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id da página: 4871 Eudoro de Sousa Eudoro

Eudoro de Sousa

Filosofar em português — EUDORO DE SOUSA (1911-1987)


WIKIPEDIA: Português

Filósofo e filólogo português que deixou Portugal nos anos 1950, dedicando o resto de sua vida a uma fecunda atividade docente e especulativa no Brasil.

SOUSA, Eudoro de. Horizonte e Complementaridade. Sempre o Mesmo acerca do Mesmo. Lisboa: Imprensa Nacional, 2002.

«... sempre o mesmo acerca do mesmo» teria sido, segundo Platão, o que Sócrates respondeu, um dia, a quem lhe perguntou de que falava ele, tanto e tantas vezes, com seus mais assíduos interlocutores. Daí que o título destas páginas pareça extremamente pretensioso. Mas só parece. Na verdade, Sócrates expressou, por genial antecipação, o que se dá na grande maioria dos casos, não só quanto ao acontecido antes dele (pelo que não seria antecipação), mas também quanto ao que viria a acontecer depois: pouco ou muito; verdadeiro ou falso, para quem ouse estabelecer inabalável critério que decida semelhante alternativa; com ou sem sentido, em conformidade com a axiomática da última lógica entronizada por direito humano, consciente de sua responsabilidade científica; reverente ou irreverente em face das mais respeitadas e respeitáveis prescrições académicas; tomando ou não tomando a analogia e a metáfora por arremedo de prova ou demonstração universalmente aceitável; desdenhando ou não das mais prementes solicitações ideológicas de «direita» ou de «esquerda»; querendo ou não querendo atrasar ou adiantar o inexorável andamento do relógio e do calendário e da irreversível cronologia, que nos impõe a presença de um presente, agora mesmo término de irrevoluível passado e início de previsível ou imprevisível futuro; mascarando ou não uma profissão de fé irrazoável, sob ordenado ou desordenado acúmulo de «razões» que jamais serão cogentes senão para quem a professa e confessa na mais recôndita intimidade de sua alma — sempre houve, há e haverá quem pense «sempre o mesmo acerca do mesmo», desde que realmente tenha passado por alguns dos angustiosos momentos em que, por si, repensou o já pensado, ou pensou ou julgou pensar o que no pensado ainda não fora pensado.