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id da página: 4619 Mãe de Deus

Mãe de Deus

MÃE DE DEUS (Theotokos)

VIDE


Jaroslav Pelikan

Até mesmo nos evangelhos, como chegaram até nós, as relações entre Jesus e João Batista foram complicadas. Os evangelistas não deixaram de divulgar que o ministério de João Batista provocou grande inquietação entre "todos os homens", seus contemporâneos, "estando o povo na expectação, e pensando todos, em seus corações, se porventura João seria o Cristo". Contudo, eles tiveram dificuldades em explicar que o próprio João Batista identificou Jesus como o "Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo" e que, quando desafiado, explicitamente subordinou sua missão histórica à de Jesus — e sua pessoa a Ele, "do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias". Esse posicionamento foi transposto das relações entre João e Jesus para as relações entre Isabel e Maria. No relato que se tornou conhecido como a visitação, João ainda não era nascido: "Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo. Exclamou ela em alta voz: Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito o fruto do vosso ventre. De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?".

Mais tarde, considerou-se que a língua desse diálogo entre Maria e sua "prima" (syngenis) Isabel fora o aramaico e que elas poderiam até mesmo ter usado um pouco de hebraico, pois o título dado por Isabel a Maria, "Mãe do meu Senhor", he meter tou kyriou mou, em grego, só poderia ser interpretado como referência a Jesus Cristo se a forma usada tivesse sido Adonai, "Meu Senhor", termo usado para substituir o inefável nome divino, YHWH. De qualquer maneira, foi assim que os primeiros eruditos cristãos do Novo Testamento interpretaram o "título cristológico de majestade", kyrios, mesmo que os evangelhos ou o apóstolo Paulo não tenham pretendido estabelecer essa identificação. E como na principal afirmação de fé de Israel, a Shema, repetida por Cristo nos evangelhos — "Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor"-,"o Senhor" e "nosso Deus" já eram identificados como um único, os bispos reunidos no Concílio de Éfeso, em 431, não encontraram a menor dificuldade em transpor a expressão de Isabel referente a Maria, "a mãe do meu Senhor", para o preceito de Cirilo, isto é, Maria como Theotokos. (excertos do livro "Maria através dos séculos")