STÉPHANE, Henri. Introduction à l’ésotérisme chrétien I. Paris: Dervy-livres, 1979
A expressão mais elaborada do Mistério trinitário utiliza as noções escolásticas e aristotélicas de hipóstase e de relação. Trata-se de expressar com palavras um "Fato transcendente" comunicado pela Revelação cristã, seja através das Escrituras sagradas, seja por "eventos" sagrados tais como a Encarnação do Verbo e o Pentecostes; notemos, todavia, que estes são antes a manifestação ad extra das "processões divinas ab intra", o Filho procedendo do Pai por modo de inteligência, e o Espírito Santo por modo de vontade. Mas a expressão "hipostática" do Mistério trinitário coloca-se desde logo ao nível da Essência divina, naquilo que se poderia chamar sua "Racionalidade pura", de algum modo "estática", e não em seu "dinamismo" ao mesmo tempo interno e externo que se traduz pelas processões divinas que recordamos. É evidente que estes dois modos de acesso ao Mistério trinitário, longe de se excluírem, complementam-se harmoniosamente.
Colocamo-nos, portanto, aqui "sub specie Essentiae" e não "sub specie Naturae", a natureza não sendo outra coisa que "a substância (identificada à essência na terminologia escolástica) enquanto princípio de operação", o que nos remeteria às processões divinas. Também aqui trata-se apenas de uma distinção de "pontos de vista" que de modo algum se excluem, mas se complementam mutuamente: pode-se dizer, por exemplo, que a Essência divina se desabrocha em três Hipóstases por modo de processões inerentes à Natureza divina.
Seja como for, a Essência divina é considerada aqui à luz do "dado revelado" de um ponto de vista ao mesmo tempo lógico e ontológico, sem prejuízo de uma transposição puramente analógica ou metafísica do dogma que ultrapassa o ponto de vista teológico como tal, e que, desembocando no "surontológico" e no "surinteligível", excede os limites da "Racionalidade pura" e torna-se por isso mesmo propriamente inexprimível. O dogma pode, não obstante, servir de suporte ou de ponto de partida à transposição metafísica em questão, conforme à dialética da catafase e da apofase: "Digo: Deus é uma essência, mas imediatamente o nego, dizendo: Deus não é uma essência. Deus é uma essência acima de toda essência. Procedendo assim, minha inteligência estabelece-se no Infinito e nele se afoga" (santo Alberto Magno); "Trindade supraessencial, e mais que divina, e mais que boa" (são Dionísio, Teologia Mística).
Dizemos, portanto, que a Essência divina se desabrocha em três Hipóstases, o que levanta imediatamente a questão de suas relações mútuas e de sua relação com a Essência. Na ordem criada, a natureza humana, por exemplo, é "recebida" numa hipóstase, que determina assim um indivíduo particular. Embora se possa dizer que cada indivíduo possui a natureza humana, aparece não obstante que esta apenas "se esgota" numa indefinidade de hipóstases. Seria mesmo mais exato dizer que o arquétipo do homem, que está em ato e eternamente na divindade, não deixa de ser virtualmente inesgotável, no sentido de que sua possibilidade permanente em Deus comporta sua atualização em modo manifestado pela passagem relativa da potência ao ato, a indefinidade dos indivíduos sendo analiticamente inesgotável. A este nível, a hipóstase não se identifica com a natureza humana: sua relação com a essência é a do acidente com a substância, e isto de maneira recíproca, no sentido de que não há natureza humana (ou espécie) sem hipóstases (ou indivíduos) e inversamente, mas a relação é acidental e não pode ser dita "subsistente". Com efeito, não é essencial que a natureza humana seja "recebida" em tal hipóstase particular, e esta não esgota todas as possibilidades da natureza. Além disso, o caráter acidental da relação aparece ainda mais nitidamente quando concerne a indivíduos: a paternidade, por exemplo, não é obrigatória para tal indivíduo particular, embora seja inerente à natureza humana; em outras palavras, a paternidade não define a "essência individual" de Pedro ou de Paulo: este pode ser pai, mas não é apenas isso.
Na divindade, ao contrário, a relação define completamente a Hipóstase, e identifica-se com a Essência divina: diz-se então que ela é "subsistente". Se a Essência divina se esgotasse numa única Hipóstase, não haveria relação possível. Somente a Revelação permite afirmar que há três, mas este número não tem o caráter quantitativo que reveste no mundo corpóreo, pois estes Três são Um. A noção de "relação subsistente" salvaguarda a unidade da Essência e a distinção das Hipóstases. A Hipóstase do Pai, por exemplo, não é outra coisa senão a Essência divina enquanto ela gera a Hipóstase do Filho, a relação mútua de paternidade e filiação caracterizando e definindo totalmente estas duas Hipóstases. A relação é "hipostasiada" e, vice-versa, a Hipóstase é definida como "pura relação".
Pode-se ainda acrescentar que esta noção expressa também da melhor maneira possível o "fato" de que, na divindade, o "ens a se" é essencialmente "ad aliud": a Aseidade divina não se fecha sobre si mesma, desabrocha-se "essencialmente" (e não acidentalmente) em três Hipóstases, concebidas como "relações subsistentes". Pode-se ver nisso a expressão teológica da Identidade Suprema e da Alteridade Suprema, assim como o fundamento ontológico da Catharsis e da Caritas.