Compreender o esoterismo
O homem envenenado pelo passional
O homem que perdeu a graça divina, portanto o homem comum, é como que envenenado pelo elemento passional de maneira rude ou sutil; daí resultando uma obscuração do Intelecto e a necessidade de uma Revelação oriunda do exterior. Retirem o elemento passional da alma e da inteligência — retirem “a ferrugem do espelho” ou do “coração” — e o Intelecto ficará liberto; ele revelará, do interior, o que a religião revela do exterior.1 Mas isto é importante: para poder fazer-se entender por almas impregnadas de paixão, a própria religião deve adotar uma linguagem, por assim dizer, passional, donde o pragmatismo que exclui e o moralismo que esquematiza. Se o homem comum ou o homem coletivo não fosse passional, a Revelação usaria a linguagem do Intelecto e não haveria mais nenhum exoterismo, aliás nem esoterismo como complemento oculto. Existem três possibilidades: na primeira, os homens dominam o elemento passional, cada um vive espiritualmente de sua Revelação interior; é a idade de ouro, quando cada um nasce iniciado. Segunda possibilidade: os homens são afetados pelo elemento passional a ponto de esquecer determinados aspectos da Verdade, de onde a necessidade — ou a oportunidade — de Revelações externas, mas de espírito metafísico, tais como os Upanishads.2 Terceira: a maioria dos homens são dominados pelas paixões, de onde as religiões formalistas, exclusivas e combativas, que lhes comunicam, por um lado, o meio de canalizar o elemento passional tendo em vista a salvação e, por outro, o meio de vencê-lo, tendo por objetivo a Verdade total, e de superar dessa forma o formalismo religioso que encobre essa Verdade, sugerindo-a indiretamente. A Revelação religiosa é ao mesmo tempo um véu de luz e uma luz velada. (SCHUON, Frithjof. Esoterismo como Princípio e como Caminho. Tr. Setsuko Ono. São Paulo: Editora Pensamento, 2022)