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id da página: 5891 Schuon – Forma e substância nas religiões – As Cinco Presenças Divinas Frithjof Schuon

Schuon Cinco Praesentiae Divinae

SCHUON, Frithjof. Forme et substance dans les religions. Paris: Dervy-Livres, 1975

  • A perspectiva cósmica e principial sobre a manifestação e o Princípio divino.

    • Do ponto de vista do mundo, o Princípio divino está oculto atrás de envoltórios, sendo o primeiro a matéria, que aparece como a camada mais exterior, a carapaça ou a casca deste Universo invisível.
    • Em realidade, é o Princípio que envolve tudo; o mundo material é apenas um conteúdo ínfimo e eminentemente contingente desse Universo invisível.
    • Esta dualidade de perspectivas é expressa na linguagem corânica: Deus é "o Interior" ou "o Oculto" e, simultaneamente, "o Vasto", "Aquele que contém" ou "Aquele que circunda".
  • Os graus de realidade contidos no Princípio divino, segundo uma síntese de terminologias.

    • Enumeração dos cinco graus em sentido ascendente:
      • O estado grosseiro ou material, também qualificável como corporal ou sensorial.
      • O estado sutil ou anímico.
      • A manifestação informal ou supraformal, o mundo paradisíaco ou angélico.
      • O Ser, que é o Princípio "qualificado", "autodeterminado" e ontológico, paradoxalmente designado como "Absoluto relativo" ou "extrínseco".
      • O Não-Ser ou Super-Ser, que é o Princípio "não qualificado" e "não determinado", representando o "Absoluto puro" ou "intrínseco".
    • A estrutura hierárquica da manifestação e da Relatividade:
      • Os estados material e anímico constituem juntos a manifestação formal.
      • A manifestação formal e a manifestação supraformal ou angélica constituem juntos a Manifestação propriamente dita.
      • O conjunto da Manifestação e do Ser é o domínio da Relatividade, de Maya.
  • O início da Relatividade no plano do Princípio e a relação entre o Ser e o Super-Ser.

    • A Relatividade começa já no plano do Princípio, pois é ela que separa o Ser do Super-Ser, permitindo o uso provisório da expressão "Absoluto relativo".
    • O Princípio ontológico funciona como Absoluto em relação ao que cria e governa, mas é relativo em relação ao princípio supraontológico e ao Intelecto que percebe esta relatividade.
    • A impossibilidade de superar intelectualmente o grau do Ser sem a graça do próprio Ser; não há metafísica eficaz sem o auxílio do Céu.
    • A conciliação de perspectivas aparentemente opostas sobre a separação ou não-separação do Intelecto em relação a Deus.
    • A reciprocidade entre o Princípio e a Manifestação: se a Relatividade "usurpa" um aspecto do Princípio, o Princípio "anexa" uma parte da Manifestação, nomeadamente o Céu, o domínio dos Paraísos, dos anjos e das almas "reintegradas".
    • A Relatividade é como que "reintegrada" pela participação no Absoluto que é a santidade; em e pelo Ser, Deus faz-Se "um pouco mundo" para que, em e pelo Céu, o mundo possa ser "um pouco Deus", em virtude da identidade metafísica entre o Princípio e a Manifestação.
  • A doutrina das "cinco Presenças divinas" no Sufismo.

    • Enumeração e definição das cinco Presenças (Hazarat):
      • Nasut: o "domínio do humano" ou do corporal.
      • Malakut: o "domínio da realeza", que domina imediatamente o mundo corporal.
      • Jabarut: o "domínio do poder", que é, macrocosmicamente, o Céu, e microcosmicamente, o intelecto criado ou humano.
      • Lahut: o "domínio do divino", que é o Ser e coincide com o Intelecto incriado, o Logos.
      • Hahut: a "Quididade" ou "Aseidade", ou "Ipseidade", ou seja, o Si infinito.
    • Sínteses possíveis a partir da Manifestação:
      • O estado corporal e o estado anímico formam o domínio "natural".
      • A estes junta-se a manifestação supraformal para constituir o domínio cósmico.
      • O domínio cósmico e o Ser constituem o domínio da Relatividade, de Maya.
      • Todos estes domínios, considerados juntamente com o Si supremo, constituem o Universo total.
    • Sínteses inversas, a partir do Princípio:
      • O "Princípio" pode entender-se como incluindo o Super-Ser e o Ser.
      • O "Céu" é o conjunto do Princípio e da manifestação supraformal.
      • O conjunto do Céu e da manifestação formal anímica constitui o suprassensível.
      • Adicionando a matéria, chega-se ao conceito de Universo total, visto a partir do Princípio.
  • Diferentes esquemas de delimitação da realidade.

