VIDE: GN 1,2
Segundo Michel Tardieu em seu estudo dos mitos gnósticos, o caos (gr. to chaos), para os gregos, era primeiramente topos, espaço vazio, berço de onde tudo emergiu. Guarda a matéria de onde surgiram o corpo e alma do mundo, o chaos de Hesíodo é igual a chora de Platão e também a hyle de Aristóteles; assim é "a natureza que recebe todos os corpos" (Timeu), "o receptáculo universal" (Timeu). Segundo Aristóteles, Hesíodo pensou corretamente quando pôs no princípio o caos..., como se precisasse existir primeiramente um lugar para os seres: é que ele pensava, com todo mundo, que toda coisa está em alguma parte e em um lugar (Física).
Mas o caos é também aion ilimitado e discórdia, o abismo do tempo infinito, lugar do esquecimento (lethe). No Hermetismo o caos é a hyle primeira e indeterminada. Informe o chaos é apeiron. Nas Homilias Pseudo-Clementinas é dito que o chaos é uma mistura confusa de elementos ainda sem ordem.
Para os entalhadores de pedra e para os construtores que empregavam os produtos desse trabalho, a pedra bruta representava a "matéria prima" indiferenciada, ou o "caos" com todas as suas correspondências, tanto microcósmicas quanto macrocósmicas, enquanto que a pedra completamente talhada em todas as suas faces representava, ao contrário, o acabamento ou a perfeição da obra. Aí está a explicação da diferença que existe entre o significado simbólico da pedra bruta no caso dos monumentos megalíticos e dos altares primitivos, e o significado da pedra bruta na maçonaria. Acrescentaremos, sem poder aqui insistir mais sobre o assunto, que essa diferença corresponde ao duplo aspecto da matéria-prima, segundo seja vista como a "Virgem universal" ou como o "caos" que é a origem de toda manifestação. Na tradição hindu, de igual modo, Prakriti é ao mesmo tempo a pura potencialidade, que está literalmente debaixo de toda existência, e também um aspecto de Shakti, ou seja, a "Mãe divina". Deve ficar bem entendido que esses dois pontos de vista não são de modo algum excludentes entre si, o que aliás justifica a coexistência de altares de pedras brutas com edifícios de pedras talhadas. Essas considerações mostrarão ainda que, como em todas as outras coisas, para a interpretação dos símbolos é preciso sempre saber situar cada elemento em seu exato lugar, sem o que se corre o risco de cair em erros dos mais grosseiros. [René Guénon: Os Dois Caos; Símbolos da ciência sagrada]
Al pasar del consciente diferenciable al no diferenciado se produce un oscurecimiento que representa el caos, es decir, el estado de la materia que ha perdido su pureza original, pero cuyas posibilidades diferenciables no están clara y ordenadamente definidas. Es el estado de la «materia bruta». Pero si el consciente sigue ahondando, descubrirá el espejo del fondo del alma, que, si bien no puede captarse en su realidad «material», manifiesta su naturaleza reflejando límpidamente la luz del espíritu. El caos del alma era como el plomo; el espejo del fondo del alma es como la plata; también puede compararse con una fuente clara. Es el manantial de la leyenda, de cuyas profundidades mana el agua de vida, semejante al azogue. [Titus Burckhardt: Burckhardt Alquimia]
Como princípio cosmogônico, Kháos é a potência que instaura a procriação por cissiparidade, é um princípio de cissura e de separação, e como tal opõe-se a Éros, que, como princípio cosmogônico, instaura a procriação por união de dois elementos diversos e separados, masculino e feminino. Ambos, Kháos e Éros, estão lado a lado de Terra de amplo seio, de todos sede inabalável sempre. A rigor, Kháos e Éros, enquanto potências cosmogônicas, são paredros de Terra, que, sim, é o assento sempre firme, — o Fundamento Originário. Kháos e Éros, portanto, ladeiam a Terra-Ser como puros princípios ativos e energéticos, de naturezas opostas e contrapostas, como paredros (par-édroí) deste Assento Primordial (pánton hédos). Éros, princípio da união, é estéril, dele mesmo não surge nenhum rebento, ele de si mesmo nada produz. Kháos, princípio de divisão e separação, é prolífico e tem através de sua filha Noite numerosos descendentes — todos eles, incorpóreos como ele, são como ele puros princípios ativos e energéticos, sem substância física. Que o princípio da união seja estéril e o da divisão e separação prolífico — eis algo muito congruente com a sensibilidade e visão gregas. (Excertos de Teogonia, a Origem dos Deuses) [JAA Torrano]
Para Zhuangzi, la faceta «objetiva» correspondiente, en esta fase, es la más importante, desde el punto de vista ontológico, ya que se trata de la fase de «caotización». A la Luz tenue y difusa de la consciencia del contemplativo, las «diez mil cosas» surgen como entre la niebla. Parecen confusas e indistintas porque no hay «límites», o sea «esencias» o «quididades» definidas que las diferencien unas de otras.
Digo que es la fase más importante, desde el punto de vista ontológico, para Zhuangzi porque la fase superior, la de lo Absoluto en su absolutidad, se encuentra fuera del alcance del pensamiento y del razonamiento, mientras que la fase inferior es la de las «esencias» o «quididades», donde todas las cosas aparecen claramente separadas unas de otras por sus «límites». Y Zhuangzi lucha contra la idea de que ésta sea la fase que representa la Realidad como es verdaderamente.
Vemos así que el estado de «caotización», en que todas las cosas son contempladas en su «indiferenciación» original, o sea más allá de sus «esencias», constituye el eje de la metafísica de Zhuangzi. Podríamos llamar a esta metafísica «existencialismo», tomando la palabra «existencia» (existentia) en el mismo sentido que umyud en la metafísica del sistema de Ibn Arabi.
PÁGINAS:
Ibn Arabi: espelho não polido
Ananda Coomaraswamy: KHA
Citações: