Os conceitos aplicados aos objetos, de onde são tirados por abstração e aplicados ao ser, enquanto ser, ou às realidades que formam o objeto da metafísica, são unívocos, equívocos ou análogos?
Não podem ser equívocos, pois não há nenhuma realidade que seja totalmente diferente do mundo de nossa experiência. Deus ultrapassa-nos totalmente, mas não é impermeável a nós, pois é a origem de tudo, e em tudo há algo dele.
Não podem ser unívocos, pois as realidades metafísicas, às-quais nós os aplicamos, diferem dos fatos da experiência de onde foram abstraídas.
Exs.: da forma, do fim, etc.
São, portanto, análogos:
A univocidade leva-nos ao monismo, que admite uma única: realidade; Deus (monismo panteísta) ou matéria (monismo materialista) ou ao pensamento (monismo idealista).
A equivocidade supõe o dualismo ou o pluralismo, ou seja, a: existência de realidades totalmente diferentes (distintas), e independentes. Só a analogia pode assegurar a pluralidade ncr unidade: distinção do Ser absoluto e dos seres relativos, mas unidades, porque os seres relativos têm o ser do ser absoluto (criacionismo); distinção da alma e do corpo, mas unidade substancial (espiritualismo).
Esta síntese que acabamos de fazer desses antepredicamentos (assim são eles chamados na lógica, por serem preâmbulos e pré-requisitos para a ordenação dos predicamentos ou categorias), não exclui a problemática que surgirá sobre a univocidade e a analogia, que é de magna importância para os estudos ontológicos. Mas, seguindo nosso método, que primeiramente trata sinteticamente os temas, para analisá-los a seguir, e concrecioná-los finalmente, segundo a decadialética, na nossa concepção tensional, seguiremos, aqui, como em outras partes, os mesmos caminhos.
Logicamente considerado, um termo é unívoco quando significa (aponta, como sinal) uma razão simplesmente uma, convenientem multis distritibutive (unum in multis), isto é, uma conveniente, distributivamente, a muitos (um em muitos), como o definem os escolásticos. A sabedoria de Salomão e a sabedoria de um homem experiente, enquanto sabedoria, em sua quididade, isto é, em sua formalidade, é unívoca, pois sabedoria é sabedoria, e nada mais. A univocidade, aqui, é puramente formal, porque a sabedoria deste, e neste homem, consta de um saber qualitativamente de outro, pela soma maior ou menor de conhecimentos que um tenha em relação a outro 1 . Mas a sabedoria, como sabedoria, é unívoca. Este ponto é importante, para, mais adiante, compreendermos a polêmica entre os escotistas, que se colocam, quanto ao ser, no campo da univocidade, com os tomistas, que se colocam no campo da analogia.
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