René Guénon: REALEZA E PONTIFICADO
Por lo que acabamos de decir, ya se puede comprender que el «Rey del Mundo» debe tener una función esencialmente ordenadora y reguladora (y se observará que no carece de fundamento que esta última palabra tenga la misma raíz que rex y regere), función que puede resumirse en una palabra como la de «equilibrio» o de «armonía», lo que traduce precisamente en sánscrito el término Dharma 1 : Lo que entendemos por eso, es el reflejo, en el mundo manifestado, de la inmutabilidad del Principio supremo. Se puede comprender también, por las mismas consideraciones, por qué el «Rey del Mundo» tiene como atributos fundamentales la «Justicia» y la «Paz», que no son más que las formas revestidas más especialmente por ese equilibrio y esa armonía en el «mundo del hombre» (mânava-loka)2 . Ese es también un punto de la mayor importancia; y, además de su alcance general, se lo señalamos a aquellos que se dejan llevar de ciertos temores quiméricos, de los que el libro mismo de M. Ossendowski contiene como un eco en sus últimas líneas.
Al hablar de ese «punto de juntura», pensábamos sobre todo en el Druidismo; y he aquí justamente que, a propósito del Druidismo, encontramos todavía en Atlantis (Julio-Agosto de 1929) otra nota que prueba cuan difícil es a veces hacerse comprender. Al sujeto de nuestro artículo de junio sobre el «triple recinto» 3
, M. le Cour escribe esto: «Es restringir el alcance de este emblema el hacer del mismo únicamente un símbolo druídico; es verosímil que le es anterior y que irradia más allá del mundo druídico». Ahora bien, estamos tan lejos de hacer de él únicamente un símbolo druídico que, en ese artículo, luego de haber notado, según M. le Cour mismo, ejemplos relevados en Italia y en Grecia, hemos dicho: «El hecho de que esta misma figura se encuentre en otras partes además de entre los Celtas indicaría que había, en otras formas Tradicionales jerarquías iniciáticas constituidas sobre el mismo modelo (que la jerarquía druídica), lo que es perfectamente normal». En cuanto a la cuestión de anterioridad, sería menester primero sabe a qué época precisa se remonta el Druidismo, y es probable que se remonte mucho más atrás de lo que se cree de ordinario, tanto más cuanto que los Druidas eran los poseedores de una Tradición de la cual una parte notable era incontestablemente de proveniencia hiperboreana.
Études Traditionnelles 41 200 (1936)
- O Druidismo
- Os guardiões da tradição céltica (Druidismo) dividiam-se em três classes, cada uma encarregada de conservar um aspecto específico dessa tradição.
- As três classes conservavam: uma religião para o povo (com crenças, culto e divindades); uma iniciação a mistérios de ordem cosmológica (reservada aos nobres e cavaleiros); e uma sapiência superior (com símbolos e mistérios de ordem metafísica, ensinada apenas ao sacerdócio).
- Entre os Gaélicos, estas classes eram designadas como Bardos, Files e Druidas, sendo os três termos com o sentido de "inspirado" ou "vidente" em diferentes graus, sendo o conjunto frequentemente chamado "Druidismo".
- Na época de César, o principal centro do Druidismo era na Grã-Bretanha, para onde deveriam ir aqueles que desejavam aprofundar a doutrina.
- O Druidismo é anterior à chegada dos Deutero-Celtas (Gaélicos e depois Britões) e data da época dos Proto-Celtas (Lígures e talvez outros povos anteriores) que só conheciam a pedra.
- O Druidismo passou da Grã-Bretanha para a Irlanda e a Armórica, como atestam os monumentos megalíticos destes dois países.
- O papel do Druidismo na Gália foi exagerado, sendo seu domínio espiritual limitado, pois eles não ultrapassaram o Reno, os Alpes ou os Pireneus, e eram desconhecidos ao sul do Garona e a leste do Ródano, ou seja, só eram conhecidos na "Gália cabeluda".
