Ao longo de toda a nossa obra, tratou-se da Religião perene, explícita ou implicitamente, e em conexão com as diversas religiões que, por um lado, a velam e, por outro, a deixam transparecer; e crê-se ter oferecido dessa Sophia primordial e universal uma ideia homogênea e suficiente, a despeito da maneira descontínua e esporádica com que se fez referência a ela. Contudo, a Sophia perennis é, com toda evidência, inesgotável e não possui limites naturais, nem mesmo em uma exposição sistemática como o Vedanta; esse caráter de sistema não constitui, de resto, nem uma vantagem nem uma desvantagem — pode ser uma coisa ou outra, conforme o conteúdo; a verdade é bela em todas as suas formas. De fato, não há doutrina grandiosa que não seja um sistema, nem tampouco alguma que se exprima de modo exclusivamente sistemático.
Como é impossível esgotar tudo quanto se presta à expressão, e como a repetição em matéria metafísica não pode ser um mal — é melhor ser excessivamente claro do que insuficientemente —, julgou-se poder retornar às teses habituais, seja para propor aquilo que ainda não havia sido dito, seja para expor, de maneira utilmente nova, o que já se havia afirmado. Se o número de elementos fundamentais de uma doutrina, por definição abstrata, é necessariamente mais ou menos limitado — esta é a própria definição de um sistema, pois os elementos formais de um cristal regular não podem ser inumeráveis —, o mesmo não ocorre com as ilustrações ou aplicações, que são ilimitadas e cuja função consiste em fazer compreender melhor aquilo que, à primeira vista, pode parecer insuficientemente concreto.
Ainda outra observação, esta de ordem mais ou menos pessoal: cresceu-se em uma época em que ainda se podia dizer, sem corar de ingenuidade, que dois e dois são quatro; em que as palavras ainda possuíam um sentido e significavam o que querem significar; em que era possível conformar-se às leis da lógica elementar ou do senso comum, sem necessidade de recorrer à psicologia, à biologia ou à chamada sociologia, e assim por diante; em suma, uma época em que ainda existiam pontos de referência no arsenal intelectual dos homens. Com isto deseja-se dar a entender que a forma de pensar e a dialética aqui adotadas são deliberadamente antiquadas; e sabe-se de antemão — pois é algo bastante evidente — que o leitor a quem se dirige esta exposição há de agradecer por isso.