STÉPHANE, Henri. Introduction à l’ésotérisme chrétien I. Paris: Dervy-livres, 1979
Entre as numerosas aberrações da mentalidade moderna, e os ídolos que ela venera — tais como a Ciência, a Democracia, o Progresso, etc. — é preciso destinar um lugar à parte para o "culto" do homem, seja individual, seja coletivo, ou seja, da "Humanidade" sob seu aspecto mais "quantitativo", mais vulgar e mais feio. Incapaz de venerar e de reconhecer o "Deus feito homem", a presente humanidade fabrica "deuses" à sua medida, infinitamente mais baixos que os ídolos da antiguidade greco-romana, que o cristianismo nascente dos primeiros séculos tinha conseguido varrer, enquanto o cristianismo agonizante do século XX pactua, frequentemente inconscientemente, com os do mundo moderno; acontece-lhe mesmo de assimilar o Cristo a um ou outro destes "grandes homens", o que é a pior das "injúrias".
Um dos traços mais marcantes da mentalidade moderna é esta falta de discernimento, de senso das proporções ou simplesmente de julgamento, que faz olhar como um progresso o que não é na realidade senão uma profunda decadência, e que impede de tomar consciência do abismo que separa o mundo antigo, mesmo decadente, da estupidez do mundo moderno. Que há de comum, por exemplo, entre César ou Alexandre e Stalin ou Nasser, entre Pitágoras e Einstein, entre Platão e Hegel, entre Virgílio e Claudel? Que há de comum, a fortiori, entre Moisés e Léon Blum, entre Salomão e Jules Ferry, entre Davi e Aristide Briand?
Este "culto" do homem se reencontra aliás em todos os níveis, desde o sábio ou o filósofo até a "estrela" de cinema e o "campeão esportivo". Não se insistirá sobre a vulgaridade e a tolice demasiado evidentes destas multidões de indivíduos que se precipitam sobre seu pasto cotidiano de jornais, revistas, rádio, televisão, e seu pasto semanal de jogos, de filmes, sem falar dos romances policiais, de toda uma literatura abjeta e de todas as sortes de "lazer" que o progresso técnico põe à sua disposição. Insistir-se-á mais sobre um aspecto desta "religião da humanidade" que faz muito mais ilusão a um grande número de pessoas "cultas" ou "intelectuais", e isso em razão de uma pretensa ciência (ou "cultura") cuja vaidade lhes escapa completamente: quer-se falar destes "grandes sábios" que todo o mundo admira com ingenuidade e em uma ignorância quase total do que é verdadeiramente "a Ciência".
A questão será posta da seguinte maneira: de onde vem o fato de que haja sábios — descrentes ou não, pouco importa — que passam sua existência a "analisar" o mundo físico, a cortar o "cosmos" em pequenos pedaços, a examiná-lo com seus telescópios ou seus microscópios, até não verem mais nada, e a tentar em seguida "pseudossínteses", onde eles tentam reconstituir o que eles decompuseram, inventando teorias cada vez mais complicadas, em perpétuo devir ou mudança, por meio de uma rede de abstrações matemáticas que são uma pura criação do espírito?
Trata-se portanto em definitivo de um "jogo do espírito"; os sábios não são senão grandes crianças que brincam com seus "spoutniks" como garotos brincam de bolinhas de gude. Mas responda-se à questão que se pôs: de onde vem este fato? Simplesmente da impotência metafísica ou "contemplativa" — mística, se se preferir — da inteligência do homem moderno, que busca compensar esta incapacidade pela "pesquisa científica", a pesquisa por si mesma, a arte pela arte. Incapaz de contemplar em uma árvore sua significação metafísica, o biólogo a corta em pequenos pedaços, analisa seu conteúdo, batiza seus elementos de nomes eruditos e complicados que espantam o vulgar, e mascara assim sua ignorância sob um vocabulário pomposo e grandiloquente. Que faz o astrônomo? Incapaz de conhecer a significação metafísica dos astros, ele se diverte em medir suas distâncias, suas massas, suas velocidades, e ele põe tudo isso em equações, para o grande assombro do público.
Mas há coisas ainda mais estranhas: que faz o sábio teólogo, ou o professor de Escritura sagrada? Incapaz — salvo exceções muito raras — de apreender o conteúdo místico ou metafísico do dogma ou das Escrituras Sagradas, ele faz... história! Ele tenta estabelecer uma cronologia bíblica, recolocar os textos sagrados em seu contexto histórico, ou geográfico, estabelecer a autenticidade dos Evangelhos, etc.
Mais estranha ainda é a atitude do sábio, biólogo ou outro, que tenta construir uma espécie de "teologia científica", onde ele se esforça para fazer coincidir teorias científicas com os dados da Revelação, culminando assim em uma espécie de monstro puramente imaginário, que nada tem a ver com a verdadeira teologia.
Tais são os "grandes homens" que o "culto" da humanidade apresenta à nossa admiração. Não somente se repugna ter a menor veneração pelo que não é senão impotência, mas se vê neste "culto", uma verdadeira tentativa de Satã para desviar do culto do verdadeiro Deus toda uma massa de ignorantes ou de ingênuos incapazes de discernimento. Afirma-se, por outro lado, que aquele que é capaz de penetrar nos arcanos do mundo espiritual, de contemplar o "cosmos" em sua significação "mística", aquele que compreendeu, por exemplo, que toda árvore é uma "participação" — ou um símbolo — da Árvore da Vida, ou da Cruz do Cristo, que toda água é uma "participação" da Água do Batismo, da Água saída do lado do Cristo, da Água jorrando da rocha sob o bastão de Moisés, das "Águas primordiais" da Gênese, da "Água viva" jorrando até a vida eterna (João IV, 14), aquele portanto que é capaz de uma tal visão espiritual e interior das coisas, se desinteressa completamente da água enquanto composto de hidrogênio e de oxigênio cuja massa molecular é igual a 18! Um tal abismo existe entre "a ignorância científica" e "o conhecimento místico", que não se vê realmente como se pode admirar os "grandes homens" que consagram sua vida ao serviço da primeira, mesmo se eles creem ainda vagamente na segunda.