SOPHIA
O significado original do termo está associado ao artesanato (Homero; Hesíodo). Em Heródoto, um tipo teorético de preeminência, em Pitágoras também com o sophistes, considerado por Heráclito mais uma polimatia, uma instrução extensa e variada.
Em Platão começa a distinção entre o sophistes — Sofista — e uma verdadeira Sophia, objeto da philosophia — Fedro] -, que como a phronesis deve se identificar com o verdadeiro conhecimento — episteme, Teetetos -, um conhecimento dos eide, das formas.
Em Aristóteles é a virtude intelectual mais elevada, distinta da phronesis ou sabedoria prática — Ética a Nicômaco -, também identificada com a metafísica, a prote philosophia — Metafísica -.
O “sábio” vai se tornar o ideal estoico da virtude.
O termo ganhou um uso intensivo na tradição cristã, onde Sophia passa a ser apreciada e referenciada desde os gnósticos até nossos dias — Sofiologia —.
Henry Corbin
Os termos de hikmat e de hokama, se podem ser ser frequentemente traduzidos por «filosofia» e «filósofos», não são, de fato, exatamente traduzidos nem por um nem por outro. «Teologia» e «teólogos» não conviriam adequadamente; hikmat e hokama não se situam sobre o mesmo plano que a teologia escolástica (Kalam) e os escolásticos do Islame (Motakallimun). A hikmat não é também um simples acúmulo da investigação filosófica e da dialética teológica. Hikmat seria melhor traduzido por «sabedoria» (sophia), mas na condição de tomar o termo em sua acepção sofiânica, marcada do estigma da gnose, tal como a evoca o relato da visão extática de Kay Khosraw, não simplesmente, como acontece frequentemente em francês, para designar uma certa atitude ou uma experiência da vida. Além disto, o adjetivo sapiencial (derivado de sapientia, sabedoria) não faz mais sentir sua origem (sapere, saborear, desfrutar, experimentar, o dhawq) É que de fato a obra de pensamento se origina em nossos autores em três fontes, de validade igualmente reconhecida ao seu nível respectivo. Há a tradição (naql) da qual se nutre a teologia; há o intelecto ('aql), órgão da dialética filosófica (aquela do Kalam e aquela da falsafa, transposição em árabe do grego philosophia); há enfim o que se pode designar globalmente como «percepção espiritual» ou «hierognose» (kashf, literalmente «desvelar, descobrir»), fonte dos conhecimentos constituindo a Theosophia (hikmat ilaiya) e a gnose mística ('irfan). Bem entendido, esta última não ignora as duas primeiras; ela as pressupõe, assim como o esotérico (batin) pressupõe o exotérico (zahir). ''Excertos de Islame Iraniano II
Arcângelo Buzzi
Adotando o método socrático, a maiêutica, Platão criou sua obra-prima, a filosofia, que é um conhecer, um dizer o ser na representação, na ideia. Ele, porém, está sempre advertindo que todo saber buscado e cultivado, que toda representação conseguida nos dá a sabedoria e a jovialidade porque melhor descobre o abismo da noite que vivemos. Buscar e amar tal saber, que passe rasteira em todo saber, conduzindo o pensamento à nesciência radical do ser, é a ironia socrática, é a filosofia platônica.