Excertos de LE FÉMININ DE L'ÊTRE : POUR EN FINIR AVEC LA CÔTE D'ADAM
Sempre prisioneiros de nossas categorias mentais ligadas ao tempo do mundo exterior, compreendemos este mito como não sendo nada mais que um relato histórico; fechamos a orelha a isto que, de partida, dizia de essencial:
“Ora viajando, 'vindo do oriente',
os homens encontram uma planície na terra de Shinear e lá se estabelecem.”
Trata-se sem dúvida do Homem tomado no limite do histórico e do meta-histórico, mas certamente também do Homem que, de todo tempo histórico, “se desvia de seu oriente”, deste espaço interior nele, onde são falados a língua una e as palavras unas: língua divina e palavras divinas, pois o número “um” é em hebreu um Nome divino e só Deus é Uno.
Este Homem que se desvia do Verbo fundador nele se estabelece então em uma terra do qual se pode traduzir o nome, Shinear, por: “aí onde se grita, onde se geme”, ou bem ainda: “princípio da oscilação”.
O Homem que vira as costas a seu oriente bascula ao exterior dele mesmo, totalmente identificado à Babilônia cacofônica, surdo à voz do Verbo, aquela da língua una de seu oriente. Cortado da Palavra, o Homem está desinserido dele mesmo, de seu nome secreto, “EU SOU em devir”; ele vai e evem sem referência neste mundo de exílio e não mais que sofrimento.
O relato bíblico confirma este nível de escuta do mito dizendo que os habitantes de Shinear “se põem a cozer tijolos ... e o tijolo lhes substitui a pedra”.
O homem exterior, ainda hoje, sobre o mercado econômico, “vale tantos tijolos”. O homem interior é pedra. Em hebreu, é “pedra” (Eben) aquele que é “filho” (bem) do “Pai” (Ab); é “tijolo” (Labenah) aquele que é “filho” (bem) d' “ela” (Lah), filho da mulher, ou ainda filho biológico de ordem animal, permanecido neste registro animal e portanto privado da consciência do Pai-Um, privado da raiz comum a ele e aos outros homens.
Em ressonância ao Evangelho, o Filho do Pai é “Filho do Homem”, filho interior que todo ser humano deve fazer crescer nele, aquele do qual João Batista fala em dizendo de Jesus: “É preciso que Ele cresça e eu diminua”; de João Batista Jesus disse: “Ele é o maior entre os filhos da mulher”.
“O tijolo em lugar de pedra” confirma portanto a condição radical dos seres que, nas planície de Shinear, não partem mais à conquista de seu Nome em seus céus interiores, mas buscando a se fazer uma fama sob os céus exteriores.
“Construamos uma cidade e uma torre cujo topo toque o céu, e façamos um nome!”
Eles executam sua decisão e, não nos surpreendamos, perdendo contato com a língua una e o Pai uno, eles se dispersam nas múltiplas línguas da terra e se tornam uns para os outros estranhos que vivem em relações de força: competições, rivalidade, conflitos, guerras, assassinatos sangrentos! O mito da torre de Babel que põe acento sobre a “energia-poder” dada pelo Santo Nome fundador, mas desprovido, reconduz o mito da Queda mais axial, ele, na “energia-alegria”.