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id da página: 3713 Cadernos do Hermetismo – Sophia e a Alma do Mundo – Jean Brun

Brun Alma do Mundo

Cahiers de l’HermétismeSophia e a Alma do Mundo – Platão e a Alma do Mundo

FAIVRE, Antoine (org.). Sophia et l’âme du monde. Paris: Albin Michel, 1983

  • A Problemática da Tradução e Interpretação da Alma do Mundo no Timeu de Platão

    • A existência de dificuldades de tradução e interpretação na passagem 34b do Timeu, concernente à Alma do Mundo, insolúveis de modo categórico.
    • A divergência histórica entre comentadores, desde a Antiguidade, como Proclo, quanto à necessidade de correções textuais, com desacordos entre tradutores modernos como Th.-H. Martin e Cornford.
    • A discussão acerca da construção gramatical das frases, independentemente de correções textuais.
    • A multiplicidade e a falta de clareza perfeita das interpretações decorrentes das diferentes traduções.
    • A acusação de que os comentadores neoplatônicos, incluindo Proclo, frequentemente forçaram o texto para inseri-lo em um contexto que não era originalmente o seu.
  • A Importância do Texto e a Noção de Alma do Mundo

    • A rejeição da ideia de que as incertezas tornam o texto um locus desperatus do qual nada se pode aprender.
    • A afirmação de que as incertezas textuais e tradutórias não impedem reconhecer a considerável importância dos desenvolvimentos para a história das ideias.
    • A citação da passagem do Timeu que descreve a Alma colocada no centro do corpo do Mundo, estendida por ele e além, envolvendo-o, formada antes do corpo para comandar, com o corpo para obedecer.
    • A descrição da Alma, uma vez construída, estendida em todas as direções, envolvendo o céu em um círculo e iniciando uma vida inextinguível a partir de um começo divino.
  • A Estranheza Moderna e a Antiga Concepção do Mundo como Organismo Vivo

    • O caráter estranho da noção de Alma do Mundo para o homem moderno, que a vê como um resquício de mentalidade primitiva.
    • A concepção do Mundo como uma máquina pelo pensamento moderno, em oposição à visão platônica e antiga do Mundo como um vivente animado por uma alma.
    • A distância considerável entre o mundo-organismo e o mundo-máquina, marcada por ruínas que não são meros vestígios de um mundo revogado.
    • A implicação de fazer do Mundo um vivente: a atribuição de uma natureza idêntica à do homem, profundamente penetrada por um nisus cósmico.
    • A unidade da vida, universal e atmosférica, onde tudo "conspira" e participa de uma unidade abarcante, rica em afinidades, influências e harmônicos.
    • A não aberração de uma astrobiologia ou da correlação entre movimentos planetários e a vida biológica ou psicológica do homem, uma ideia presente em Hipócrates e na teoria estoica da simpatia universal.
  • A Alma do Mundo como Princípio de Movimento e Significação

    • A presidência da Alma do Mundo sobre as relações de toda natureza, conferindo-lhes uma significação expressiva, pois esta Alma é apaixonada pelo Bem e pela Beleza.
    • A inexistência, nesta perspectiva, da cisão moderna entre "animado" como dotado de alma e "animado" como movido.
    • A consequência de que todo movimento, dos astros aos viventes, ocorre porque possuem uma alma, não sendo da alçada de um mecanismo materialista, mas da vida em qualquer nível.
    • O enquadramento do dinamismo antigo em uma física ou estudo da Natureza, onde tudo se move, cresce e se manifesta como uma ideia que vem à expressão oral ou uma planta que germina.
    • A compreensão da vida do Mundo em termos de comportamento, e não de funcionamento, sendo una através de todas as suas ramificações.
    • A suspensão das séries causais, tanto nas ações humanas quanto nos fenômenos naturais, a uma Alma que lhes insufla significação e direção.
  • Implicações Éticas e Cosmológicas: Desmesura e Simbiose

