STÉPHANE, Henri. Introduction à l’ésotérisme chrétien I. Paris: Dervy-livres, 1979
Se a "nova religião" é essencialmente o "culto do homem", a antiga religião era essencialmente o "culto de Deus". Evidentemente, a primeira é apenas uma pseudorreligião, uma paródia "satânica" da segunda. Mas "Deus estando morto", Satã está "morto" igualmente. Isso significa que no teatro da existência, e segundo as aparências, eles ambos desapareceram. O homem tem o sentimento de ser entregue a si, de se tornar, graças à Ciência e ao Progresso, senhor de si e do Universo, e que Deus e Satã são invenções de uma outra época, a relegar para o museu das "velharias".
É bastante estranho que a antiga religião que estruturou todas as civilizações anteriores, durante milênios, sob formas evidentemente variadas mas possuindo um fundo metafísico comum, tenha acabado por se desmoronar e não deixar em seu lugar senão uma espécie de monstro. Mas o mais inquietante atualmente é ver os representantes da antiga religião se aliar aos pioneiros da subversão modernista, na esperança quimérica de conciliar os dois; sua ação não pode na realidade senão culminar na destruição total da antiga religião, pois esta é absolutamente incompatível com o "monstro modernista". No entanto, era necessário chegar a isso, em conformidade com as Escrituras (cf. Mateus, cap. XXIV e o Apocalipse).
Apenas o pequeno número dos "eleitos" deve escapar à subversão; é portanto ilusório querer "converter o mundo", e completamente aberrante pretender consegui-lo desnaturando a religião, à maneira dos progressistas. Mas não se poderá compreender em que consiste essa "desnaturação" senão se se começar por recordar os elementos essenciais de toda religião, o que se chamou o fundo metafísico comum, cujo esquecimento ou negação constitui a causa profunda da subversão moderna. Compreender-se-á assim o quanto é ilusório falar do Cristo, da Igreja, da "crise na Igreja" e de todos os problemas do mundo atual, se não se começar por recordar — ou antes por expor para aqueles que são ainda capazes de o compreender — este fundo metafísico, e que se poderia chamar a religio perennis.
Deve ser bem entendido que se tratará somente de questões essenciais e fundamentais sem as quais nenhuma religião, nenhuma Revelação, nenhuma teologia, nenhuma espiritualidade é possível, nem mesmo concebível.
Em primeiro lugar "a existência de Deus" — ou antes sua Realidade — deve aparecer ao homem como uma evidência imediata que não seja de modo algum discutível; qualquer outra atitude conduz infalivelmente ao racionalismo ou ao agnosticismo, sem falar evidentemente do ateísmo que é uma atitude infra-humana, e que não se pode realmente levar em consideração, mesmo se ela é o destino da maioria dos nossos contemporâneos. Querer trazer "provas racionais" da "existência de Deus" é uma concessão ao racionalismo, mesmo se estas provas existem e são racionalmente válidas. Repete-se que é indispensável que "a existência" de Deus seja para o homem uma evidência imediata e indiscutível, sem a qual é inútil ir mais longe.
A segunda questão é então saber qual é "a ideia" que o homem deve fazer de Deus, para que o objeto da evidência precedente não seja vão, ridículo ou falso. Aí ainda, a importância desta questão é tal que uma resposta inadequada ou insuficiente abre a porta a todas as objeções dos racionalistas, quaisquer que eles sejam, e conduz mesmo a atitudes "espirituais" mais ou menos aberrantes, e se dirá mais uma vez que é inútil ir mais longe, enquanto não se tiver examinado esta questão com o maior cuidado.
Conceber Deus como o Mestre absoluto de todas as coisas, como o Grande Relojoeiro que faz a máquina funcionar, ou conceber as criaturas como marionetes cujos cordéis Deus puxa, comporta uma parte de verdade, mas se choca com a objeção maior da liberdade humana, e os filósofos contemporâneos são sensíveis a isso. Se se pretende que uma tal concepção é a do "Deus de temor" do Antigo Testamento, e deve ser completada por aquela do "Deus de Amor" do Novo Testamento, responder-se-á que na realidade se trata de uma falsa concepção do "temor de Deus", e se se objetar que a Escritura declara que "o amor bane o temor", responder-se-á que ela diz também que "o temor é o começo da Sabedoria". Mas estas antinomias têm finalmente um resultado feliz: elas nos obrigam a aprofundar a questão posta e a dar de Deus uma concepção tão exata quanto possível, tanto quanto o permite a insuficiência da linguagem humana.
Deus deve ser concebido ao mesmo tempo como o Infinito, não tendo nenhuma limitação de nenhuma espécie, e como o Todo contendo em Si todas as possibilidades criaturais, pois se uma delas estivesse fora dele, ela o limitaria de alguma forma, e ele não seria Infinito. Em contrapartida ele não está contido em nenhuma delas, nem em seu conjunto, o que exclui todo panteísmo e todo imanentismo. Esta afirmação exprime a Transcendência divina em relação a tudo o que é suscetível de ser criado, ou seja, de estar aparentemente fora de Deus, mas que, na realidade, não cessa de permanecer nele. O que constitui a essência verdadeira de todos os seres, é portanto o conjunto das possibilidades permanentes e eternas que lhes correspondem in divinis e que constituem o Todo ou a Possibilidade Universal. Pode-se dizer também que a multiplicidade indefinida dos seres está contida principialmente na Unidade da Essência divina, sem que esta, em razão de sua transcendência, seja de modo algum afetada.
