Há uma forma de philautia virtuosa, que pertence à natureza do homem, que recomenda o Cristo no quadro do primeiro mandamento: “Amarás o próximo como a ti mesmo” ( MT 19,19; Lc 10,27), e que consiste em se amar a si mesmo como criatura à imagem de Deus e logo em se amar a Deus e em amar Deus em si. A philautia-paixão é uma perversão desta philautia virtuosa e consiste ao contrário no amor-próprio no sentido primeiro e não edulcorado deste termo, quer dizer no amor egoísta de si, no amor do eu caído, desviado de Deus e voltado para o mundo sensível, levando desde então uma vida carnal e não mais espiritual. Por esta última razão, a philautia é geralmente definida como um amor ou uma paixão pelo corpo e “para suas tendências passionais". É preciso entender aqui por corpo menos o composto somático ele mesmo, tal qual criado por Deus na origem, submetido à alma e espiritualizado, do qual todas os órgãos eram orientados, mas no entanto o corpo caído ao qual a alma se subordina e que se torna por seus sentidos e seus méritos o órgão primordial do conhecimento (gnosis — episteme) e do deleite do mundo considerado de um ponto de vista exclusivamente sensível, isto é independentemente de Deus. O corpo, dito de outro modo, consiste aqui naquilo que o Apóstolo e a tradição geralmente chamavam de “carne” (sarx). Também Teodoro de Edessa define ainda a philautia como “disposição passional”, e como “a satisfação acordada às vontades carnais”. Nicethas Stethatos escreve no mesmo sentido: os psíquicos, “dominados pela philautia (...) põem todos os seus cuidados na saúde e no deleite da carne. E mais adiante salienta muito o alcance geral desta paixão: “A philautia é o amor insensato do corpo. Leva (...) a se amar a si mesmo, a amar sua alma, a amar seu corpo”.
Maximo o Confessor explica assim este processo que conduz o homem da ignorância de Deus à philautia e da philautia às paixões (pathos): "Esta ignorância ... afasta completamente o homem do conhecimento divino para só preencher sua existência com o conhecimento apaixonado das coisas sensíveis. Largado assim livremente apenas às emoções dos sentidos a exemplo dos animais desprovidos de inteligência (nous), o homem afastado da beleza espiritual e divina (kalllos), encontra, através da experiência da parte exterior e corporal de sua natureza, uma criação que eleva ao lugar de Deus, posto que responde melhor às necessidades de seu corpo. Como o corpo (soma) é da mesma natureza que a criação (genesis) elevada ao lugar do Criador, o homem cobre seu próprio corpo de amor e de cuidados múltiplos. Com efeito, não se pode adorar a criação a não ser cuidando de seu próprio corpo.... Votado à servidão corruptora de seu próprio corpo e cativo pela philautia, o homem incessantemente permite que se desenvolvam nele as paixões (pathos) do deleite e do sofrimento." (Questões à Thalassius)
A philautia aparece com efeito fundamentalmente ligada ao prazer (hedone): ela é busca de deleite sensível, carnal, busca que, como vimos, é determinante na processo da queda do homem, em relação com a ignorância de Deus que a reforça e que ela reforça em contrapartida. Maximo o Confessor explica: "Mais o homem se volta às coisas sensíveis, através apenas de seus sentidos, mais a ignorância de Deus o desfigura; mais está acorrentado pela ignorância de deus, mais se dá ao deleite das coisas materiais conhecidas pela experiência; mais se impregna deste deleite, mais excita sua philautia, mais inventa meios múltiplos para obter o prazer (hedone), fruto e meta da philautia." (Ibid.) Ao mesmo tempo que na busca incessante e multiforme de deleite, a philautia leva o homem a evitar a dor que segue inevitavelmente o prazer (Ibid.). é em resposta a esta dupla tendência que, segundo Maximo o Confessor, nascem todas as paixões (pathos).