- Os Druidas chegaram à Gália no século II antes da nossa era e eram desconhecidos antes desta época, estando em plena decadência no tempo da conquista romana e sem papel na guerra de submissão a César.
- O famoso Divitiacus, o Eduen, não era um Druida, mas sim um Ovate, segundo César, embora Cícero o tenha chamado de Druida.
- Na Gália, os Druidas eram "missionários" estrangeiros que difundiam uma doutrina nova, e não um sacerdócio secular surgido do seio do país.
- Os sacerdotes gauleses eram os Gutuatri (de Goth, Deus, que significa "os faladores"), equivalentes aos flâmines romanos.
- César, e outros, confundiam os eubages, os ovates e os bardos com os Druidas propriamente ditos.
- O Druidismo se restringia à Armórica, sendo Karnak seu centro, e o local da assembleia geral dos Druidas da Armórica e da Ilha Britânica.
- A sociedade deutero-céltica era dividida em três classes: o povo, os clérigos e, entre as duas, a classe dos homens livres ou nobres.
- Os clérigos eram dedicados ao estudo, às funções sacerdotais e à magistratura, e César lhes dava o nome geral de Druidas, mas Strabon, Diodoro e Timagène distinguiam os três graus: Bardos, Files e Druidas.
- Os Bardos eram poetas que cantavam os feitos dos homens ilustres, acompanhados por uma lira de cinco cordas (cruithen em irlandês, crwth em galês), e eram os genealogistas e depositários sucessivos das lendas.
- Os Bardos não redigiam os poemas sagrados e ignoravam a escrita oghâmica, mas seus poemas eram compostos segundo regras tradicionais sobre temas fundamentais redigidos em forma de "tríades".
- O "caldeirão" (coire em irlandês, peire em galês) era associado aos Bardos, que eram "cantores ferreiros" (cerdi-s em irlandês, significando "poeta" e "operário em cobre").
- Enquanto na Irlanda os Files se arrogavam a maior parte das funções dos Bardos, no País de Gales estes conservaram sua organização tradicional, mas os manuscritos de suas lendas foram destruídos na época de Cromwell.
- Na Irlanda, os Bardos haviam degenerado em pequenas pessoas de pouca consideração e influência, sendo a maioria de suas prerrogativas transferida aos Files, situação análoga à dos Bardos gauleses (espécie de griots que lisonjeavam os grandes em troca de pagamento).
- A segunda classe dos clérigos era a dos "files" (do bretão gwelout, ver), ou "videntes", que se ocupavam em perscrutar e interpretar os mistérios da natureza e o domínio cosmológico, constituindo os "pequenos mistérios".
- Os Files eram chamados no continente eubages e vates, sendo que o que César relata sobre os Druidas se refere, na verdade, aos vates.
- Havia nove classes de Files na Irlanda, chefiadas por um Ollam (que César chama Archidruide), que devia saber de cor 350 poemas sagrados.
- Na Irlanda, a importância dos Files aumentou em detrimento dos Bardos e dos Druidas, que na ilha eram apenas magos que ocasionalmente faziam a guerra.
- Os Files detinham o poder sacerdotal e a administração da justiça, mantendo-se como brehons (juízes) na Irlanda até o século XII.
- Os Files possuíam os ritos divinatórios e, na Gália, previam o futuro pela observação de pássaros e vítimas imoladas, usando um rito que envolvia golpear o peito de um homem com a espada e observar a queda, as convulsões e o fluxo do sangue.
- Na Irlanda, os Files tinham três métodos principais de adivinhação: o Imbas foros-nai ("Grande ciência que esclarece"), o Teinm Loïda ("Luz do poema lírico"), que foram proibidos pelo Cristianismo, e o dichetal di chennaib cnaime ("incantação pela ponta dos dedos"), que foi tolerado.
- O Imbas foros-nai envolvia o File mastigar carne e cantá-la sobre um altar, depois cantar sobre as mãos, pedindo aos deuses que não perturbassem seu sono de até nove dias, no qual ele teria um sonho revelador.
