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Tikhon Zadonsky


SÃO TIKHON ZADONSKY nasceu em 1724 no governo de Novgorod. Tornou-se monge em 1758 e bispo de Voronezh em 1763. Como bispo, ele se destacou principalmente por seu zelo em treinar o clero e manter a disciplina religiosa nos conventos. Em 1767, ele se retirou para um mosteiro do outro lado do Don, razão pela qual recebeu o apelido de Zadonsky. Ele foi muito ativo lá, tanto em termos pastorais quanto caritativos, e escreveu muitas obras que o tornaram muito popular entre os russos piedosos. Alguns o criticaram por ter se deixado influenciar por um escritor anglicano e por usar o escolasticismo. Independentemente dessas acusações, ele nunca traiu a essência da verdadeira espiritualidade russa. Ele morreu em 1783. (Ascètes Russes)

Foi uma das grandes inspirações do escritor Dostoivesky, como afirma Mikhail Bakhtin:

Em carta a Maikov, Dostoiévski diz: “Pretendo apresentar como figura central da próxima novela Tíkhon Zadonsky, naturalmente com outro nome; mas este também levará uma tranquila vida de bispo em um convento... Talvez eu construa uma figura majestosa e positiva de santo. Já não se trata de Kostanjoglo, nem do alemão (esquecí o sobrenome) de Oblomov... nem dos Lopukhov ou Rakhmietov. Na verdade não vou criar nada. Apenas mostrarei o Tíkhonov real, que eu aceitei em meu coração há muito tempo e com encantamento” (Cartas, t. II. Gosizdat, Moscou-Leningrado, 1930, p. 264).

The Complete Works of FYODOR DOSTOYEVSKY

DRESDEN,

25 de Março [6 de Abril], 1870.

[A primeira metade da carta trata de assuntos de negócios.]

O trabalho para o Roussky Viestnik não me fatigará particularmente; mas prometeu-se ao Sarya uma obra real, e deseja-se realmente fazê-la. Esta última amadureceu em vosso cérebro nos últimos dois anos. É a mesma ideia sobre a qual já se vos escreveu uma vez. Será o vosso último romance; será tão longo quanto “Guerra e Paz”. Sabe-se de nossas conversas de outrora que aprovarás a ideia. O romance consistirá em cinco contos longos (cada um de quinze folhas; nestes dois anos vosso plano amadureceu completamente). Os contos são completos em si, de modo que se poderia inclusive vendê-los separadamente. O primeiro se destina a Kachpirev; sua ação se passa nos ‘anos quarenta. (O título do livro inteiro será “A História de Vida de um Grande Pecador,” mas cada parte terá seu próprio título também.) A ideia fundamental, que percorrerá cada uma das partes, é uma que vos atormentou, consciente e inconscientemente, por toda a vida: é a questão da existência de Deus. O herói é ora ateu, ora crente, ora fanático e sectário, e depois novamente ateu. A segunda história terá como cenário um mosteiro. Nesta segunda história baseiam-se todas as vossas esperanças. Talvez as pessoas admitam finalmente que se pode escrever algo além de pura tolice. (Confiar-se-á a vós apenas, Apollon Nikolayevitch, que nesta segunda história o personagem principal se tomará de Tikhon Zadonsky; evidentemente sob outro nome, mas também como um Bispo que se retirou para um mosteiro para repouso.) Um garoto de treze anos, envolvido em um crime sério, um rapaz intelectualmente maduro, mas totalmente corrupto (conhece-se o tipo), e o futuro herói do romance como um todo — foi enviado por seus pais ao mosteiro para ser ali educado. O pequeno lobo, o pequeno Niilista, entra ali em contacto com Tikhon. No mesmo mosteiro há de se encontrar Tchaadayev (também, evidentemente, sob outro nome). Por que Tchaadayev não passaria um ano em um mosteiro? Suponha-se que Tchaadayev, após aquele primeiro artigo que o fez ser semanalmente examinado por médicos quanto a seu estado de espírito, não pôde abster-se de publicar um segundo artigo em algum lugar no exterior (digamos, na França; é bem concebível; e por este artigo é banido por um ano para um mosteiro. Mas permite-se-lhe receber visitantes ali — por exemplo, Bielinsky, Granovsky, até Pushkin, e outros. (Evidentemente não há de ser o Tchaadayev real; deseja-se apenas exibir o tipo.) No mosteiro há também um Paul o Prussiano, um Golubov, e um Monge Parfeny. (Conhece-se o meio por inteiro; familiarizou-se com os mosteiros russos desde a infância.) Mas as figuras principais hão de ser Tikhon e o garoto. Por amor de Deus, não contes a ninguém sobre o que esta segunda parte há de tratar. Geralmente nunca se conta a ninguém sobre o próprio trabalho de antemão; só se vos sussurraria isto; o que quer que os outros pensem do valor do vosso plano, para vós ele vale mais do que qualquer outra coisa. Não fales a ninguém sobre Tikhon. Contou-se a Strachov sobre a ideia do mosteiro, mas não se disse palavra sobre a figura de Tikhon. Talvez se logre criar um santo majestoso e autêntico. O vosso há de ser bem diferente de Kostanchoglov, e também do alemão em “Oblomov,” de Gontscharov. Provavelmente não se há de criar de forma alguma, mas apresentar o Tikhon real, que há muito está guardado em vosso coração. Mas mesmo uma delineação próxima e fiel considerar-se-ia um grande feito para se ter sucesso. Não fales disto a ninguém. Ora, para se escrever esta segunda parte do romance, que se passa no mosteiro, deve-se absolutamente estar na Rússia. Ah, se puder-se apenas concretizá-la! A primeira parte trata da infância do vosso herói. Evidentemente, há outros personagens além de crianças; é um romance real. Esta primeira parte, felizmente, pode-se escrevê-la mesmo aqui; oferecê-la-á ao Sarya. Será que eles não a recusarão, contudo? Mas mil rublos não são um honorário muito excessivo...

Não vale a pena falar sobre o Niilismo. Apenas espera-se até que esta escória, que se separou da Rússia, esteja totalmente esgotada. E, sabes, pensa-se realmente que muitos dos jovens patifes, garotos decadentes que são, cedo ou tarde tomarão um novo rumo, e serão metamorfoseados em russos decentes e completos? E o resto pode ir apodrecer. Mas mesmo eles finalmente manterão o silêncio, por pura impotência. Que patifes que eles são, contudo!...


DESTAQUES:
A Spiritual Treasure — St. Tikhon of Zadonsk
Tikhon Zadonsky (1724-1783)