    • A outorga de pleno sentido às expressões "contra-natureza" e "desmesura" pela noção de Alma do Mundo e de organismo cósmico.
    • A situação do homem não em um meio que sofre pressões, mas em simbiose com o Mundo, pois sua alma é uma parte da Alma do Mundo.
    • A atribuição da maldade ao ato de querer quebrar a unidade do que está harmonicamente unido e é belo.
    • A concepção do Mundo não como um mero quadro, mas como uma estrutura anatomo-fisiológica que não deve ser transformada, sob pena de consequências monstruosas.
    • O exemplo de Heródoto sobre a insurreição da Natureza contra os atos de hybris de Xerxes, como a construção de um canal no Monte Athos e de uma ponte entre a Europa e a Ásia.
    • A explicação do "escrúpulo cosmológico" do homem grego pelo sentimento de pertencer, por sua alma, à Grande Alma do Todo.
  • A Mudança de Paradigma: de Organismo a Máquina

    • O início da viragem conceitual na filosofia de Aristóteles, para quem o Mundo, embora ainda um vivente, é movido pelo desejo, desde a matéria que deseja a forma até Deus, que move todas as coisas pelo desejo.
    • O apagamento da desmesura por uma vontade de identificação com Deus, que pode tomar duas direções: o misticismo especulativo (Plotino) ou a vocação tecnicista.
    • A convergência final dessas duas direções na autodivinização do homem pela maestria e posse da máquina do Mundo.
    • A dessacralização e desvitalização do movimento, substituindo-se o dinamismo pelo mecanismo e a noção de força pela de choque.
    • A redução do Mundo a um esqueleto cujas articulações o homem faz jogar e ao qual acrescenta próteses.
  • Consequências para a Concepção do Homem e do Conhecimento

    • A aplicação da nova concepção mecanicista ao próprio homem, visto como produto de um meio de pressões, interseção de linhas de força, teatro de pulsões ou uma máquina explicável pela sociologia e bioquímica.
    • A perda da alma pelo homem, após o Mundo, conduzindo ao dilema entre ser um galerote teleguiado ou um náufrago desencadeado em uma jangada.
    • A transferência da noção de hiperorganismo do mundo para a sociedade, que passa a cantar a autodivinização do homem.
    • A substituição do cósmico pelo social, onde o hiperorganismo social dita "cientificamente" ideias e atos ou é uma fonte de desejos perpetuamente renovados.
  • A Solução Platônica: a Composição da Alma do Mesmo e do Outro

    • A composição da Alma do Mundo a partir da substância indivisível e sempre invariável, da substância divisível dos corpos e de uma terceira substância intermediária, compreendendo a natureza do Mesmo e do Outro.
    • A solução platônica para a antinomia eleática (só o Mesmo) e heraclítica (só o Outro), exposta no Sofista.
    • A refutação do argumento do sofista de que o discurso falso é impossível porque o falso pertence ao não-ser, que Parmênides declarou inexistente.
    • A definição do discurso falso como enunciar como outro o que é mesmo e como sendo o que não é.
    • A colocação do Mesmo e do Outro na Alma do Mundo para evitar que o Mundo seja tomado apenas como o Modelo eterno ou como uma Alteridade pura.
    • A função da Alma do Mundo, feita da mistura de Mesmo e Outro, de presidir aos movimentos e à história dos viventes, animando-os e dando sentido às suas vidas, fundamentando o juízo sobre pensamentos e atos.
  • A Atualidade da Problemática: as Ditaduras do Mesmo e os Delírios do Outro

    • A análise da contemporaneidade como um mundo sem a mistura de Mesmo e Outro, submetido a ditaduras do Mesmo ou a delírios do Outro.
    • A caracterização das ditaduras do Mesmo pela imposição de uma doutrina única, fora da qual só existem erros a eliminar, levando a tiranias como Buchenwald e os gulags.
    • A caracterização dos delírios do Outro pela rejeição de qualquer referência a um Mesmo, de objetivos e valores, e da essência humana, em favor de combinatórias lúdicas e da busca do Todo-Outro.
    • A descrição do mundo moderno como uma gigantomaquia onde Totalitarismo e Liberalismo, como Mesmo e Outro irreconciliáveis, desnaturam os homens em nome da liberdade.
  • A Harmonia Cósmica e a Via da Analogia

