VIDE: ALMA; PNEUMA; SOPRO E SOPROS
Ananda Coomaraswamy: SENHOR DOS SOPROS; PNEUMATOLOGIA
Roberto Pla: Evangelho de Tomé - Logion 25
Há que se agregar que a qualidade de “vivente” incorporada ao Ser espiritual mediante o alento insuflado, é uma contingência própria da temporalidade consubstancial da região intermédia, a esfera psíquica, além de sê-lo também para a região terrena, física; mas tal qualidade resulta desnecessária na esfera do espírito, do homem “em si”, pois a luz superior e a Vida eterna são coexistentes e ambas alheias ao tempo que rege o impulso do “vivente”, tanto para viver como para morrer.
De fato, o alento ou sopro que na Escritura se denomina “nefes” é verdadeiramente vida vinculada a algo que vive graças à “nefes”, e este é o sentido mais objetivo que a ideia de “nefes” comporta. Mas com isto não se esgota à ação de “nefes”, pois sua atividade se manifesta especialmente como uma ação individualizante de índole instintiva, que vai unida à força do desejo, à avidez, ao temor, à fome e a todos os fenômenos de inter-relação orgânica do corpo com a psique. Neste sentido está justificado dizer que “nefes” é alma, mas somente enquanto é movimento que no interior levanta por sua vez respostas de caráter psíquico, geralmente de signo agitado. Na escritura se pode representar a ação de “nefes” como o encrespamento das águas turbulentas, de acordo com a equivalência testamentária: águas = alma. Estas águas ascendem ao pescoço e afogam quando sua ação é muito intensa, até o ponto de interromper o livre curso do alento (nefes) e destruir a vida corporal.
- É fácil comprovar no AT que o corpo físico, seja do animal (nefes behemah), ou do homem (nefes adam), se converte em um cadáver, uma forma vazia, quando nefes o abandona e não transita por ele.
Mas em todos os casos tem “nefes” um sentido inconfundivelmente objetivo, posto que em nenhuma ocasião é possível considerar a identidade “nefes” = Ser. Assim resulta lógico dizer: “ainda tenho toda a nefes (vida-alma) em mim” (2Sam 1,9), ou melhor, (Deus) “tem em sua mão a nefes (alma) de todo ser vivente” (Jó 12,10).
Como é fácil comprovar, em nenhum caso se produz na Escritura uma referência à alma (nefes) na qual esta não possua manifestamente uma significação objetiva com respeito ao Ser, o qual, em virtude disso aparece sempre como sujeito de sua própria alma. Não pode ser de outra maneira, posto que as simples locuções “minha alma, tua alma”, determinam como sujeito ao possuidor da alma (nefes), da qual, o homem “em si” é a única essência, essa essência da qual, tal como apontavam os naassenos, está privada de alma.