En lo que concierne al tiempo, la cuestión puede parecer más difícil de resolver y no obstante también hay ahí un ternario, puesto que se habla del «triple tiempo» (en sánscrito trikâla), es decir, que el tiempo es considerado bajo tres modalidades, que son el pasado, el presente y el porvenir; pero, ¿pueden estas tres modalidades ser puestas en relación con los tres términos de los ternarios tales como los que examinamos aquí? Primeramente, es menester precisar que el presente puede ser representado como un punto que divide en dos partes la línea según la cual se desarrolla el tiempo, y que determina así, en cada instante, la separación (pero también la unión) entre el pasado y el porvenir de los que es el límite común, del mismo modo que el plano mediano de que hablábamos hace un momento es el límite de las dos mitades superior e inferior del espacio. Como lo hemos explicado en otra parte (EL REINO DE LA CANTIDAD Y LOS SIGNOS DE LOS TIEMPOS, cap. V), la representación «rectilínea» del tiempo es insuficiente e inexacta, puesto que el tiempo es en realidad «cíclico», y puesto que este carácter se encuentra también hasta en sus menores subdivisiones; pero aquí no vamos a especificar la forma de la línea representativa, ya que, cualquiera que sea, para el ser que está situado en un punto de esta línea, las dos partes en las que está dividida aparecen siempre como situadas respectivamente «antes» y «después» de este punto, del mismo modo que las dos mitades del espacio aparecían como situadas «arriba» y «abajo», es decir, por encima y por debajo del plano que se toma como «nivel de referencia». Para completar a este respecto el paralelismo entre las determinaciones espaciales y temporales, el punto representativo del presente siempre puede ser tomado en un cierto sentido como el «medio del tiempo», puesto que, a partir de este punto, el tiempo no puede aparecer sino como igualmente indefinido en las dos direcciones opuestas que corresponden al pasado y al porvenir. Por lo demás, hay algo más: el «hombre verdadero» ocupa el centro del estado humano, es decir, un punto que debe ser verdaderamente «central» en relación a todas las condiciones de este estado, comprendida la condición temporal 1 ; así pues, se puede decir que se sitúa efectivamente en el «medio del tiempo», que él mismo determina por el hecho de que domina en cierto modo las condiciones individuales 2 , del mismo modo que, en la tradición china, el Emperador, al colocarse en el punto central del Ming-tang, determina el medio del ciclo anual; así pues, el «medio del tiempo» es propiamente, si se puede expresar así, el «lugar» temporal del «hombre verdadero», y, para él, este punto es verdaderamente siempre el presente.
9. Admitamos que o homem esteja sempre em trânsito. Mas não que este seja o de um distante passado para o próximo presente e do presente próximo para um futuro distante. Esta é a imagem que resolutamente me querem impor, mas a que, tão resolutamente, me recuso. Isto me dá ensejo de prosseguir falando de passado e distância. A história, qualquer que ela seja, refere-se a passado, presente e futuro. Mas estes são as abstratas dimensões de um tempo não menos abstrato. Passado (antigo) concreto é o passado deste presente (atual), o da minha concreta presença, aqui e agora. Não há passado (antigo), pura e simplesmente; não há, pura e simplesmente, futuro. Passado e futuro, mais ou menos distantes, são-no deste presente (atual), feito da minha atual presença, presença do «mim» que tenho, ao «eu» que sou, presença ao mundo que envolve o «mim» que tenho, ao mundo envolvido pelo «eu» que sou. Passado e futuro são, cada um para seu lado, polos contrários de um presente. Tempo concreto não é linha que corre para trás e para a frente de qualquer de seus pontos: é campo de polaridades, a polaridade passado-presente ou a polaridade presente-futuro. E cada presente tem o passado e o futuro que merece; nem melhor nem pior, só o seu parelho. Um presente, com seu passado e seu futuro (que não é passado e futuro de outro) perfazem uma época, e há um homem (e um mundo) para cada época. Esse homem não está em trânsito; ele próprio é o trânsito. Vistas as coisas deste modo, talvez seja melhor de entender o que se diz ao falar-se de «homens representativos da sua época».
Um fenômeno é algo que ocorre no espaço tridimensional interpretado como a quarta dimensão vista serialmente como tempo.
A realidade (númeno) é imóvel, ubíqua e permanente.
Se não houvesse memória não haveria nenhum Passado. Se não houvesse nenhum desejo ou medo não haveria nenhum Futuro. O Presente, renovado todo instante, somente permaneceria, e seria a eternidade pois não poderia haver nenhum Tempo.
Em nossa condição de existência só conhecemos o Passado e imaginamos o Futuro; o Presente nunca existiu para nós — pois é sempre uma memória antes que sejamos capazes de concebê-lo.
Têm o Passado e o Futuro qualquer realidade? Temos toda razão de perguntar. Pode o Passado ser nada mais que um truque da memória? Pode o Futuro ser nada mais que uma fabricação para o preenchimento do desejo? Pode haver qualquer coisa senão o eterno Presente?
Nosso conceito de Tempo, mas nosso percepto, como de algo em fluxo, é provavelmente enganosa. Além disso, se nós estivéssemos nele não poderíamos não estar conscientes que estava fluindo; pelo menos o eu que percebe deveria estar na margem do rio, e seria portanto intemporal (fora do tempo). É muito mais provável, e outros realizaram isto, que nós mesmo estamos em movimento e que o que observamos é imóvel. Como planetas girando ao redor do sol, como elétrons girando ao redor do núcleo do átomo, nossa "vida" deveria ser uma órbita ao redor da realidade. Mas nossas percepções usam antolhos — só podem perceber um segmento por vez, uma instantânea visão de uma fatia da realidade, que construímos em uma continuidade, como um filme de cinema feito de "instantâneos". Infelizmente tomamos cada fatia como uma coisa-em-si onde é meramente um segmento, a realidade relativa sendo a totalidade. Mas a totalidade não a totalização de fragmentos que só representa uma fração — pois só percebemos um aspecto, o que sabemos como exterior (e somente um, ou, no máximo, três, lados disso) do que quer que seja.
