VIDE: Graus da Manifestação; Ordem; Caos; Cadeia do Ser; Criação; Espelho; Imagem; Semelhança; Sonho e Realidade
René Guénon: Jean-Marc Vivenza, Dictionnaire René Guénon
Manifestação formal. Manifestação grosseira. Manifestação informal. Manifestação sutil. Manifestação universal. Se se quer tentar compreender qual a natureza da Manifestação, segundo a Metafísica integral, importa que o que se apresenta do manifestado, quer dizer o conjunto de coisas visíveis que constituem em toda sua amplitude o mundo criado, participa inevitavelmente e irremediavelmente de um processo de determinação. Ora «toda determinação é uma limitação, logo uma negação». Esta primeira verdade é, em realidade, a Verdade essencial, fundamental, concernente ao caráter próprio e íntimo da Manifestação.
Se o Infinito exprime a negação de todo limite, «e logo equivale à afirmação total e absoluta», a Manifestação, ela exprime a afirmação do relativo e do limitado, e logo é equivalente à negação do Infinito. A este respeito, se o Ser é o Princípio da Manifestação universal, em sendo distinto dela, lhe conferindo sua presença concreta, a determinando ontologicamente, no entanto, é enquanto «não-manifestado» que está na raiz do «manifestado» (vyakta) que não é senão um efeito (karya), uma causa segunda. «Todo o manifestado com seus diversos modos possíveis, precisa Guénon, pode ser considerado como reentrando no não-manifestado, do qual jamais se distinguiu senão de uma maneira contingente e transitória: a Causa Primeira é ao mesmo tempo a Causa Final, e o fim é necessariamente idêntico ao princípio. A Manifestação (samsara) não é portanto senão uma forma contingente não substancial, não tendo seu ser senão de um Princípio exterior a ela. Deve-se admitir que ela não mantém sua existência apenas sob a dominação de uma determinação essencial. A Manifestação, por este fato, está sob a dependência da medida, pois esta última é uma «designação» universal «necessariamente implicada por toda manifestação, em qualquer ordem e sob qualquer modo que seja; esta determinação é naturalmente conforme às condições de cada estado de existência, e mesmo, em certos casos, ela se identifica a estas condições elas mesmas. Esta relação ao quantitativo da Manifestação, simboliza bem seu aspecto mais singular, e isto é verdade quanto a este ponto, que a medida é a determinação mesma que faz que «os mundos com tudo que contêm, são realizados ou atualizados como tais, posto que ela não faz senão uma unidade com o processo mesmo da manifestação».
Como o vemos, a Manifestação se caracteriza pelo quantitativo, a relatividade e a contingência. Mas se a Manifestação está evidentemente marcada por estas determinações que nos fazem vê-la como uma criação, importa compreender igualmente, que a Manifestação pressupões necessariamente certas possibilidades capazes de se manifestar; ela procede, diz Guénon, da Possibilidade Total que compreender todas as possibilidades e «que não faz senão um só com o Princípio mesmo». Assim, para que se produza a aparição de um dado existencial, Purusha, que se pode traduzir por essência, deve entrar originalmente em relação com o Princípio, quer dizer com Prakriti, a substância universal indiferenciada. Logo pode-se afirmar que é a união estes dois princípios complementares, explica Guénon, que produz o desenvolvimento integral do estado individual humano, e isso em relação a cada indivíduo; e assim é para todos os estados manifestados do ser, outros que este estado humano...» Logo pode-se afirmar que a Manifestação, enquanto tal, é «rigorosamente nula em relação ao Infinito», com efeito sua ligação de dependência face ao princípio a coloca em uma situação de indigência ontológica radical. Ela não deve ser vista, no plano metafísico, senão como «um simples suporte para se elevar ao Conhecimento Transcendente, escreve Guénon, ou ainda, se se toma as coisas em sentido inverso, a título de aplicação da Verdade principial; em todo caso, não se deve ver, no que se relata, nada mais que uma espécie de «ilustração destinada a tornar mais fácil a compreensão do «não-manifestado» [...]»
De um ponto de vista mais preciso, o conjunto do que constitui o que se denomina comumente a «Manifestação», pode se decompor em dois modos principais que são:
a) o modo «Universal»
b) o modo «Individual»
Do modo Universal destacam-se a Não-Manifestação e a Manifestação Informal, do modo individual depende a Manifestação Formal composta dos «estados sutis» e dos «estados grosseiros», que são ainda denominados: «Manifestação Sutil» e «Manifestação Grosseira». A este respeito, Guénon nos diz, que «a Manifestação informal é ainda principial, em um sentido relativo, em relação à manifestação formal, e assim ela estabelece uma ligação entre esta e seu princípio superior não-manifestado, que é a princípio o princípio comum destas duas ordens de manifestação». Todavia, este «Princípio Comum» não intervém senão enquanto fundamento invisível, ele subentende todos as formas de Manifestação, ele é a base e a origem dela. Diz-se a princípio, que é Mula-Prakriti (a Natureza Primordial) que denomina em árabe El-Fitrah, que é a raiz de todas as manifestações.
