dele mesmo.

Uma vez do lado de fora, o comerciante começou a repreender seu companheiro:

- Ó Nasr Eddin, ó incrédulo! Onde está sua cabeça sob esse turbante? Esse homem santo deve ter me confundido com um pavão e pensou que eu queria que ele notasse minha roupa. Primeiro você me arruinou e agora está me fazendo de bobo!

- Você está certo, desculpou-se Nasr Eddin, eu queria compensar meu erro e o tornei pior.

- Ouça com atenção, Nasr Eddin: da próxima vez que me visitar, não diga uma palavra sobre as roupas que estou usando, entendeu? Meus lábios estão selados!

Então os dois homens foram ver o governante:

- Deixe-me apresentá-lo a Tarik, um homem de grande renome", diz Nasr Eddin no início. Quanto ao vestido que ele usa, não vou falar sobre isso, ele mesmo me pediu para não dizer nada.

Mesma força...

Nasr Eddin gosta de ir ao tchaihane, onde pode conversar com amigos e conhecidos enquanto toma seu chá.

- Você não vai acreditar, disse ele certa noite, mas à medida que envelheço, mantenho a mesma força de quando era jovem. Eu mesmo não consigo acreditar nisso.

- Isso não é possível, Nasr Eddin, você está se gabando. Desde quando um velho magricela mostra o vigor de um jovem garanhão?

- Essa é a verdade.

- Prove-o.

- Aqui: você conhece a enorme pedra de moinho que tenho atrás da minha casa? Bem, quando eu tinha vinte anos, não conseguia me livrar dela.

- E daí?

- Bem, agora também não consigo me livrar dela, com certeza!