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id da página: 8055 Henry Corbin A IMAGINAÇÃO CRIADORA NO SUFISMO DE IBN ARABI – O método de oração teofânica Henry Corbin

Corbin Oração Teofânica

O método de oração teofânica

Que em uma doutrina com aquela de Ibn Arabi a Oração assuma ainda uma função, até uma função essencial, pode surpreender como um paradoxo, por vezes negar a autenticidade. É que no fundo em se apressando em classificar sua doutrina da «unidade transcendente do ser» no que denominamos monismo e panteísmo, com o sentido que tomam estas palavras em nossa história da filosofia moderna, tornava-se com efeito difícil compreender qual sentido pode ainda guardar o que se denomina Oração. É este sentido que nos propomos destacar em falando da «Oração criadora», isso no contexto onde a Criação acaba de nos ser mostrada como uma teofania, quer dizer como Imaginação teofânica. (Talvez as análises que precedem teriam ao menos por fruto sugerir algumas reservas a respeito dos juízos muito apressados; este voto não significa no entanto que sonhávamos em integrar a força a teosofia de Ibn Arabi à ortodoxia comum do Islã exotérico!) a estrutura teofânica do ser, a relação que ela determina entre Criador e criatura, implica, certamente, a unidade de seu ser (porque é impossível conceber o ser extrínseco ao ser absoluto). Mas o próprio deste ser de essência única é de se diferenciar, de se «personalizar» em dois modos de existência correspondendo a seu ser oculto e a seu ser revelado. Certamente, o revelado (zahir) está com certeza a manifestação (zahur) do oculto (batin); formam uma unidade indissolúvel; isso não quer dizer sua identidade existencial. Pois existencialmente, o manifestado não o oculto, o exotérico não é o esotérico, o fiel não é o senhor, a condição humana (nasut) não é a condição divina (lahut), embora uma mesma realidade essencial profunda condicione sua diversificação assim como sua co-dependência recíproca, sua bi-unidade.


Sumário

  • A aparente paradoxia da oração na doutrina de Ibn Arabi e a crítica às classificações precipitadas

    • A dificuldade de compreender a função da oração a partir de classificações como "monismo" ou "panteísmo"
    • A necessidade de análise da "Oração Criativa" à luz da criação como teofania e Imaginação teofânica
    • A ressalva quanto à integração forçada da teosofia de Ibn Arabi com a ortodoxia exotérica do Islã
  • A estrutura teofânica do ser e a relação entre Criador e criatura

    • A unidade de essência do ser e sua personalização em dois modos de existência
    • A distinção existencial entre o ser revelado e o ser oculto, apesar de sua unidade indissolúvel
    • A afirmação de que "o papel é compartilhado entre Ele e nós" e sua consonância com Angelus Silesius: "Sei que sem mim, a vida de Deus se perderia"
  • O fundamento da ideia de serviço divino e a partilha de papéis na teofania

    • A noção de serviço divino como alimentação do senhor do amor com o próprio ser
    • O protótipo desse serviço na hospitalidade de Abraão aos Anjos no carvalho de Manre
    • A partilha de papels na manifestação do ser como fundamento da noção de oração em Ibn Arabi
  • A oração como método de oração teofânica e a situação dialógica

    • A experiência dialógica como refutação de tentativas de redução a um monismo existencial
    • A unidade do ser como condição da situação dialógica
    • A reciprocidade da Compaixão Divina, movendo-se do Criador para a criatura e vice-versa
  • A natureza da oração como expressão de um modo de ser e meio de causar existência

    • A rejeição da oração como um pedido por algo
    • A oração como meio de fazer aparecer o Deus que se revela
    • A refutação da objeção sobre a irrealidade de um Deus "criado" pela Imaginação
  • A oração como forma suprema da Imaginação Criadora e a partilha de papéis

    • A Oração de Deus como aspiração de ser conhecido
    • A Oração do homem como realização da teofania
    • A afirmação de que "Deus reza por nós", significando que Ele se epifaniza
  • O órgão da oração e o plano do Encontro

    • O coração como órgão psicospiritual da oração e sua energia concentrada, a himmah
    • O plano intermediário da "Presença Imaginativa" como local da coincidentia oppositorum
    • A oração como um momento de recorrência da Criação
  • A ação litúrgica interna baseada na primeira sura do Alcorão (Al-Fatihah)

    • A Fatihah como serviço divino compartilhado entre Deus e Seu fiel
    • A oração como "diálogo íntimo" e a munajat
    • A dhikr como rememoração no coração, distinta de litanias ou sessões coletivas
  • A constituição do diálogo íntimo e a rememoração recíproca

    • A necessidade da dhikr por parte do Senhor Divino, tendo Seu fiel presente
    • A interpretação do versículo: "Tem-me presente ao teu coração. Ter-te-ei presente a Mim mesmo"
    • A oração como aberta à visão contemplativa
  • O método de oração de Ibn Arabi em três momentos

    • O primeiro momento: colocar-se na companhia de Deus e conversar com Ele
    • O momento intermediário: imaginar Deus presente na Qiblah
    • O terceiro momento: atingir a visão intuitiva, contemplando Deus no coração
  • A estrutura da Fatihah e sua meditação como ação litúrgica em três fases

    • A primeira fase: a ação do fiel em direção ao seu Senhor
    • A segunda fase: a ação recíproca entre o Senhor e Seu fiel
    • A terceira fase: a ação do Senhor em direção ao Seu fiel
  • O centro da ação litúrgica e a relação pessoal com o Senhor

    • A oração dirigida ao Senhor manifestado em uma forma teofânica específica
    • A relação única e indivisa entre o Senhor e o fiel cuja alma é seu receptáculo
    • O retorno do fiel ao seu Senhor como retorno ao seu Paraíso e a si mesmo
  • A comunidade resultante da união teopática

    • A constituição da totalidade de um Nome divino pela relação recíproca
    • A expressão da união no versículo central: "Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda"
    • O comentário poético de Ibn Arabi sobre o serviço divino
  • O significado criativo da oração e a troca de Nomes

    • A oração como conjunção do Adorador e do Adorado, do Amante e do Amado
    • A troca de Nomes divinos como ato de Criação
    • A partilha simultânea dos Nomes "O Primeiro" e "O Último"
  • A visão da Forma de Deus e a realização da hecceidade eterna

    • A visão imaginativa da Forma de Deus como revelação da própria forma do fiel
    • O caminho reto como realização da aptidão para a função teofânica
    • A oração como o próprio ser do fiel, sua capacidade de ser, exigindo plena realização