    • A descrição pormenorizada, no Timeu, da divisão da mistura da Alma em porções baseadas em proporções matemáticas (1, 2, 3, 4, 9, 8, 27) e do preenchimento dos intervalos com médias harmônica e aritmética.
    • A interpretação desta passagem como uma visão que relaciona relações matemáticas, a gama musical e as distâncias planetárias em uma teoria da harmonia do mundo, influenciada por tradições egípcias e órfico-pitagóricas.
    • A exposição, por Theon de Esmirna, da teoria musical grega, onde sons consonantes resultam de movimentos com relações numéricas específicas, influenciando a alma.
    • A extensão das noções de proporção e harmonia à arquitetura e à astronomia, fundamentando a "harmonia das esferas" e o "concerto celeste".
    • A concepção de um universo de ritmos, analogias e correspondências, onde a conhecimento resulta do encontro do semelhante com o semelhante, em oposição ao mundo da dedução e do conceito uniforme.
    • A diferença fundamental na concepção do número: para os gregos, proveniente da divisão do Uno; para os modernos, proveniente da adição de uma unidade ou da divisão entre zero e um.
  • A Persistência da Via da Analogia e seu Declínio

    • A persistência subterrânea da via da analogia ao longo dos séculos, exemplificada por Vitruvio, cuja arquitetura se baseia na symmetria e na proporção (analogia) do corpo humano bem proporcionado.
    • O reforço desta ideia pela seção áurea e pela teoria platônica dos poliedros, com traços em Campanus de Novara, Pacioli, Alberti, Kepler, Leonardo da Vinci e Dürer.
    • O ressurgimento da via da analogia em Swedenborg, nos românticos alemães e em autores como Balzac, Baudelaire, Mallarmé e André Breton.
    • O privilégio da via inversa, da dedução prolífica, pelos pensamento moderno, com sua multiplicação de teoremas, atomismos e radiografias estruturais.
    • A comparação com o argumento de Símias no Fedon, para quem a alma é uma harmonia do corpo e, portanto, um epifenômeno destrutível, ideia retomada pelos materialismos e estruturalismos modernos.
    • A posição platônica contrária: as harmonias só existem em relação à Harmonia essencial que lhes confere sentido, assim como as significações pressupõem um Sentido dos sentidos.
  • O Mundo Sem Alma e a Busca de Sentido em Estratégias de Fuga

    • A análise da frénese moderna de análise, desmontagem e combinatórias lúdicas como consequência de conceber o mundo e o homem como máquinas.
    • A caracterização dessas combinatórias como sonhos de aventureiros que esperam autodelivrar-se de toda essência e existência.
    • A busca de "drogas" químicas, ideológicas e científico-técnicas para "desfundir" e "reestruturar" o mundo, na senda do desejo baudelairiano de mergulhar no desconhecido.
    • A concretização moderna deste Desconhecido nas especulações sobre o "buraco negro" da astronomia, visto como uma porta para novos universos, uma viagem no tempo ou um túnel metafísico.
    • As especulações evolucionistas que veem no hidrogênio e no acaso um démiurgo capaz de fazer o espírito renascer sempre novo, substituindo o Deus horologeiro de Voltaire pelo "potencial de criação".
    • A definição dessas visões como escatologias residuais forjadas por um homem atordoado que continua a enterrar o cadáver de Deus em um mundo sem alma.
    • A conclusão de que nem a viagem espacial, nem a biológica, nem as combinatórias conduzem a um caminho de Damas, onde o homem encontra uma Luz que dá razões para viver e esperar.