Islame Iraniano II – Sohravardi e os platônicos da Pérsia
Cerca de três séculos antes do grande filósofo bizantino Plethon, a obra do pensador iraniano opera a conjunção dos nomes de Platão e de Zoroastro, como arautos de uma mesma tradição "oriental" remontando a Hermes, o pai dos Sábios. As Ideias platônicas são interpretadas em termos de angelologia zoroastriana. A hermenêutica do ser dá direito a um terceiro mundo cuja ontologia as filosofias do conceito eram impotentes para fundar: entre o "mundo inteligível" e o "mundo sensível" há o mundus imaginalis, um mundo perfeitamente real, não o "imaginário" ao qual estão reduzidas nossas filosofias exotéricas, mas um mundo que se deve designar por um termo próprio: o imaginal. Sohrawardi teve consciência de fundar pela ontologia deste "terceiro mundo" a realidade objetiva das revelações dos profetas, das visões dos místicos, dos eventos da Revelação, e o tema permanecerá presente ao longo dos séculos do pensamento iraniano.
É característico que esta metafísica da Luz identifique a Fonte primordial desta com o que a teosofia zoroastriana designa como xvarnah ou "Luz de Glória". Desta Fonte procedem as hierarquias arcangélicas, cuja estrutura corresponde aqui a uma síntese da angelologia zoroastriana e das hierarquias celestes do neoplatonismo de Proclus. O próprio motivo do Xvarnah oferece ressonâncias e prolongamentos inesgotáveis. Pesquisas anteriores homologaram as formas de manifestação com as do santo Graal em nossas tradições ocidentais. Do mesmo modo o motivo do Graal, da taça mística espelho-do-mundo, figura na epopeia heroica do antigo Irã, e ele está presente na obra de Sohrawardi, onde ele tipifica a passagem da epopeia heroica à epopeia mística que é um fato capital da história cultural do Irã. É esta mesma passagem que se anuncia em um ciclo de breves romances iniciáticos, compostos quase todos em persa, e cuja riqueza dos símbolos permite a Sohrawardi conduzir seu leitor ao termo de seu desejo, melhor ainda que suas grandes obras sistemáticas. O autor insiste especialmente sobre dois romances espirituais, dos quais um tem por contexto a gesta mística iraniana, e dos quais o outro se ordena à gesta gnóstica em geral.
A tradição "oriental" de Sohrawardi permaneceu ativa no Irã até nossos dias; ela teve uma grande influência na Índia na época da reforma religiosa de Xá Akbar.
- O grande projeto de uma vida
- A vida e o martírio
- A ascendência dos Ishraqiyun ou Teósofos orientais
- A Teosofia "oriental"
- A sabedoria "hierática"
- O conhecimento "oriental"
- A hierarquia dos Espirituais e o "Polo" místico
- A Luz de Glória mazdeana (Xvarnah) e a angelologia
- A Luz de Glória como "Fonte oriental"
- As visões de Kay Khosraw e de Zoroastro
- As Luzes arcangélicas e as Ideias platônicas
- As hierarquias das Luzes arcangélicas
- Salmos ao arcanjo do Sol e à "Natureza Perfeita"
- A Luz de Glória e o Santo Graal
- Hermética e mitríaca
- As formas de manifestação e a linhagem do Xvarnah e do Santo Graal
- Kay Khosraw e Parsifal
- A finalidade "oriental" como realização da epopeia heroica em epopeia mística
- O "relato do Graal" de um místico khosrawani
- O "Relato do Arcanjo purpurado" e a gesta mística iraniana
- Finalidade do relato
- O prólogo do Relato
- Os sete temas do Relato
- Do nascimento de Zal à morte de Esfandyar
- Tradução do "Relato do Arcanjo purpurado"
- O "Relato do exílio ocidental" a gesta gnóstica
- A história do gnóstico
- Análise do Relato
- Tradução do "Relato do Exílio ocidental"
- O gnóstico ao encontro do Anjo: Quem é o Anjo pessoal?
- A "Natureza Perfeita" como noção hermetista do Anjo pessoal
- Variações gnósticas sobre o tema do encontro
- Evangelhos e Atos gnósticos
- Gnose mandeana
- Liturgia mitríaca
- Alquimia
- Gnose maniqueia e mazdeísmo
- Swedenborgiana
- O segredo da "Cidade pessoal"
- A Tradição "oriental"
- O legado espiritual sobre a "via real"
- A posteridade "oriental" no Irã e na Índia
- A religião do Eros transfigurado
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