VIDE: PÃO
Quando se diz do maná que é o "Pão do Céu", cita-se os Salmos (105,40 e 78, 24-27).
Gregorio de Nissa: Vida de Moisés — MANÁ DO DESERTO
Jean Canteins: LA PASSION DE DANTE ALIGHIERI
O «pão dos Anjos» é atestado na Sabedoria de Salomão, XVI,20: LXX angelon trophe; Vulgata angelorum esca; que deve ela mesma ser lida em perspectiva da passagem Salmo 78,25 onde é dito, a respeito do maná, «pão dos Fortes»: Lehem abirim, o que a Vulgata literalmente traduziu panem fortium mas que na Septuaginta é intepretada angelon arton: «pão dos Anjos».
Conforme à problemática do «falar em línguas», este alimento dos Anjos é, segundo a Sabedoria, um pão «preparado resumindo todos sabores e de acordo todos os gostos... que se modificava no que cada um desejava» (XVI,21). Embora não seja questão desta milagrosa propriedade no relato da descida da maná (Êxodo XVI,13-21), a tradição judaica a considera (Talmude, etc.).
Gerardus van der Leeuw. La religion dans son essence et ses manifestations. Phénoménologie de la religion. Paris: Payot, 1970
A noção de mana é mencionada pela primeira vez em uma carta do missionário R. H. Codrington, publicada por Max Muller em 1878: mana, lê-se ali, é “um nome melanésio que designa o infinito”. Estilo da época. Naturalmente, esta definição provinha de Muller. Codrington, em sua carta e no livro que publicou em 1891, fornece uma definição muito mais característica: “é um poder ou uma influência; não é física; é, em certo sentido, sobrenatural, mas manifesta-se na força corporal ou em toda espécie de força e capacidade possuída por um homem. Este mana não está ligado a um objeto determinado; quase qualquer objeto é suscetível de transmiti-lo; os espíritos... o possuem e podem comunicá-lo... De fato, toda a religião melanésia consiste em adquirir para si este mana ou fazer com que ele se aplique em benefício próprio” (The Melanesians, 118, n. 1). Esta característica tem-se, de modo geral, confirmado. Nas ilhas oceânicas, mana designa sempre um poder; mas os insulares agrupam sob esta denominação, sob os termos que dela derivam ou sob locuções compostas com ela, diversas noções, às quais correspondem substantivos, adjetivos ou verbos tais como: influência, força, glória, majestade, inteligência, dominação, divindade, capacidade, poder extraordinário, — frutuoso, forte, numeroso, — honrar, ser capaz, adorar, profetizar. É evidente, portanto, que não se pode tratar do sobrenatural no sentido em que se entende. Lehmann chega a censurar Codrington por omitir totalmente o sobrenatural e por limitar-se ao simples significado: “frutuoso, capaz”. Ora, mana apresenta precisamente este sentido. O mana de um guerreiro demonstra-se por seu sucesso constante na guerra. Se sofre diversos reveses, conclui-se que seu mana o abandonou. Mas, por outro lado, Lehmann estabelece uma oposição errônea entre as noções de “supranormal, provocando o assombro” e as representações primitivas do “agente”, do “poderoso” em geral. Um caráter do pensamento primitivo consiste precisamente em não conceber separação alguma entre o mágico, aquilo que roça o sobrenatural, e aquilo que age. A “eficiência” é, na origem, mágica por si mesma, e o “encanto” age eo ipso. Pode-se, pois, supor que a expressão adotada por Codrington, “o sobrenatural em certo sentido”, tenha atingido exatamente a realidade. Em todo caso, é necessário afastar toda ideia de sobrenaturalismo propriamente dito. O poder é constatado de modo inteiramente empírico. Em todo lugar onde aparece algo de incomum, grandioso, atuante, frutuoso, fala-se de mana. Nenhum interesse teórico lhe está associado. O “natural”, isto é, aquilo que se deve esperar, jamais permitirá reconhecer o mana. “Uma coisa é mana quando age; não é mana se não age”, declara um indígena da ilha Hocart. Constatar-se-á o mana tanto em um mergulho habilidoso no oceano quanto no comportamento de um chefe tribal. Mana designa tanto a felicidade, a sorte, “a veia”, quanto o poder. Não há oposição entre ação profana e ação sagrada. Toda ação fora do comum produz uma experiência de poder. No sentido integral da palavra, a crença no poder é uma crença empírica. Admitir-se-á, portanto, que “na origem, a ideia de força mágica e a de capacidade em geral se identificaram absolutamente”. O poder pode ser empregado nas práticas da magia, mas o caráter do encanto pertence a toda ação extraordinária. Contudo, seria inexato atribuir ao poder em geral o significado de força mágica e fazer do dinamismo uma teoria da magia. É com o poder que se exerce a magia, mas a aplicação do poder não reveste necessariamente esta forma, ainda que toda ação extraordinária do primitivo compreenda um envio mágico. Se é pelo mana do deus que se realiza a criação da terra, do mesmo mana procede toda capacidade; o poder do chefe, a felicidade do país repousam sobre o mana, mas o mesmo deve ser dito das tábuas das latrinas, sem dúvida porque, como todas as partes do corpo, suas excreções são tidas por dotadas de poder. Que não se trate necessariamente de magia no sentido técnico, isso decorre da seguinte declaração: “os estrangeiros venceram, e agora os Maori encontram-se inteiramente sob o mana dos ingleses” (Lehmann, 24). Entretanto, para o primitivo, a autoridade do estrangeiro não é um dado tão plenamente racional quanto para nós. Codrington tem novamente razão ao falar de supernatural in a way, “sobrenatural em um sentido”. Característico também é o modo de interpretação que o indígena aplica ao poder da missa cristã (Lehmann, 58, ilhas Wallis): “Ide encontrar o reverendo padre e pedi-lhe que ore para que eu morra; se ele consentir, celebrará uma missa com esta intenção. Morrerei subitamente, e o povo dirá: a missa do reverendo padre é mana, pois um jovem morreu por causa dela.”
Mana é, portanto, uma substância que deve ser definida de diversas maneiras bastante variadas: “mana é também honra, autoridade, riqueza; um homem rico possui mana, isto é, auctoritas.” Mana pode significar prestígio, sucesso, por exemplo, do combatente, assim como de sua clava, etc. O dema dos Marind-Anim (Nova Guiné) é ainda mais universal: “tudo pode ser dema, toda pessoa, toda coisa, desde que se distinga por seu comportamento insólito ou mesmo, do ponto de vista puramente exterior, pela estranheza de sua forma.” Os ancestrais também são designados como dema; eles são o dema concretizado.
De modo algum sistematizado, o poder, como é evidente, tampouco é unificado. Pode-se ter um mana grande ou pequeno. Dois magos podem entrar em luta ou em competição mediante seus respectivos mana. O poder é destituído de valor moral. Uma flecha envenenada possui seu mana tanto quanto os medicamentos dos europeus. O orenda iroquês (ver adiante) é empregado tanto para amaldiçoar quanto para abençoar; trata-se unicamente de poder, produza ele o bem ou o mal.