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Aseidade

ONTOLOGIASER — ASEIDADE


VIDE: SARÇA ARDENTE

Segundo J. Biard, no dicionário Les Notions philosophiques", aseidade é o atributo daquilo que é por si (lat. a se), quer dizer à si mesmo sua própria causa, e não por outro. Anselmo de Canterbury caracteriza Deus como o que é por si. A ideia de causa sui é ulteriormente reelaborada (Spinoza) mas o termo aseidade, em uso na escolástica tardia, cai em desuso. Schopenhauer o retoma a respeito do querer-viver.


René Guénon: A ONTOLOGIA DA SARÇA ARDENTE


Filosofia

Mário Ferreira dos Santos

ASEIDADE — (De a se, aseitas, latim). Usado pela filosofia escolástica para qualificar o ser que possui, por si mesmo, e em si mesmo, a razão de sua existência (incausado). Opõe-se, na mesma filosofia, à abaliedade (de ab alio), qualidade de um ser, cuja existência depende de outro.

b) Schopenhauer usou-a quanto à Vontade, no sentido em que ele tomava este termo,

c) A aseidade corresponde, assim, unicamente, ao ser absoluto, a Deus nas doutrinas teístas, ou a todo o Absoluto, nas diversas doutrinas, em geral.


Frei Hermógenes Harada
Essa estranha referência do Tudo e do Nada como Deus e alma é uma variante do "relacionamento" entre Deus e a criatura, assinalado pelos medievais no binômio ens a se e ens ab alio. Assim a descrição feita acima se refere certamente ao homem, mas enquanto ens ab alio, isto é, criatura, ente que não vem a si, não subsiste a partir de si e em si, mas do outro, a saber, de Deus. Pois para o Pensamento Medieval o ser é somente de Deus, ou melhor, o ser é o próprio Deus: Deus est esse ipsum. Assim, digo Deus e já disse ser, digo ser e já disse Deus. Deus é todo o ser, tudo do ser, único ser e unicamente ser, ser ab-soluto, a partir de si, ens a se. Fora de Deus não há ser. E se de alguma forma há entes "fora" de Deus, esses entes não têm ser a partir de si e em si, mas de Deus, são ah alio. Mas, o que quer dizer fora de Deus, se Deus é ser ab-soluto, tudo do ser? Com outras palavras, o que significa nada, se é Tudo, o ser? O formalismo dessas perguntas somente tem sentido, na medida em que, assim girando no vácuo de conteúdo, ele nos acordar para uma suspeita. Suspeita que nos faz indagar: se "fora" de Deus não há nada, nem sequer o nada, esse nada dos medievais não poderia ser um nada criado? E a palavra aqui criado (criatura, criação e criador) não deveria ser entendida numa acepção toda própria, bem diferente da causação e efetivação? Essa suspeita de que o nada dos medievais se refere ao nada criado não está expressa na formulação: creatio exnihilo sui et subiecti! Não poderíamos escutar esse ex nihilo como que indicando o nada enquanto aquilo de que são feitos os entes "fora" de Deus, portanto o nada como o material do qual são feitos os entes ab alio? Mas aqui quando dizemos material é necessário não entender o nada, a partir do material, mas sim pelo contrário entender o material, a partir do nada. E não é a esse nada todo especial que os medievais davam o estranho nome de potentia oboedientialis? Mas, o que significa não entender o nada a partir do material e sim o material a partir do nada? Talvez o texto acima mencionado e em parte parafraseado de Mestre Eckhart no seu sermão 1 nos possa orientar na compreensão do que seja esse nada criado enquanto referido à criatura humana.

Acabamos de dizer "na compreensão do que seja esse nada criado enquanto referido à criatura humana". Isto significa que há compreensão do que seja nada criado enquanto não referido às criaturas que não são homem? Talvez os medievais diriam nada enquanto referido às criaturas racionais (homem e espíritos) e nada enquanto referido às criaturas não racionais. Recordemos, aqui, o que observamos bem no início da reflexão como uma suspeita, na pergunta: que tal, se as criaturas como esta coisa em si, como isto ou aquilo, só surgem e aparecem quando o Homem está enrolado em si mesmo e, a partir dessa implicação, se apega às criaturas como a algos, prolongamentos e repetições desse modo da sua enrolação como algo? Dito com outras palavras, essa variante da fala que se refere a Deus e à alma humana sob o binômio ens a se e ens ab alio, sob o binômio Tudo e Nada, principalmente a acepção usual do nada, já não está sob a compreensão deficiente do sentido do ser, e a partir dali também do nada, por se enrolar sempre de novo na compreensão do ser igual a algo, ente igual a coisa? Não é dessa pré-compreensão já estabelecida do que seja ser e nada que surgem aporias formalistas como as mencionadas acima sobre nada que é fora de Deus, nada que é criado, nada que é tão nada que nem sequer é nada? E que a compreensão do que seja a criação, o Criador, a criatura e criatural não é orientada para entender tudo isso referido já de antemão a um fazer, produzir, emitir algos, a modo de uma causação e efetivação de coisas, através da coisa chamada ação por uma coisa chamada Deus? E não é à base dessa posição do sentido do ser como de algo que surge a diferença entre o nada, o ab alio referido às criaturas racionais e o nada, o ab alio referido às criaturas não racionais? Com outras palavras, as usuais compreensões de tudo, nada, ser, ente, Deus e Homem, sim de todas as palavras na sua significação, lá onde se constitui o seu sentido próprio, não estão já de antemão ocupadas por um determinado sentido do ser, como se ser significasse obviamente algo, coisa, o em si núcleo, isto ou aquilo? E a própria dissolução e liquidação desse algo núcleo para o nada não resulta num posicionamento do nada como algo vago, indeterminado, assim espalhado como espaço vazio, mas sempre ainda um algo?