STÉPHANE, Henri. Introduction à l’ésotérisme chrétien I. Paris: Dervy-livres, 1979
As matemáticas modernas, que são essencialmente axiomáticas, são contrárias à démarche natural — e mesmo histórica — do espírito. Em vez de partir do dado e proceder em seguida por abstração, elas partem do construído, ou seja de uma produção arbitrária do espírito, para descer em seguida às aplicações e às representações concretas, sem que seja possível aliás justificá-las. O hiato entre o concreto e o abstrato aparece ainda mais no subvertimento das relações normais: em vez de abstrair o eidos do concreto, em conformidade com a démarche normal do espírito, faz-se o inverso, o que basta para mostrar o caráter um tanto subversivo da matemática moderna, em oposição com a doutrina escolástica do nihil est in intellectu quod prius non fuerit in sensu. Há mesmo aí uma espécie de paródia luciferiana onde o espírito usurpa o papel do logos pretendendo "construir o mundo" a partir dos axiomas e das estruturas, e indo até a declarar que o universo é "de essência matemática". Reduzido assim a estruturas vazias, já que as operações incidem sobre elementos sem conteúdo, o universo matemático torna-se um verdadeiro "jogo" no qual o espírito humano se compraz e do qual ele faz de certa forma uma religião ou uma mística; um matemático é geralmente descrente, o que o situa no quadro do ateísmo moderno universalmente difundido. Este "jogo" se exprime aliás precisamente por uma "formalização" cada vez mais avançada, onde o espírito não joga mais sequer com conceitos, mas com signos: o espírito humano tende a se reduzir a uma estrutura desencarnada.
Este duplo caráter subversivo e desencarnado da matemática moderna a aparenta a tudo o que há de subversivo e de "desumanizante" no pensamento moderno; a este respeito, seria interessante estudar as relações da matemática moderna com a linguística e o estruturalismo. Na medida em que estas últimas teorias não se interessam senão pela estrutura da linguagem e esvaziam as palavras e os conceitos de todo conteúdo semântico, elas se aparentam visivelmente ao que se disse das matemáticas modernas; todos os partidários deste gênero de doutrinas "jogam" com o "construído" e ignoram o "dado", tanto o do mundo exterior, quanto o de uma Revelação qualquer, o que acarreta, disse-se, uma mentalidade ateia. A oposição ao existencialismo é apenas aparente: este, não se interessando senão pelos entes ou pelos existentes nega o mundo das essências, de modo que, em um caso como no outro, todo simbolismo é destruído, seja por redução a um formalismo vazio no que concerne a matemática, seja por negação do "significado" no caso do existencialismo. Nos dois casos, culmina-se na absurdidade do mundo, no nada, na "morte do homem", consequência inevitável da "morte de Deus", e não resta mais que um mundo de máquinas que ilustra perfeitamente o imperialismo do construído e o esmagamento da natureza. Enfim é notório que esta empreitada de destruição remonta a Kant que considera o objeto como uma "construção do nosso espírito", e que relega as essências para o domínio do incognoscível. Quanto à ciência moderna, que é puramente empírica e conjectural, ela se situa no nível dos fenômenos e, não atingindo de modo algum o real, ela é condenada também a construir máquinas!