    • Segundo a distinção "Manifestação-Princípio": a primeira engloba o "corpo", a "alma", o "Intelecto"; o segundo engloba o "Logos" e o "Si".
    • Segundo a distinção "individual-universal" ou "formal-essencial": o elemento "formal" contém o "corpo" e a "alma"; o "essencial" contém o "Intelecto", o "Logos" e o "Si".
    • Segundo a distinção "Relatividade-Absolutidade": tudo é relativo, exceto o "Si".
    • Segundo a distinção "mortal-imortal": tudo é imortal, exceto o corpo.
    • A intenção da terminologia sufi: o Universo é uma hierarquia de "dominações" divinas, em que Deus está "mais presente" no grau supremo e "menos presente" no plano corporal.
  • As premissas corânicas da doutrina das cinco Presenças.

    • A primeira Presença: a Unidade absoluta de Deus.
    • A segunda Presença: Deus como Criador, Revelador e Salvador; o grau das Qualidades divinas.
    • A terceira Presença: o "Trono", que, cosmologicamente, representa a manifestação supraformal.
    • A quarta Presença: o "Escabelo", que simboliza a manifestação anímica e comporta a Rigor e a Clemência, sendo também o mundo das dualidades.
    • A quinta Presença: a "terra", o plano de existência do homem, criado como "vicário na terra".
    • A correspondência microcósmica: o coração do homem é o Trono de Deus; a alma reflete o Escabelo; o corpo reflete a terra; o intelecto é a passagem para os mistérios do incriado e do Si.
  • O simbolismo dos dois Testemunhos do Islã.

    • O primeiro Testemunho: "Não há divindade senão a Divindade"; cada uma das quatro palavras marca um grau, sendo o ha final do Nome Allah o símbolo do Si.
      • A parte da negação corresponde à manifestação formal ou ordem individual.
      • A parte da afirmação corresponde ao conjunto da manifestação supraformal e do Princípio, ou ordem universal.
      • O microcosmo e o macrocosmo são uma concretização deste Testemunho.
    • O segundo Testemunho: "Muhammad é o Enviado de Allah".
      • Muhammad corresponde, por analogia, à manifestação formal considerada positivamente.
      • O termo "Enviado" designa, por analogia, a manifestação supraformal enquanto prolongamento do Princípio.
    • Cada palavra dos dois Testemunhos marca uma "maneira de ser" de Deus, uma "estação divina" no microcosmo e no macrocosmo.
  • O emanacionismo plotiniano e os seus desenvolvimentos.

    • O Uno primordial, o Bem absoluto, emana uma imagem de Si mesmo, o Espírito universal, que O contempla e contém as ideias ou arquétipos.
    • O Espírito produz o estado anímico ou sutil, que por sua vez produz a matéria, o "inexistente" ou o mal.
    • O ternário Espírito, alma e matéria corresponde analogicamente ao ternário védico sattva, rajas, tamas.
    • Jâmblico acrescenta ao sistema de Plotino o Super-Ser e parece fazer coincidir o "mundo inteligível" com o Ser diversificado.
  • Subdivisões e variantes na doutrina das Presenças.

    • A possibilidade de subdividir ou adotar perspectivas diferentes, focadas no polo "conhecer" ou no polo "ser".
    • A concepção de um estado intermédio entre o corpo e a alma, o "estado vital" ou "sensorial", simbolizado pelo "mundo das esferas".
    • A concepção de um grau de intuição entre a alma e o Intelecto, correspondendo, em macrocosmo, ao grau dos anjos ordinários.
    • O simbolismo astronómico aplicado aos graus cósmicos: o Princípio ontológico compreende o Calamo e a Tábua; a manifestação supraformal identifica-se ao Trono; a manifestação formal sutil é o Escabelo; a manifestação formal grosseira tem dois graus, correspondendo às esferas planetárias e aos quatro elementos.
    • Variantes terminológicas e conceptualizações das cinco Presenças, incluindo interpretações de autores como Ibn Arabi, Al-Makki, Al-Ghazali e Al-Jili.
    • A doutrina por vezes assume uma divisão quaternária ou incorpora a "Essência" como uma sexta Presença imanente e transcendente.
  • Os diferentes modos de conceber a relação entre o Princípio e a Manifestação.

