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id da página: 8024 Henry Corbin – NO ISLÃ IRANIANO II Henry Corbin

Corbin Islame Iraniano II

Islame Iraniano II – Sohravardi e os platônicos da Pérsia

O livro II é inteiramente dedicado a um outro aspecto também fundamental e característico da filosofia e da espiritualidade do Islã iraniano, aspecto que também se aliará de imediato com o xiismo de muitos pensadores iranianos. É o aspecto que tipifica por excelência o termo ishraq, o qual designa o nascer do sol (aurora consurgens), seu "oriente". Assim como a filosofia do Ishraq, como "teosofia" da "Luz", é a teosofia "oriental", os filósofos ishraqiyun são os filósofos "orientais", no sentido metafísico da palavra "oriente". Eles são também frequentemente designados como os "Platônicos", por oposição aos peripatéticos do Islã. Na origem destes "Platônicos da Pérsia" no Islã, houve a vontade heroica de um jovem pensador genial, originário do noroeste do Irã, Sohrawardi Shihaboddin Yahya Sohrawardi, que viria a morrer em Alepo, na Síria, na idade de trinta e seis anos, como mártir de sua causa (1191). Suas obras enunciam elas mesmas claramente seu propósito: ressuscitar a sabedoria da antiga Pérsia, a filosofia da Luz e das Trevas; de certa forma repatriar na Pérsia islâmica os Magos helenizados, e isso mesmo graças à hermenêutica (o ta'wil) cujos recursos a espiritualidade islâmica lhe oferecia.


Cerca de três séculos antes do grande filósofo bizantino Plethon, a obra do pensador iraniano opera a conjunção dos nomes de Platão e de Zoroastro, como arautos de uma mesma tradição "oriental" remontando a Hermes, o pai dos Sábios. As Ideias platônicas são interpretadas em termos de angelologia zoroastriana. A hermenêutica do ser dá direito a um terceiro mundo cuja ontologia as filosofias do conceito eram impotentes para fundar: entre o "mundo inteligível" e o "mundo sensível" há o mundus imaginalis, um mundo perfeitamente real, não o "imaginário" ao qual estão reduzidas nossas filosofias exotéricas, mas um mundo que se deve designar por um termo próprio: o imaginal. Sohrawardi teve consciência de fundar pela ontologia deste "terceiro mundo" a realidade objetiva das revelações dos profetas, das visões dos místicos, dos eventos da Revelação, e o tema permanecerá presente ao longo dos séculos do pensamento iraniano.

É característico que esta metafísica da Luz identifique a Fonte primordial desta com o que a teosofia zoroastriana designa como xvarnah ou "Luz de Glória". Desta Fonte procedem as hierarquias arcangélicas, cuja estrutura corresponde aqui a uma síntese da angelologia zoroastriana e das hierarquias celestes do neoplatonismo de Proclus. O próprio motivo do Xvarnah oferece ressonâncias e prolongamentos inesgotáveis. Pesquisas anteriores homologaram as formas de manifestação com as do santo Graal em nossas tradições ocidentais. Do mesmo modo o motivo do Graal, da taça mística espelho-do-mundo, figura na epopeia heroica do antigo Irã, e ele está presente na obra de Sohrawardi, onde ele tipifica a passagem da epopeia heroica à epopeia mística que é um fato capital da história cultural do Irã. É esta mesma passagem que se anuncia em um ciclo de breves romances iniciáticos, compostos quase todos em persa, e cuja riqueza dos símbolos permite a Sohrawardi conduzir seu leitor ao termo de seu desejo, melhor ainda que suas grandes obras sistemáticas. O autor insiste especialmente sobre dois romances espirituais, dos quais um tem por contexto a gesta mística iraniana, e dos quais o outro se ordena à gesta gnóstica em geral.

A tradição "oriental" de Sohrawardi permaneceu ativa no Irã até nossos dias; ela teve uma grande influência na Índia na época da reforma religiosa de Xá Akbar.

  • O grande projeto de uma vida
    • A vida e o martírio
    • A ascendência dos Ishraqiyun ou Teósofos orientais
  • A Teosofia "oriental"
    • A sabedoria "hierática"
    • O conhecimento "oriental"
    • A hierarquia dos Espirituais e o "Polo" místico
  • A Luz de Glória mazdeana (Xvarnah) e a angelologia
    • A Luz de Glória como "Fonte oriental"
    • As visões de Kay Khosraw e de Zoroastro
    • As Luzes arcangélicas e as Ideias platônicas
    • As hierarquias das Luzes arcangélicas
    • Salmos ao arcanjo do Sol e à "Natureza Perfeita"
  • A Luz de Glória e o Santo Graal
    • Hermética e mitríaca
    • As formas de manifestação e a linhagem do Xvarnah e do Santo Graal
    • Kay Khosraw e Parsifal
    • A finalidade "oriental" como realização da epopeia heroica em epopeia mística
    • O "relato do Graal" de um místico khosrawani
  • O "Relato do Arcanjo purpurado" e a gesta mística iraniana
    • Finalidade do relato
    • O prólogo do Relato
    • Os sete temas do Relato
    • Do nascimento de Zal à morte de Esfandyar
    • Tradução do "Relato do Arcanjo purpurado"
  • O "Relato do exílio ocidental" a gesta gnóstica
    • A história do gnóstico
    • Análise do Relato
    • Tradução do "Relato do Exílio ocidental"
    • O gnóstico ao encontro do Anjo: Quem é o Anjo pessoal?
    • A "Natureza Perfeita" como noção hermetista do Anjo pessoal
    • Variações gnósticas sobre o tema do encontro
      • Evangelhos e Atos gnósticos
      • Gnose mandeana
      • Liturgia mitríaca
      • Alquimia
      • Gnose maniqueia e mazdeísmo
      • Swedenborgiana
      • O segredo da "Cidade pessoal"
  • A Tradição "oriental"
    • O legado espiritual sobre a "via real"
    • A posteridade "oriental" no Irã e na Índia
    • A religião do Eros transfigurado


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