- O dichetal di chennaib cnaime (tolerado na época cristã) não exigia sacrifícios, sendo o elemento principal a improvisação de um quadra: o File via um homem de longe e compunha e cantava imediatamente um quadra sobre ele com a ponta dos dedos e o espírito, sem preparação.
- Se o File proferisse uma encantação injusta, três enormes borbulhas murchavam seu rosto, e se o juiz proferisse um julgamento iníquo, os frutos caíam das árvores e as vacas não davam mais leite.
- Os Files faziam remontar a origem de seus conhecimentos ao deus supremo, mestre do mundo, que é ao mesmo tempo: Dagdé (o bom deus), Mor (o Grande) e Ruad-Rofhessa (o Senhor do alto Conhecimento).
- A filha de Dagdé, Brigit (a "File feminina"), casou-se com Bress (filho de Elatha, "ciência" e "composição literária"), de cujo casamento nasceram Brian, Iuchar e Uar (os três deuses das artes), que tiveram um filho em comum chamado Ecné ou Sapiência (identificado com Lugaid ou Lug).
- A Sapiência foi pai do Conhecimento, que foi pai do Grande Julgamento, que foi pai da Grande Ciência, que foi pai da Reflexão, que foi pai da Alta Instrução, que finalmente gerou o File.
- Dagdé era o soberano da Ilha dos quatro Mestres primitiva, a Ilha Verde primordial, onde desembarcaram os descendentes de Milé (filho de Bélé, um dos nomes do deus da morte), vindos da Grande Terra do Oeste.
- Amairgen (o File principal) ao pôr o pé direito na terra da Irlanda, cantou em louvor à ciência divina, que lhe dava um poder superior aos deuses e lhe permitia governar as forças da natureza.
- A ciência do File é o Conhecimento efetivo e direto, que implica a identidade do Conhecedor com os objetos conhecidos e com o próprio Ser.
- O File que atingia este estado, tornando-se Druida, era o Conhecimento revestido de forma humana e podia proclamar: "Eu sou Palavra de Conhecimento, Eu sou o deus que cria na cabeça do homem o fogo do pensamento, Eu sou o vento que sopra sobre o mar, Eu sou a onda do oceano, Eu sou o murmúrio das águas...".
- Os Bardos galeses, como Taliesin, colocavam estes versos no passado: "Eu fui uma lágrima no ar, Eu fui uma águia, Eu fui árvore no bosque...", tratando das metamorfoses simbólicas dos ciclos sucessivos.
- Os Files consignavam seus conhecimentos em longos poemas. Strabon afirma que os Celtiberos conservavam poemas escritos de dezenas de milhares de versos, que, para o autor, formam o fundo do Edda escandinavo.
- O Edda ("coisa antiga", "avó") tem o mesmo sentido que Purâna, sendo que a redação das Eddas é recente, mas utilizam elementos muito antigos.
- Nos primeiros séculos da era cristã, os Files redigiram as epopeias irlandesas, que nos são conhecidas por resumos posteriores, misturando tradições antigas com elementos cristãos.
- Saint Patrice na Irlanda teve os Files como seus melhores auxiliares contra os Druidas degenerados.
- A conversão dos Files resultou na formação dos famosos monges irlandeses (cenobitas) e Culdées (anacoretas), que guardaram o "flambeau intelectual" na Europa ocidental por longos séculos.
- O Druidismo é como a Esfinge da fábula: devorou todos os que tentaram arrancar-lhe seu segredo, sendo que quase tudo o que se lhe atribuiu é reconstituição conjectural ou fantasia.
- O nome Druida não deriva do grego drus ("carvalho"), como afirmava Pline, mas sim de duas raízes célticas: dru-uid, que significa literalmente "fortemente vidente" ou "mestre em sabedoria", sendo seu equivalente hebraico roèh ("vidente"), o termo mais antigo na Bíblia para designar os Profetas.
- Os Druidas eram para os Celtas o que os Profetas eram para os Hebreus.
- Diogenes Laërce afirmava que a filosofia nasceu nos bárbaros, sendo os primeiros filósofos os Gymnosophistes (Brahmanes) na Índia, os Magos na Pérsia, os Caldeus na Assíria, e os Druidas entre os Celtas.