Ora bem, aquilo que se experimenta na resolução antecipadora, ao nível da existência em sua propriedade mais própria, é a temporalidade, pois esta constitui o sentido ontológico do cuidado, isto é, do ser do Dasein (SZ, § 65). Com a temporalidade alcança-se o fenômeno originário e unitário que dá razão de todas as estruturas do Dasein, as quais são todas estruturas da temporalidade, modos de temporalização da temporalidade (SZ, p. 304). A unidade do cuidado é a de uma temporalização (a palavra alemã empregada por Heidegger aqui -Zeitigung- expressa “a obra” do tempo -Zeit- e significa, por outro lado, o sentido próprio de maturação), não a de uma presença subsistente da qual o tempo seria um quadro externo. Pois, para Heidegger, não se trata mais de explicar o tempo como esse meio em que a presença se dispersa. É por isso que, se ele pensa, como Agostinho de Hipona e como Husserl, numa cooriginariedade das três dimensões do tempo, não o faz nem no sentido da tríplice presença do passado, do futuro e do presente na memória, na atenção e na expectativa (Confissões, livro XI), nem no sentido da unidade entre a protensão e a retenção, do passado e do futuro imediatos, no presente vivo husserliano (Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo).
Essa unificação das dimensões do tempo ocorre ainda no interior de um privilégio concedido ao presente — o presente eterno de Deus em Agostinho de Hipona, que contrasta com a “distensão” da alma criada, e a presença a si da consciência que, em Husserl, é capaz, por si mesma, de superar a própria dispersão e de se unificar. Heidegger não pensa a temporalidade como o fundo de uma presença infinita a si — a de Deus ou a do ego transcendental de que Husserl diz (em manuscrito datado de agosto de 1936) ser “imortal” —, mas como o modo de ser de um existente que não é originariamente presente a si mesmo, mas que, ao contrário, deve ser, “tornar-se aquilo que é” (SZ, p. 145), segundo o lema que Nietzsche toma emprestado de Píndaro. Isso explica que seja o momento da existencialidade aquele que, em Heidegger, suporta todo o peso da temporalidade: é a partir da existencialidade que a temporalidade própria do Dasein se temporaliza; daí o primado atribuído não mais ao presente, mas ao advir.
A resolução precursora, isto é, o existir “autêntico” do Dasein em vista de seu fim — a morte —, pressupõe que o Dasein possa, na medida em que existe sob o modo da possibilidade e não sob o da realidade, advir a si mesmo em geral. Compreendendo-se a partir de sua possibilidade mais elevada, isto é, a morte, o Dasein é sob o modo do advir, é zukünftig: advindo, por vir. E assim é sempre que se compreende a partir de seu poder-ser, na existência “autêntica”, ou quando se compreende a si mesmo como realidade subsistente, na existência “inautêntica”. Quando se compreende como ser-para-a-morte, isso significa, para o Dasein “autêntico”, que ele assume igualmente seu ser-culpável, isto é, seu nascimento e seu ser-lançado. Ora, assumir o ser-lançado não significa outra coisa senão ser “autenticamente” aquilo que já era sob o modo “inautêntico”. O que o Dasein pode ser não é outra coisa que o ter-sido, e apenas antecipando o próprio fim é possível ao Dasein assumir a condição originária: “o precursar da possibilidade extrema e mais própria é o tornar compreensível o ter-sido mais próprio” (SZ, p. 326).
O Dasein não pode ser seu “passado” senão retornando a ele, assumindo-o a partir do advir: “o ter-sido, desprendido, de certa maneira, do advir” (SZ, p. 326), pois aí só possui “facticidade” para uma existência, isto é, no horizonte de um poder-ser. O advir, em sentido próprio, não é um agora que ainda não se tornou real, mas a vinda do Dasein a seu poder-ser mais próprio, aquilo que advém no precursar da morte. E, como o Dasein não pertence à ordem do subsistente, do previamente dado (Vorhandene), ele jamais é, em sentido estrito, “passado”, mas, ao contrário, sempre já foi e permanece enquanto é: o ter-sido (o alemão diz mais precisamente gewesen sein, ser-sido) é o fenômeno originário do que chamamos “passado”.
É, pois, advindo sob o modo do retorno a si mesmo que a resolução precursora torna presente o ente que vem ao seu encontro no mundo circundante: é esse fenômeno unitário de um advir que se torna presente tendo sido que Heidegger denomina temporalidade (SZ, p. 326).
Recapitule-se: a resolução precursora, enquanto modo de cuidado “autêntico”, só se torna possível por meio da temporalidade; o que implica que o cuidado em geral funda-se na temporalidade, e esta constitui o sentido ontológico do cuidado. É, portanto, a temporalidade que torna possível a unidade da existencialidade, da facticidade e da queda, na medida em que estas constituem os momentos estruturais do cuidado. Pode-se então elaborar o seguinte esquema aproximativo:
| Ser-ante-sí-mismo | enquanto ser-junto (do ente encontrado no interior do mundo) |
já-em-(unm-mundo) |
| Devir | Presente | Ser-sido |
| Existencialidade | Facticidade | |
| Projeto | Preocupação-Solicitude | Ser-jogado |
| Compreensão | Disposição | |
| Ser-para-a-morte | Ser-em-falta |