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Santos Possível Real

Mário Ferreira dos SantosOntologia e Cosmologia — O POSSÍVEL — O REAL E A REALIDADE


CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

O que há de evidente e patente para nós é o ato de sermos, cuja afirmação é apodíctica. Não pode nossa inteligência alcançar nada além do ato, que a tudo antecede. Podemos chegar a ele, operatoriamente, através do exame da cadeia causal ou meramente cronológica do acontecer, ou pela pathencia do nosso existir, mas nos é impossível duvidar da sua prioridade. Porque, do contrario, teríamos de aceitar o nada como primordial, o que é absurdo.

Essa certeza é evidente (ponto arquimédico) e o ato, em última análise, aceito como primeiro, primordial e arquetípico, é incondicionado.

Quer consideremos o todo (como unidade ou não), temos de aceitar sempre o ato, e este, como primordial, como incondicionado, portanto absolutamente livre, anarchos, como liberdade absoluta e como liberdade e absoluto, por não ser causado, nem limitado por qualquer outro.

O eu é uma atualidade, e ele nos oferece a pathencia do ato.

"É preciso agora ter em conta que um ser vivo, ao viver, só se estende naquilo, só pode desenvolver-se realiter em direção àquilo, só pode atualizar aquilo que, "no fundo é já", que "potencial e implicitamente é já". E prossegue Maximilian Beck ("Psicologia" p. 150, em diante): "Entre os seres vivos por um lado e seus momentos explicativos por outro, flutua, contudo, uma tensão qualitativa, chamada, no caso dos seres corporais, "instinto", e, no dos seres anímicos, "vontade", "impulso". O ser 'vivo é, potencialmente, a totalidade de tudo aquilo que, atual, explicativa e realiter, é apenas parte, sendo, por conseguinte, sempre, e em primeiro lugar, um dos seus momentos explicativos. Na forma da implicação é sempre mais que aquelas determinações por ou nas quais se realiza no caso respectivo.

Pois elas são determinações difusas, são separadas: uma só é esta, outra só aquela determinação. Enquanto o ser vivo se realiza nelas, estendendo-se em cada uma à totalidade de todas as outras: impulsa, tende, quer em toda atualização individual ou realização individual em direção ao desenvolvimento total daquilo que é, na forma da implicação, a forma da separação.

Experimenta como ser vivo corpóreo, "sente" como ser anímico em toda realização particular de sua essência o seu "instinto", o seu tender, a sua vontade, o seu impulso vital para o estender-se total, não apaziguado, insatisfeito".

O que o eu é (implicitamente) só pode ser devir (explicitamente) ao entrar numa relação atual com o mundo. (Só em contato com o mundo se desenvolve o eu). Os atos do eu são, por assim dizer, as atualizações das diversas perspectivas de relação com o mundo objetivo, que atuam predisponentemente, atualizações que se expandem, emanadas da potencialidade (emergência).

O eu devêm o que é, a saber, projeção microcósmica deste, do mocrocosmo, ao vivê-lo como aquilo que lhe é peculiar.

O eu "quer" ser o que já é, potencial e implicitamente.

Esta rápida explanação noológica muito nos auxiliará, oportunamente, a compreender os princípios intrínsecos e extrínsecos do ser.

Observe-se que não excluem alguns escolásticos (os escotistas, por exemplo) a possibilidade de ser a matéria, por si mesma, atual, nem que possam dar-se várias formas substanciais subordinadas. Reconhece Fuetscher que a atualidade da matéria nos é revelada pela experiência. O que julgamos possível é o que não contradiz a ordem universal ou particular dos planos ou constelações tensionais, mas tal não deve ser confundido com a possibilidade, nem muito menos com a potência, pois já exigem eficacidade-real, e que são, portanto, potência-atual.

Toda possibilidade implícita (intrínseca) a uma tensão é uma possibilidade atual, real e potencial.

Quando a possibilidade é explícita (extrínseca), e só se atualiza com a cooperação de outra tensão, essa possibilidade é apenas um possível.

A probabilidade é um grau eminente do possível e da potência.

Por isso nem tudo que é possível é provável. A probabilidade acentua-se quando se acentua a possibilidade maior da potência e do possível de se atualizarem.

A probabilidade é o meio caminho entre a possibilidade e a atualização.

A colocação ontológica desses conceitos, posto esparsamente para a análise, exige o estudo dos conceitos de real e de possível, cujo esclarecimento abre campo para futuras penetrações na temática e na problemática ontológicas.