- Os Druidas tinham discípulos em vez de alunos, ensinavam em segredo em cavernas no meio das florestas, e o objeto principal de seu ensino era a teologia, a filosofia e a astronomia.
- Strabon os reputava como os mais justos dos homens.
- O ensino dos Druidas era transmitido oralmente, e os únicos pontos de sua doutrina conhecidos exteriormente eram a imortalidade da alma e a destruição do mundo pela água e pelo fogo.
- Os Druidas ensinavam que a morte é apenas um deslocamento, e a vida continua com suas formas e bens em outro mundo (o mundo dos mortos), que é um reservatório de almas disponíveis.
- Eles parecem ter acreditado na metempsicose e na metensomatose, doutrina idêntica à de Pythagore.
- Eles ensinavam que a parte mais elevada do ser vai para um "outro mundo" (o mundo celeste), que o povo acabou por situar em outro lugar desta terra, a "Terra dos Deuses" ou Ilha sagrada.
- Os Celtas jogavam nas chamas das fogueiras de incineração cartas que o morto deveria levar a seus parentes, e se emprestavam dinheiro uns aos outros reembolsável na outra vida, o que é incompatível com a reencarnação.
- Os Druidas formavam uma espécie de congregação religiosa, vivendo em comunidades submetidas a uma regra geral (segundo Timagène) ou em retiros profundos dedicados às ciências especulativas (segundo Lucain e Mela).
- Eram os Druidas que pronunciavam as condenações à morte e presidiam as execuções e sacrifícios públicos e privados, atuando como intermediários que "conheciam a natureza dos deuses" e "falavam a mesma língua que eles".
- É provável que os Druidas (e não os Files, que eram sacrificadores) tivessem dirigido a construção dos monumentos megalíticos antes da invasão dos Goidels, pois a construção só é compreensível sob a hipótese de uma aristocracia religiosa exercendo um império quase absoluto.
- Os Druidas praticavam a adivinhação por números, pedras e quatro varetas de teixo com caracteres oghâmicos, e eram também médicos ou conhecedores de certos remédios, utilizando dez plantas sagradas (como o gui do carvalho rouvre, símbolo da Sapiência).
- Os emblemas dos Druidas eram: o trevo (equinócio de primavera), o carvalho (solstício de verão), a espiga de trigo (equinócio de outono) e o gui (solstício de inverno).
- O Druidismo era a continuação dos sacerdotes de Apolo hiperbóreo, que tiveram que deixar a Ilha sagrada.
- O Druidismo e outras tradições resultaram do desmembramento de um vasto império teocrático cujo centro era no Himalaia e se estendia até a China e a Grã-Bretanha (segundo Gottfred Higgins).
- Os Druidas eram "sacerdotes-reis" na época proto-céltica.
- Eles acabaram se retirando para as montanhas do Norte da Grã-Bretanha, onde a maioria se tornou cristã, formando os monges Culdées, enquanto os Druidas não convertidos foram militarmente derrotados e se extinguiram no século VI.
- Os Druidas viviam como todos os outros, com direito à propriedade individual e eram casados, habitando suas casas com família e talvez alguns alunos internos.
- A sociedade céltica governada pelos Druidas era uma teocracia, que Alexandre Bertrand comparou engenhosamente à teocracia do Tibete.
- No entanto, as maiores analogias do Druidismo seriam encontradas no Pitagorismo, sendo Pitágoras (que, segundo Aristóteles, foi apelidado de "Apolo hiperbóreo") o sucessor do Trácio Orfeu.
- Timagène, Poseidonios, Ammien Marcellin e Diodoro da Sicília já haviam apontado as ligações estreitas entre Hiperbóreos, Celtas, Daces e Caldeus, que denotam a mesma origem tradicional.
- Mail e Caplait eram Druidas irlandeses que tinham cada um sob sua guarda uma filha do rei supremo Loegairé, contemporâneo de Saint Patrice.