CORBIN, Henry. L’Iran et la philosophie. Paris: Fayard, 1990
Iranologia e filosofia
O termo "iranologia"
O primeiro termo figurando no título deste esboço apresenta talvez o aspecto de um neologismo ainda a justificar. Em si porém, ele não é nem mais nem menos insólito que os termos de egiptologia, assiriologia, elamologia, turcologia, etc., entrados em diferentes datas no uso corrente, porque os termos assim compostos têm a vantagem de tematizar um conjunto de pesquisas, simplificando as alusões e dispensando de recorrer a perífrases. Assim também o termo iranologia, se mesmo não está ainda entrado no uso corrente, já foi oficialmente registrado. O Larousse mensual, dezembro de 1948, p. 182, define assim o sentido: "Estudo do Irã em sua totalidade e em sua constância como unidade cultural." Se nos referimos aqui a esta autoridade, não é com alguma secreta intenção de humor, mas antes porque nos sentimos um pouco responsáveis por esta definição. Resulta de seu enunciado que existe um universo espiritual iraniano formando um conjunto aos contornos definidos, e do qual uma lei interior constante assegura a unidade através das vicissitudes múltiplas.
Falar do universo espiritual iraniano, de sua extensão e de seus limites, não é de modo algum falar de uma grandeza que coincidiria por isso com o Estado político moderno designado como Irã ou Pérsia, ou com suas fronteiras políticas. Enquanto filósofo, não se tem mesmo que se prender nem a um estado político nem a fronteiras políticas. De fato, se remontamos apenas além de uma vintena de anos, quando os orientalistas empregavam a palavra Irã, o termo designava um conjunto linguístico, geográfico, religioso, artístico, de modo algum o conceito de um Estado político. Este, em suas fronteiras atuais, era designado tradicionalmente pela palavra Pérsia. Os iranianos podiam sentir hoje como uma inexatidão, mesmo como uma injustiça, de não serem considerados senão como "persas", pois a Pérsia, o Fars, não é senão uma província ao sudoeste do planalto iraniano. Sem dúvida, mas inversamente é a palavra Pérsia, muito mais que a palavra Irã, que para os Ocidentais cobre ao mesmo tempo uma tradição e uma história políticas (como a Ilha-de-França tendo dado seu nome à França inteira). O livre uso dos nomes de Irã e Pérsia foi oficialmente autorizado. Ao empregar somente este, se corre o risco de esquecer as conexões com o universo iraniano. Ao empregar somente o primeiro, se corre o risco de fazer coincidir mentalmente este universo com as fronteiras e os dados de um Estado político, então que para o filósofo a significação está situada em outro plano.
Estas observações deviam ser feitas justamente para destacar o conceito filosófico da iranologia de uma delimitação qualquer por um conceito ou dados políticos. Sem dúvida, na medida em que por exemplo pesquisas de sociólogos, economistas, juristas portarão, lá como alhures, sobre os dados fornecidos pela estrutura atual do Estado e da sociedade, estas pesquisas serão outros tantos capítulos de iranologia. Somente, o de que se trata aqui, é de "iranologia e filosofia", e de nada mais. Ou antes de tudo isso. A altura de horizonte sobre a qual deve se guiar o filósofo impõe de todo outras exigências; correlativamente o filósofo deve assumir e liberdades e deveres que são prerrogativas de sua carga espiritual. A área geográfica correspondente ao universo espiritual iraniano se estende desde a Ásia central, além do Oxus, engloba historicamente o reino do Afeganistão, o noroeste da Índia, e se estende a oeste até a Mesopotâmia e até as ribeiras mediterrâneas da Ásia Menor. Estes espaços geográficos solicitam e solicitarão ainda muito tempo as escavações dos arqueólogos. Eles não têm a fornecer ao filósofo meditando sobre seus textos, de língua e proveniência diversas, senão um quadro de representação e de esquematização.
Mas então se pode dizer logo que para a filosofia meditada assim neste quadro mental a situação não é nem de todo clara nem bem satisfatória. A compararíamos dificilmente àquela da indologia ou da sinologia; aqui os filósofos orientalistas podem abraçar de um golpe de vista os conhecimentos adquiridos, por exemplo, desde uma cinquentena de anos. É para dizer que não houve filosofia no mundo iraniano, ou que as configurações produzidas pelo espírito iraniano, seus sistemas de religião e de pensamento não concernem às ciências filosóficas? Seria um paradoxo se recusando mesmo ao enunciado. Pelo menos, o fato de colocar estas questões e de buscar seu sentido, isto é, o fato de interrogar sobre "iranologia e filosofia", pode ser considerado como um fruto vindo lentamente à maturação pelo trabalho do orientalismo.
Esta interrogação nos refere à definição, mencionada mais acima, do mundo iraniano como formando uma totalidade e uma unidade cultural em sua constância. São esta constância e esta unidade de conjunto que decidem da questão. Pois todo mundo bem admitiu que houve no antigo Irã pré-islâmico algo que releva das ciências filosóficas, antes de tudo os monumentos de filosofia mazdeana (Bundahishn, Dênkart, etc.) redigidos neste médio-iraniano que se chama o pehlevi dos livros.
Mas que se torna o destino da filosofia no Irã após a "conquista islâmica"? Para suspeitá-lo, será necessário nos trabalhos gerais buscar habitualmente sob cabeças de capítulo todo outras que aquelas podendo evocar diretamente o mundo iraniano. Contudo os trabalhos dos anos recentes, sem concernir mesmo diretamente a filosofia, nos confirmaram que esta conquista islâmica não se fez em um dia, como se representava por vezes com simplicidade. Os textos maiores de filosofia mazdeana mencionados mais acima (existem também em persa) foram compilados muito tardiamente. Os muçulmanos ortodoxos estavam sempre prontos a suspeitar de maniqueísmo os pensadores e filósofos. Sabe-se que o budismo persistia no Irã oriental no século IX, e que movimentos religiosos especificamente iranianos não cessaram de agitar os primeiros séculos da hégira. No início do século X (931), um jovem homem de nome Ibn Abî Zakarîya Tammânî se propôs a instauração de um mazdeísmo reformado. Enfim, há ainda em nossos dias comunidades zoroastrianas no Irã, pequenas em número, mas perfeitamente vivas.
Que sejam lá outros tantos fatores próprios da cultura iraniana, se tem certamente já pouco ou muito avisado. Mas em que e em que medida estes fatores modelam uma percepção do mundo, cooperam a sistemas de pensamento que não são pura e simplesmente redutíveis ao comum denominador ao qual se tende na maioria das vezes a reduzir o Irã posterior ao século VII, é lá o que chamará ainda sérias elaborações filosóficas. Talvez bastaria já, vindo de outro país de Islã, viver um certo tempo no Irã, evocar com iranianos certos pensadores cuja memória lhes é próxima para se tornar sensível a estas diferenciais, e se surpreender então de reencontrar os ditos filósofos alinhados em nossos livros sob todo outros índices. Em fato, há uma tematização tornada difícil desde o início por um vocabulário tradicional, cujas apelações alteradas pelo uso moderno não vão em nossos dias sem falsear as perspectivas e produzir dissonâncias.
- As dificuldades de um conceito
- O Irã nos filósofos
- Os filósofos no Irã