VIDE: CAVERNA; NOITE ESCURA; NOITE OBSCURA; TREVAS
René Guénon: A REALIZAÇÃO ASCENDENTE E A REALIZAÇÃO DESCENDENTE
Pode-se dizer que se a "culminação" do Sol visível ocorre ao meio-dia, a do "Sol espiritual" deve ser considerada simbolicamente como ocorrendo à meia-noite. E por isso que se diz que os iniciados aos "grandes mistérios" da Antiguidade "contemplavam o Sol à meia-noite". Desse ponto de vista, a noite representa não mais a ausência ou a privação da luz, mas seu estado primordial de não-manifestação, o que corresponde, aliás, estritamente à significação superior das trevas ou da cor negra como símbolo do não-manifestado. E é nesse sentido também que devem ser entendidos certos ensinamentos do esoterismo islâmico, de acordo com os quais "a noite é preferível ao dia". Pode-se notar, além disso, que se o simbolismo "solar" possui uma relação evidente com o dia, o simbolismo "polar" possui, por seu lado, uma certa relação com a noite. É ainda muito significativo, a esse respeito, que o "sol da meia-noite" tenha literalmente, na ordem dos fenômenos sensíveis, sua representação nas regiões hiperbóreas, isto é, exatamente onde se situa a origem da tradição primordial.
S. Rubí: LA PUERTA — SIMBOLISMO
Há uma dualidade referente aos mistérios da noite, indicando duas partes ou sentidos ocultos, segundo seja a noite do SANTO BENDITO SEJA ou a noite do oculto carente de Bendição, já que a «noite resplandece» está reservada ao homem regenerado.
Em alguns comentários do Zohar sobre o Exodo XII-29 está escrito: «Em realidade, a raiz da liberação de Israel se encontra durante a noite, que é o segredo da Sefirah Malkut (Reino), chamada noite; já que a noite abriu as cadeias dos Israelitas e (ao mesmo tempo) castigou aos egípcios; mas é o dia em que saístes sem medo sem medo e é o que está escrito» (v. Num 33:3).
«Mas enquanto esta noite não estiver dividida, não realiza suas ações. De onde sabemos isto? O sabemos a propósito de Abraão do qual é dito em Gen 14:15, cuja explicação é que foi dividida a noite para realizar suas obras. Se trata do mesmo onde Moisés diz: «...cerca de meia-noite...», quer dizer quando a noite se dividiu e Moisés sabia que a noite não faria suas obras enquanto não fosse dividida... já que na segunda parte da noite é quando faz suas obras e é o que está escrito: «e foi no meio da noite». Por que no meio da noite? Isto significa: na segunda metade, no momento em que reina Malkuth... e a ação se faz na segunda metade...»
«Em verdade, a noite é o momento em que se executa o juízo, estrito rigor, que se estende em todo lugar de igual maneira. Mas a meia-noite se alimenta de dois aspectos: do rigor e da misericórdia. A primeira metade da noite é unicamente o período do rigor, mas a segunda metade recebe a iluminação do lado da misericórdia».
Por isso Davi no Salmo 119:62 não diz «à meia-noite» mas «meia-noite» só. Supomos pois que meia-noite é um modo de designar o SANTO BENDITO SEJA, ao qual se dirige Davi com este nome, porque meia-noite é a hora na qual Ele aparece'' com seu séquito e penetra no Jardim do Éden. É pois o momento da Bendição (v. Natividade).
A primeira parte da noite corresponderia aos mistérios da noite, carente de Bendição; quer dizer as precipitações do astral (em hebreu a palavra Lilith significa: espectro, noturno, fantasma). Lilith é a rainha dos demônios, o mundo oculto inferior, é a noite do exílio neste mundo no qual o mal, o amo de Sheol, toma corpo e vida em nós mediante nossos pensamentos e palavras. Também diz o Zohar, corresponde à noite em espera de ser visitada pela Verdadeira Manhã, como se expões em outro comentário do mesmo capítulo do Êxodo.
Por outro lado, a segunda metade da noite, a partir de meia-noite, corresponde à Presença Divina (Shekinah) que se manifesta. É o momento da União da Bendição, por isto o Senhor entra em seu Jardim. Assim, pois, os mistérios da noite ou do oculto são duplos, segundo o oculto esteja ou não santificado.