Skip to main content
id da página: 8057 Henry Corbin A IMAGINAÇÃO CRIADORA NO SUFISMO DE IBN ARABI – Responsórios Henry Corbin

Corbin Responsórios

O segredo dos responsórios divinos

O desafio, para o discípulo de Ibn Arabi, é portanto grave. Que cada um se experiencie a si mesmo e discirna seu estado espiritual, pois assim como declara um versículo corânico: «O homem é uma testemunha que depõe contra ele mesmo, qualquer desculpa que profere» (75/14-15). Se não percebe os «responsórios» divinos ao longo da Oração, é que realmente não está presente com seu Senhor; incapaz de entender e de ver, não é realmente um mosalli, um orante, nem alguém «que tenha um coração, que ouça e seja uma testemunha ocular» (40/36). O que chamamos o «método de oração» de Ibn Arabi comporta assim três graus: presença, audição, visão. Quem quer que perca um destes três graus, permanece fora da Oração e de seus efeitos, os quais estão ligados ao estado de fana. Esta palavra, já vimos, não significa na terminologia de Ibn Arabi a «nadificação» da pessoa, mas sua ocultação a si mesma, e tal é a condição para perceber o dhikr, o responsório divino que é, desta vez, a ação do Senhor pondo seu fiel no presente de sua própria Presença.


Sumário

  • A autotestemunha do homem e os graus da oração em Ibn Arabi

    • A necessidade de o discípulo testar a si mesmo e discernir seu próprio estado espiritual.
    • A condição de presença com o Divino como requisito para a oração autêntica.
    • Os três graus do método de oração: presença, audição e visão.
    • O estado de fana como ocultação do indivíduo para si mesmo e condição para apreender o dhikr.
  • A estrutura do diálogo íntimo e a iniciativa na oração

    • O motivo da resposta divina como elemento fundante do diálogo íntimo.
    • A questão sobre quem toma a iniciativa no diálogo de oração.
    • A análise da estrutura da oração a partir da intuição mais profunda da teosofia de Ibn ‛Arabi.
  • A Imaginação Ativa e a oração como teofania

    • A teofania no coração do orante como originária do Ser Divino.
    • A oração como "Oração de Deus" e a expressão profética no passivo: "Minha consolação foi posta para mim na oração".
    • A sacralização do tempo da oração e a proibição de interrupções.
    • A himma como energia espiritual que projeta a imagem de suporte para a teofania.
    • A imagem teofânica como consequência da capacidade do místico e como precedente à sua existência, pré-determinada em sua hezeidade eterna.
    • A lei estrutural da Imaginação teofânica que a distingue da fantasia e a liga ao testemunho sobre aquele que a imagina.
  • A reciprocidade de papéis entre Deus e o fiel na oração

    • A estrutura das teofanias implicando a troca de papéis entre Deus e seu fiel.
    • A oração de Deus e dos Anjos como guia do homem para a luz, conforme o Alcorão: "Há Aquele que ora por ti e também Seus Anjos, para te levar das Trevas para a Luz".
    • A revelação do segredo das respostas divinas na estrutura que alterna os papéis de Primeiro e Último.
  • A homonímia de musalli e a alternância dos Nomes Divinos

    • A homonímia significativa da palavra musalli como "aquele que ora" e "aquele que vem depois".
    • A iluminação da relação entre a Oração de Deus e a Oração do homem.
    • A atribuição alternada dos Nomes Divinos "O Primeiro" (al-Awwal) e "O Último" (al-Akhir), correspondentes a "O Oculto" (al-Batin) e "O Revelado" (al-Zahir).
      • Deus como musalli: A manifestação de Deus sob o Nome "O Último" e "O Revelado".
        • O "Deus que ora em nossa direção" como o Deus manifestado, dependente do fiel.
        • O "Deus criado nas crenças" como individuação divina de acordo com a capacidade do receptáculo.
        • A citação de Junayd: "A cor da água é a do vaso que a contém".
        • A posteridade de Deus em relação ao ser do fiel e a sua condição de "Último".
      • O fiel como musalli: A atribuição do Nome "O Último" ao fiel, que é posterior a Deus.
        • O ser do fiel como manifestação do "Tesouro Oculto".
        • A Imaginação Criativa não criando um "Deus fictício", mas projetando a imagem primordial que Deus primeiro imaginou.
        • A noção psicológica de que "o Deus criado nas crenças é o símbolo do Si Mesmo".
  • A autorreferencialidade do louvor e a oração como diálogo íntimo

    • A interpretação dos versos corânicos: "Cada ser conhece sua Oração e sua forma de glorificação" e "não há ser que não glorifique a sua glória".
    • O louvor que cada ser presta a si mesmo.
    • O cruzamento entre o caminho do eu empírico e o caminho do Si Mesmo como paredros do gnóstico.
    • A oração íntima (munajat) como "serviço divino" privado, distinguindo-se da oração coletiva.
  • A vida de oração como processo de individuação e ciência do coração

    • A prática da oração como forma autêntica de "processo de individuação".
    • A liberação da pessoa espiritual das normas coletivas e evidências prontas.
    • A realização da "ciência do coração" como teosofia de Ibn ‛Arabi.
    • A "fenomenologia do coração" e a tomada de consciência do "Deus criado nas crenças" como uma "recorrência da criação".
  • A limitação da crença dogmática e a crítica à teologia negativa

    • A ignorância do não-gnóstico sobre o processo de "criação" em sua fé.
    • O conflito entre crenças dogmáticas estabelecidas como absolutas.
    • A crença como mera opinião, à luz do hadith: "Conformo-Me à opinião que Meu fiel tem de Mim".
    • A ilusão da teologia negativa (tanzih) que permanece dependente da opinião.
    • A purificação racional como mistura da divindade com as categorias da razão.
    • O acordo com a teosofia ismaelita sobre a insuficiência do tanzih e do tashbih.
    • O escândalo do teólogo dogmático perante a noção do "Deus criado nas crenças" como autorrevelação da idolatria metafísica.
  • A transmutação esotérica do dogma em símbolo

    • A conversão do dogma confessional em símbolo (mazhar) estabelecendo sua verdade divina.
    • A fundamentação da verdade humana da crença em uma criação divina.
    • A experiência da oração como diálogo de troca de papéis para a autentificação recíproca.
    • O segredo místico do louvor mútuo entre Adorador e Adorado como "Primeiro" e "Último".
    • A tomada de consciência da função teofânica do ser e a compreensão dos limites da epifania divina.
  • O significado da "Oração Criativa" e a visão da hezeidade

    • A oração como aspiração a uma "nova criação" e reflexo do estado espiritual do orante.
    • A condicionamento da dádiva divina pela hezeidade ou essência-arquétipo ('ayn thabita) do fiel.
    • A visão intuitiva da hezeidade como supremo dom místico.
    • A impossibilidade da teofania incondicionada, pois dissolveria o ser a que se mostra.
  • A relação recíproca de espelhamento entre Deus e o homem

    • A analogia do espelho: "Deus é teu espelho, em que contemplas tua alma, e tu és Seu espelho, em que Ele contempla Seus Nomes Divinos".
    • A hezeidade individual e a Forma Divina como focos da elipse da oração.
    • A Oração de Deus e a Oração do homem como estrofes de um mesmo "salmo confidencial".
    • A relação de reciprocidade entre dois espelhos, ilustrada pela experiência visionária de Ibn ‛Arabi e por Suhrawardi: "Tu és o Espírito que me gerou (...) e és o filho do meu pensamento".