Porneia — Luxúria
É preciso, antes de mais nada, precisar que o uso da sexualidade não é naturalmente original, apareceu na humanidade como conseqüência do pecado (hamartia) de nossos primeiros pais. Quando estes de desviaram de Deus, Adão e Eva se desejaram e se uniram sexualmente, ensinam os Padres referindo-se a indicações da Escritura (Gen 3,16; 4,1). João Damasceno precisa: "A virgindade (parthenia) era original e inata na natureza dos homens. No paraíso, a virgindade era o estado normal. Quando pela transgressão, a morte entrou no mundo, somente então Adão conheceu sua mulher e ele engendrou." (Exposição exata da fé ortodoxa). Do mesmo modo João Crisóstomo ensina o mesmo: "Foi depois de sua desobediência e exílio que Adão e Eva mantiveram transação juntos. Antes viviam como anjos .... Assim, na ordem do tempo, a virgindade possui a palma da prioridade." (Homilias sobre o Gênesis XVIII, 4)
No estado da humanidade consecutivo à queda original, a virgindade permanece a norma da perfeição. Mas por permitir a perpetuação da humanidade no estado novo onde se encontra, e por esta razão é abençoado por Deus, o uso da sexualidade no quadro do casamento não é condenável, e os Padres, seguindo o exemplo do Cristo abençoando as bodas de Caná, reconheciam a total legitimidade e proclamavam mesmo seu valor, considerando que é um apelo à santificação, assim como as outras funções da existência humana.
A noção de abuso, no caso da porneia, não tem um siginifcado quantitativo, mas qualitativo: trata-se de um mau uso da função, uma perversão, um uso contrário a sua finalidade natural e por tal contra a natureza e anormal, ou seja, patológico. Maximo o Confessor fala a respeito desta paixão (pathos): "Nada daquilo que é não é mau, mas somente o mau uso (prakresis) devido à negligência de nosso espírito a se cultivar segundo a natureza" (Centúrias sobre a caridade III, 4). Isaac o Sirio quando evoca a paixão da porneia, desenvolve uma perspectiva similar, e salienta a responsabilidade do homem no controle de seus movimentos naturais: "quando um homem é movido pela concupiscência (epithymia), não a potência natural que o força a sair dos limites da natureza e se afastar de seu dever. O que o faz sair é aquilo que adicionamos à natureza para satisfazer nossa própria vontade (thelema). Pois tudo que Deus fez, fez na beleza (kallos) e na medida. Se nos guardamos corretamente na medida justa que nos é concedida nas coisas que portamos por natureza, os movimentos naturais não podem nos forçar a sair da via. O corpo não age verdadeiramente a não ser na ordem boa (agathon)." (Ibid)