    • O simbolismo geométrico: o reporte "ponto-circunferência" (separação) e o reporte "centro-raios" (identidade essencial).
    • A espiral como imagem do desenrolar cosmogônico e do enrolar iniciático.
    • A multiplicação de pontos em torno de um centro como imagem da criação por "repercussão" de reflexos.
    • O aspecto dinâmico e cíclico dos graus da Realidade: cada grau possui um ritmo cíclico diferente, que se acelera ou multiplica à medida que se afasta do Centro.
    • A reserva quanto à atribuição de um "ritmo" ao Princípio ontológico, embora se possa conceber, do Ser ao Super-Ser, uma "respiração" que seja o protótipo de todo o movimento.
  • A negação moderna dos graus de realidade e as suas consequências.

    • A tese de que os erros filosóficos e científicos modernos procedem essencialmente da negação da doutrina das Presenças divinas.
    • O evolucionismo como compensação superficial e substituto para as dimensões suprassensíveis ignoradas.
    • A redução do psíquico a causas materiais e a consequente morte da espiritualidade.
    • O psicologismo, que reduz tudo a causas psicológicas individuais e profanas, negando as causas sobrenaturais.
    • A psicanálise tem a mesma função compensatória que o evolucionismo.
    • A incapacidade da ciência moderna para compreender a magia, o milagre e fenômenos do passado, devido à sua ignorância dos graus de realidade.
    • A ilusão de que a ciência moderna poderá um dia alcançar as verdades religiosas ou metafísicas.
  • A definição de "forma" e "essência" e a condição dos seres nos estados superiores.

    • A forma é uma essência coagulada; o mundo formal possui a propriedade de "congelar" substâncias espirituais, individualizando-as e separando-as.
    • Nos estados superiores, o ego dos bem-aventurados é supraformal ou essencial, não constituindo um limite de exclusão; o bem-aventurado pode assumir várias formas, permanecendo um espelho transparente de Deus.
    • A forma terrestre é reabsorvida na sua substância essencial, o que constitui uma transfiguração e não uma aniquilação; a "pessoa imortal" subsiste e pode reassumir a sua forma individual.
    • Os anjos, embora tenham superado a condição formal, podem assumir uma forma e um ego.
  • As proporções relativas entre os diferentes estados da existência e a lei da progressão matemática.

    • O estado material, por mais vasto que pareça, é um grão de poeira em comparação com o estado anímico que o envolve e contém.
    • O estado anímico é, por sua vez, uma parcela ínfima face à manifestação supraformal, que não é nada perante o Princípio.
    • Esta "regressão matemática" é compensada por uma "progressão" na direção descendente: as regiões tornam-se mais estreitas, mas multiplicam-se; o antípoda analógico do Infinito é a quantidade.
    • A região mais exterior, o estado material, não se esgota no mundo sensível que conhecemos; existem miríades de outras cristalizações materiais inacessíveis aos nossos sentidos.
    • Da mesma forma, existem muitos mundos de natureza sutil ou "ígnea" face ao cosmos supraformal, e uma profusão inimaginável de Paraísos face ao Princípio.
    • Esta lei de progressão está prefigurada, in divinis, nos aspetos do Ser e na riqueza das possibilidades de manifestação.
  • A ignorância da ciência moderna perante esta cosmovisão.

    • A ciência experimental nada sabe sobre os graus de realidade, os ciclos cósmicos e a reabsorção do mundo na Realidade invisível.
    • A intuição unânime e milenar da inteligência humana não tem significado para a ciência moderna.
    • A diversidade de mitos e dogmas é devida à natureza inimaginável e indescritível do suprassensível, que permite perspectivas infinitamente variadas, adaptadas a diferentes necessidades espirituais.
    • A Verdade é una, mas a Misericórdia é diversa.
    • A filosofia cientista ignora os ritmos ou a "vida" das Presenças divinas, o solve et coagula universal, e o facto de todo o Real estar no Invisível.
    • Esta incompreensão persistirá, e o mundo humano seguirá a sua marcha, inexoravelmente.