Lype — Tristeza
As duas formas de lype a serem distinguidas:
- a primeira se enquadra entre as "paixões naturais e irrepreensíveis", ou seja, integradas à natureza do homem em seguida ao pecado original, que testemunham sua decadência em relação ao estado original de perfeição;
- pode servir de base a uma virtude (arete): "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte." (2Co 7:10)
- constitui-se em estado de penitência, de dor espiritual (penthos), de compunção (katanyxis) e encontra sua realização no carisma das lágrimas.
- virtude indispensável ao homem para encontrar a via do Reino e reintegrar-se em Cristo o estado edênico.
- Maximo o Cnfessor escreve: "Nos homens fervorosos, mesmo as paixões se tornam boas quando ... a tomamos para adquirir as coisas do céu. assim se passa quando .... fazemos da tristeza o arrependimento (metanoia) que nos corrige do mal presente." (Questões a Thalassius)
- a segunda forma de tristeza, é uma paixão (pathos), uma doença da alma; em lugar de utilizar a lype para chorar por seus pecados (hamartia) e se afligir de seu afastamento de Deus e da perda dos bens espirituais; o homem a utiliza ao contrário para chorar a perda dos bens sensíveis.
- O homem sob esta paixão faz da tristeza um uso contra a natureza, anormal:
- João Crisóstomo constata: "Não é a adversidade mas o pecado somente que deve provocar a tristeza. mas o homem perverte esta ordem e confunde os tempos: multiplica portanto seus pecados e nisto não concebe nenhuma dor, e logo que sofre qualquer desagrado, se desencoraja."
O homem manifesta nesta paixão um comportamento duplamente patológico: por um lado não se aflige como deveria sobre uma questão tão aflitiva — seu estado de decadência, de pecado, de doença; por outro lado, se entristece a respeito de objetos, de estados, de situações, etc., que não merecem realmente qualquer consideração. A faculdade da aflição a qual dispõe o homem não somente não lhe serve, como Deus o havia desejado em lhe fazendo este dom, a se distanciar de seu estado de pecado, mas se encontra ao contrário utilizada de maneira absurda e insensata, em relação a sua finalidade natural, a manifestar seu apego a este mundo, entrando paradoxalmente a serviço do pecado.
A lype aparece como um estado da alma, diferente do que o termo parece indicar, feito de desencorajamento, astenia, peso e dor psíquicas, abatimento, desespero, opressão, depressão, acompanhada o mais freqüente de ansiedade ou mesmo de angustia.