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Estórias

Amor

“Por que comes tanta grama?”, perguntou a coruja. “A grama é um emético.”
“Considero-a digestiva”, respondeu o coelho, “e adoro-a.”
“Por que não comes caracóis?”, continuou a coruja.
“Porque os detesto”, respondeu o coelho.
“Impossível!”, exclamou a coruja. “Quem haveria para amar o quê, e o que haveria para ser odiado por quem? As duas palavras mais tolas de nossa língua!”
“Qualquer dois de nós”, sugeriu o coelho, “tu e eu, por exemplo.”
“Absurdo”, replicou a coruja, “como poderíamos ser dois?”
“Por que não?”, indagou o coelho.
“Porque eu sou, e tu não és”, concluiu a coruja.
“Mas no espaço-tempo…”, sugeriu o coelho.
“Em tempo algum”, cortou a coruja, com um estalido forte do bico e um mergulho quase vertical.
“Talvez”, disse o coelho, enquanto mergulhava em sua toca, “mas não neste!”

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