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id da página: 8724 IBN ARABI – ENGASTES DE SABEDORIA – NO VERBO DE ELIAS Ibn Arabi

Ibn Arabi Fusus Elias


VIDE: SABEDORIA DOS PROFETAS

A SABEDORIA DA INTIMIDADE NO VERBO DE ELIAS

Ibn Arabi nos introduz, neste capítulo, a um aspecto microcósmico particularmente interessante da polaridade fundamental que figura tanto em seu pensamento, ao mesmo tempo que sugere a verdadeira natureza da gnose. Relacionada à polaridade suprahumana de Deus-Cosmo, transcendência-imanência, está a polaridade humana correspondente de desejo natural-intelecto, ambos os elementos da qual são capazes de experimentar parte da verdade sobre a Realidade, mas não a verdade sintética da Unidade do Ser. Mais adiante no capítulo, ele usa a palavra wahm [fantasia, ilusão] no lugar de shahwah [desejo, luxúria], enquanto, para o intelecto, ele usa a única palavra aql. Uma vez que elas pertencem, no entanto, ao estado humano, nenhum dos dois aspectos da experiência humana é por si mesmo divino, mas apenas reflete e serve para manifestar realidades suprahumanas, em consonância com a natureza desse estado. Assim, embora o modo e o reflexo microcósmico do Espírito divino em seu Desejo de reintegração na Essência, o intelecto não pode propriamente compreender nem a natureza de seu complemento vital nem a Unidade da qual ele é uma função, mas apenas verdades transcendentais e intangíveis. Da mesma forma, o desejo vital, ou o impulso para a experiência instintiva, embora ele reflita e manifeste o imperativo urgente da Vontade divina para o devir infinito, não pode compreender nem o princípio de seu complemento mental, nem a Unidade na qual ambos são resolvidos, mas apenas as atualidades da vida natural. No entanto, uma vez que a Misericórdia criativa da Vontade divina abrange a Misericórdia obrigatória do Desejo divino, o intelecto humano, como Ibn Arabi diz, raramente está livre da influência da fantasia natural que é precisamente a expressão humana daquela ilusão primordial de alteridade e de multiplicidade sem a qual não haveria existência vital.

Como no caso da transcendência e da imanência, Ibn Arabi aponta que a ênfase excessiva nas reivindicações do desejo natural ou do intelecto resulta na possibilidade de apenas gnose parcial, que, em sua perfeição, não é outra coisa senão conhecimento e experiência imediatos da Unidade do Ser que tudo sintetiza. Para ser um verdadeiro gnóstico, portanto, não basta, como no caso de Elias, concentrar-se exclusivamente no intelecto, purgado de impulsos e de suscetibilidades vitais, mas experimentar também, o mais plenamente possível, o impulso inarticulado da vida animal, desprovido de pensamento e de preceito, que não é, afinal, outra coisa senão a vida divina de Sua Forma. De fato, para qualquer verdadeira realização do potencial total do estado microcósmico, os dois aspectos da experiência humana devem trabalhar juntos mutuamente, a vida natural sendo inspirada e comandada pelo intelecto, o intelecto sendo temperado e condicionado pela vida, vendo a presença da Realidade em ambos como refletindo Sua Vida no Espírito e o Espírito na Vida. Para aqueles em quem um aspecto predomina sobre o outro, o aspecto predominante atua como um véu que oculta as realidades do outro, impedindo assim qualquer verdadeira visão da Realidade.

No final do capítulo, ele retorna ao grande paradoxo místico implícito na doutrina da Unidade do Ser. Ele o demonstra dizendo que é possível que uma causa seja o efeito de seu próprio efeito, uma noção que a lógica do tipo usual acha difícil, para dizer o mínimo. Esse paradoxo é ilustrado por sua noção das essências latentes, uma vez que a criatura que é causada a existir pelo Criador é, como o conteúdo essencial latente do conhecimento de Deus, aquilo que O faz Se tornar «Deus».