Skip to main content
id da página: 8033 Henry Corbin – O IRÃ E A FILOSOFIA – Iranologia e ciência das religiões Henry Corbin

Corbin Religiões

Iranologia e ciência das religiões

A honra de introduzir no âmbito dos trabalhos do Instituto de Iranologia o tema fundamental da ciência das religiões nos dá ao mesmo tempo consciência da temível complexidade da tarefa. O conjunto de problemas e pesquisas que se ordenam atualmente ao conceito desta ciência teve origem, há cerca de um século e meio, na situação filosófica própria ao Ocidente. Esta situação mesma é o fruto amadurecido pelas experiências e crises que se estendem ao longo de vários séculos, de tal modo que para aprofundá-la até suas raízes — e supondo que a história possa alguma vez atingir estas profundezas secretas! — seria necessário aqui analisar o destino do homem religioso ocidental pelo menos desde a grande crise do século XVI, aquela que se resume nos dois eventos do Renascimento e da Reforma. Isso somente permitiria compreender o clima passionado no qual puderam se desenvolver por vezes ao curso do século XIX as pesquisas religiosas, em primeiro lugar sem dúvida porque demasiado numerosos participavam aqueles que não estavam interessados senão a um resultado negativo.

É dizer ao mesmo tempo que tocamos lá no ponto mais sensível que seja colocado em questão quando nos propomos formular o contraste entre o Oriente e o Ocidente, mais frequentemente talvez entre um Ocidente tal como se supõe integralmente tornado, e a imagem de um Oriente tal como se teria mantido. O contraste assim acentuado pôde provocar justos exames de consciência; foi também por vezes pretexto para paralelos um pouco sumários. Seja como for, estamos advertidos da seriedade destas pesquisas e de sua aposta. Sua interrogação porta sobre as mais graves questões que o ser humano pôde ou poderá jamais se colocar sobre si mesmo, sobre seu ser absolutamente próprio. E elas se esforçam por apreender as respostas que lhes deram por sua vez as gerações humanas nos símbolos que configuraram e nos textos que nos transmitiram, ou que nos cabe reconquistar.

Mas se o objeto da enquete é como a fonte que lhe dá origem, universalmente humano, é sempre numa situação concreta do homem que nos é dado, e é a partir desta situação concreta que pode se tornar compreensível. E aí está a dificuldade primordial, de ordem metodológica. Ao querer se aproximar de um tipo de ciência abstrata e geral, tem-se aqui a certeza de faltar ao objetivo. Não se passa do mesmo modo que para uma técnica que se pode transmitir, com o meio de se servir dela. É possível aos linguistas e aos filólogos desmontar o mecanismo de suas enquetes, entregar o segredo de seus arquivos, inculcar o rigor de seus procedimentos. Todas estas fases, que têm seu lugar sem dúvida no caminho das pesquisas de ciências religiosas, deixam aqui o pesquisador ainda bem aquém do objetivo real.

Assim nossa primeira pensamento é este. Não poderia tratar-se para nós de transpor artificialmente questões, e menos ainda interpretações já feitas. Não mais de proceder ao inventário de uma produção massiva, de trazer à luz tantas construções justamente esquecidas, de polêmicas decididamente ultrapassadas. Muito mais importante será indicar em que termos, à luz de experiências dolorosas e de uma renovação de nossa visão do mundo tão completa que reforma ao mesmo tempo nosso conceito das "ciências humanas", as pesquisas de ciências religiosas tendem a se instituir.

Neste domínio, a iranologia coloca naturalmente problemas que lhe são próprios; mas talvez ao colocá-los esteja também em condições de contribuir para o renovamento dos métodos, isto é, para o renovamento das maneiras de ver e de fazer ver. É ao conseguir tomar consciência disso, e formular progressivamente esta tarefa, que justificaremos em sua essência a conexão entre os dois conceitos: iranologia e ciência das religiões.

  • Auge da ciência das religiões no século XIX
  • Dificuldades terminológicas
  • Para uma hierologia
  • Iranologia e hierologia