É preciso bem compreender que se trata para as criaturas de um "estado principial" in divinis, estado permanente e incondicionado, liberto de todas as condições de existência, quaisquer que elas sejam, como o tempo ou o espaço por exemplo, e que é impróprio falar de "preexistência" das criaturas em Deus; as criaturas como tais "não existem" em Deus, mas elas estão nele a título de "puras possibilidades", ou, se se preferir, de arquétipos permanentes ou de essências imutáveis, e é a este título igualmente que Deus as conhece e as ama. Em contrapartida as criaturas como tais "não existem" — fora de Deus — senão em seus próprios planos de existência, constituindo tantos graus ou estados em multiplicidade indefinida, hierarquicamente superpostos e subordinados ao Estado supremo e incondicionado, que é sua realidade principial in divinis.
Concebe-se que esta maneira de ver exclui todo panteísmo e todo imanentismo. Proclamar como alguns pensadores contemporâneos que "Deus está morto", ou que ele perdeu sua "transcendência", que ele se tornou "horizontal" ou que "Deus está morto em Jesus Cristo" é pura e simples paranoia. Sabe-se aliás que este gênero de aberrações está estritamente ligado às concepções evolucionistas ou progressistas, segundo as quais o homem primitivo com a mentalidade infantil "inventa" Deus (ou os deuses) até que, tornado "adulto", ele tome enfim consciência que isso não era senão uma "alienação" da qual ele conseguiu se libertar, e que em definitivo Deus, é ele. Em outros termos nas concepções antigas ou medievais, enfim libertadas de seu "obscurantismo" graças ao "progresso" da "inteligência", Deus não era senão um símbolo do homem, uma sorte de prefiguração daquilo de que o homem moderno, tornado adulto e livre, devia tomar consciência. É quase inútil sublinhar o caráter subversivo deste gênero de teorias marcadas por um "satanismo" pseudointelectual, consciente ou inconsciente, sincero ou hipócrita dependendo dos casos.
Expôs-se como era preciso entender a Transcendência divina e, no seio desta, a realidade não menos transcendente das "possibilidades criaturais". Estas duas palavras não deveriam jamais ser separadas se se quiser apreender, tanto quanto possível, o "mistério da existência": é porque elas são "possibilidades" que as "possibilidades criaturais" permanecem eternamente em Deus, e é porque elas são "criaturais" que elas devem se desdobrar no "plano da existência"; é ainda equivalente dizer que a Possibilidade Universal comporta possibilidades que devem se manifestar no domínio da Existência. Teologicamente, dir-se-á que esta constitui a "Glória extrínseca" de Deus, a "Glória intrínseca" (Glória) residindo no Mistério trinitário; em todas estas perspectivas, é a Transcendência que é afirmada, que nunca é perdida de vista, à qual tudo é remetido, e que é o Alfa e o Omega.
O caráter de "Glória extrínseca" confere no entanto à Existência o aspecto de ilusão ou de "Jogo divino" que os hindus chamam maya; aí ainda pensa-se que é indispensável não separar estas duas palavras: "Glória extrínseca". Sua associação sublinha o laço permanente da manifestação com o Princípio, ao mesmo tempo que o caráter efêmero, transitório e contingente do mundo manifestado como tal. Evidentemente este caráter, "ilusório" em relação ao Princípio, não retira nada à realidade relativa do mundo manifestado em seu próprio plano. Acontece mesmo, em um período de obscurecimento e de materialismo como o nosso, que a grande maioria dos homens considera o mundo que os cerca como o único real, e o único digno de interesse; é então que a antiga religião desaparece em favor da nova, da qual se falou suficientemente.
Pensa-se que as considerações precedentes bastam para caracterizar o que se chamou o "fundo metafísico" comum a todas as formas de religião, e sem o qual não há mais que as "pseudorreligiões", ou o ateísmo puro e simples que não nos interessa. Em particular, acentuou-se a Transcendência divina que todas as variedades de imanentismos negam. Resta então um ponto a precisar: como é preciso entender a "Imanência divina" tal como ela aparece em certos textos? Pensa-se que, longe de se opor à Transcendência, ela é como uma consequência ou uma implicação desta. Se se retém apenas a Transcendência, o mundo parece de certa forma abandonado a si por uma Divindade que se desinteressa dele; ao contrário a Imanência divina assegura as "bases" deste mundo, sem que a Essência divina dependa de modo algum dele, e isso precisamente em razão de sua Transcendência. É importante portanto não separar Transcendência e Imanência, e mesmo subordinar esta à Transcendência, a fim de evitar todo "imanentismo", que conduz finalmente ao ateísmo. Sinala-se enfim que a Imanência divina serve de certa forma de "mediador natural" entre a Transcendência e o mundo, ou ainda de substratum sobre o qual vem enxertar-se o "sobrenatural", mas não se pode desenvolver esta questão em poucas linhas. Termina-se dizendo que do ponto de vista da realização espiritual, ou mesmo do ponto de vista simplesmente psicológico, é a consideração da Imanência divina que "toca" mais e diretamente o "coração do homem" e o "centro do Ser".