“Este hábito moderno de ‘viver e morrer’ é um grande incômodo!”, suspirou a coruja, estendendo as asas com cansaço.
“Eu até que gosto disso”, respondeu o coelho.
“Queres dizer, suponho, que pensas que gostas.”
“Então, como poderia não gostar?”
“O pensar é apenas uma noção da mente dividida”, disse a coruja. “Não há nada de factual nisso, absolutamente nada.”
“Mas eu sou feliz”, insistiu o coelho.
“Disparate, disparate”, grasnou a coruja, “não há ‘tu’ que possa ser algo, nem qualquer ‘coisa’ que possa sê-lo para ti!”
“Que pena”, suspirou o coelho, “sempre pensei que houvesse.”
“Pensar! Pensar!!”, lamentou a coruja, girando a cabeça em noventa graus. “Um hábito inútil, universalmente condenado pelos Sábios.”
“E o que são, então, esses Sábios, que não se dão ao trabalho de pensar, e como é que ‘sabem’?”
“Aqueles que apercebem”, explicou secamente a coruja, “apresentam uma extensão dimensional suplementar.”
“E o que seria isso?”
“Uma direção adicional de medida — de visão”, explicou a coruja.
“E como isso funciona?”, perguntou o coelho.
“A conceitualização é então excluída”, cortou a coruja; “a mente dividida torna-se inteira.”
“E qual é o efeito disso?”, indagou o coelho.
“Eles veem diretamente, é claro”, respondeu a coruja, girando de volta a cabeça e fixando o coelho com seus olhos luminosos, “e então, naturalmente, ‘eles’ estão ausentes.”
“E daí?”, murmurou o coelho, inquieto. “Quero dizer, o que está presente?”
“Presente?”, perguntou a coruja. “Ora, tudo, evidentemente!”
“Tudo?”, exclamou o coelho, saltando surpreso. “Como pode ser isso?”
“Na minha ausência conceitual”, piou a coruja, “todos e tudo são bem-vindos AQUI, onde EU SOU — e onde estarão absolutamente em casa!”