Designa-se a ela também como Pradhana, aquela que é existente antes de todas as coisas, possuindo em potência o conjunto das determinações múltiplas; aquela que o Puranas identificam com Maya, a «ilusão cósmica», a «mãe das formas». Vemos portanto que a dependência, que aparece de uma maneira tão evidente no coração da Manifestação, é ao mesmo tempo, e sob o mesmo e idêntico aspecto, uma participação, o que leva Guénon a escrever: «Na medida do que têm de realidade em nós, os seres participam do Princípio, posto que toda realidade está nele; não é menos verdadeiro que estes seres, enquanto contingentes e limitados, assim que a Manifestação integral de fazem parte, são nulas em relação ao Princípio (...), mas há nesta participação como uma ligação com este, logo uma ligação entre o manifestado e o não-manifestado, que permite aos seres superar a condição relativa inerente à Manifestação.
Não esqueçamos enfim esta indicação carregada de sentido de Guénon, que convém meditar longa e profundamente: «O que é o primeiro e o maior na ordem principial é, pelo menos em aparência o último ou o menor na ordem da Manifestação».
Forma e substância nas religiões
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O estatuto da Manifestação universal como um mistério de « emanação », requerendo uma compreensão que preserve a transcendência do Princípio.
- A crítica ao emanacionismo filosófico-científico e deísta que, ao ignorar a transcendência, reduz o Princípio à Manifestação, vendo no cosmos um « fragmento » de Deus.
- A rejeição da noção de que o Princípio, ao se manifestar, seria modificado, fornecendo algo de sua Substância e assim se empobrecendo em benefício de sua criação.
- A sustentação da linguagem da « emanação » e « reabsorção » desde que compreendida corretamente, acrescentando que, para o próprio Princípio, não há manifestação nem emanação de espécie alguma.
- A existência, do ponto de vista do Princípio, apenas da possibilidade permanente e autossuficiente daquilo que, para as criaturas, aparece como uma « saída » do Princípio ou uma creatio ex nihilo.
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A identificação do que reside entre « O Primeiro » e « O Derradeiro » como sendo tanto o mundo quanto o próprio Deus.
- A compreensão da Manifestação como uma « mensagem d'Ele por Ele mesmo a Ele mesmo », conforme a expressão dos sufis.
- A identificação de Deus, enquanto « se situando » ou « se projetando » entre « Deus-Primeiro » e « Deus-Derradeiro », como sendo « O Aparente ».
- A conceituação da Manifestação não como uma substância separada, mas como um desdobramento ou revelação ilusoriamente externa do Princípio divino sempre imutável e virgem.
- O processo de diferenciação, endurecimento, segmentação e esgotamento do Real na sua revelação teofânica, até ao seu refluxo progressivo e interiorizado em direção à sua fonte.
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A identificação da natureza verdadeira e imutável do Princípio com « O Interno ».
- A perspectiva a partir deste Centro, a qual nega a existência de um « Aparente » real, ou o reconhece apenas como uma possibilidade essencial incluída no Princípio.
- A compreensão de que o Princípio só é « Interno » segundo uma perspectiva ainda contingente, condicionada pela ilusória exterioridade.
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A correspondência analógica entre « O Derradeiro » e « O Interno ».
- A ação de retornar toda a coisa a Si mesmo como mais diretamente conforme à Essência do que o ato criador, que comporta um afastamento.
- A identificação do objetivo no processo de manifestação com a própria manifestação, e no processo de reintegração ou apocatástase com o Princípio.
- A analogia entre o retorno a Deus e a interioridade de Deus.
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A distinção entre as vontades de « O Primeiro » e « O Derradeiro ».
- A projeção de « O Primeiro » para o nada existencial devido ao desejo de ser conhecido distintamente, no « outro ».
- O foco de « O Derradeiro » na sua realidade essencial e indiferenciada, ou na sua vitória sobre o desequilíbrio.
- O desejo de Al-Awwal de se ver no « outro » e, consequentemente, de ter o « outro ».
- O desejo de Al-Akhir de ver essa visão « em si mesmo » e, consequentemente, de se ver a « si mesmo ».
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O estabelecimento de uma relação analógica, mas não idêntica, entre o par « O Primeiro / O Derradeiro » e outras dualidades.
- A analogia com o relacionamento que vai do Paraíso terrestre à Jerusalém celeste, ou da criação à redenção.
- A compreensão de « O Primeiro » e « O Derradeiro » como duas fases divinas, e de « O Aparente » e « O Interno » como dois aspectos ou polos divinos.
- O aparecimento destas polaridades apenas em virtude do véu que separa a criatura da inalterável Unidade de Allah.
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A resumo e complemento da exposição através das manifestações concretas dos Nomes Divinos na experiência humana e cósmica.
- A manifestação de « O Primeiro » para o homem através da sua própria existência e nascimento, da existência do mundo e da criação, e do desdobramento de Maya.
- A presença de « O Derradeiro » na consciência humana pela certeza da morte, pela evidência do Juízo Final e pela noção metafísica da apocatástase.
- A relação de antítese entre a morte e o nascimento, entre o Juízo e a criação, e entre a apocatástase e Maya.
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A manifestação de « O Aparente » pela existência atual do homem e do mundo, e por Maya entendida como exteriorização universal.
- A compreensão de Maya, sob este aspecto, como sendo ela própria tudo o que comporta, o véu no qual são tecidos todos os fenômenos.
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A manifestação de « O Interno » no microcosmo pelo Intelecto, no macrocosmo pelo Ser puro e, para a Realidade total, pelo Si mesmo.
- O velamento do Intelecto pelo ego, do Ser pelo mundo, e do Supra-Ser ou Si mesmo por Maya.
- O Ser como « O Interno » para o universo manifestado, mas como « O Aparente » quando considerado em relação ao Si mesmo.
- A identificação do Si mesmo como o « Princípio do Princípio » e o « Interior do Interior ».