Carregando...
 
Skip to main content
id da página: 6976 Visão – Perspectiva – Ponto de Vista

Perspectiva

Visão – Perspectiva


Frithjof SchuonDA UNIDADE TRANSCENDENTE DAS RELIGIÕES

Retornando ao que se dizia acerca da compreensão das ideias, poder-se-ia comparar uma noção teórica à visão de um objeto: assim como essa visão não revela todos os aspectos possíveis, isto é, em suma, a natureza integral do objeto, cuja perfeita cognição não seria outra senão a identidade com ele, do mesmo modo uma noção teórica não corresponde ela própria à verdade integral, da qual sugere necessariamente apenas um aspecto, essencial ou não; o erro, por sua vez, corresponde, neste exemplo, a uma visão inadequada do objeto, enquanto a concepção dogmatizante seria comparável à visão exclusiva de um único aspecto desse objeto, visão que pressuporia a imobilidade do sujeito que vê; quanto à concepção especulativa, portanto intelectualmente ilimitada, ela seria aqui comparável ao conjunto indefinido das diferentes visões do objeto considerado, visões que pressuporiam a faculdade de deslocamento ou de mudança de ponto de vista do sujeito, e, portanto, um certo modo de identidade com as dimensões do espaço que, por sua vez, revelam precisamente a natureza integral do objeto, ao menos sob o aspecto da forma, que é a única em causa em nosso exemplo. O movimento no espaço é, com efeito, uma participação ativa nas possibilidades deste, ao passo que a extensão estática no espaço, a forma de nosso corpo, por exemplo, é uma participação passiva nessas mesmas possibilidades; dessas considerações pode-se facilmente passar a um plano superior e falar então de um “espaço intelectual”, isto é, da toda-possibilidade cognitiva, que não é outra, no fundo, senão a Onisciência divina, e, por conseguinte, também das “dimensões intelectuais”, que são as modalidades “internas” dessa Onisciência; e o Conhecimento pelo Intelecto não é outra coisa senão a perfeita participação do sujeito nessas modalidades, o que, no mundo físico, é bem representado pelo movimento. Pode-se, portanto, ao falar da compreensão das ideias, distinguir uma compreensão dogmatizante, que é comparável à visão partindo de um único ponto de vista, e uma compreensão integral, especulativa, comparável à série indefinida das visões do objeto, visões realizadas por mudanças indefinidamente múltiplas do ponto de vista. E assim como, para o olho que se desloca, as diferentes visões de um objeto estão ligadas por uma perfeita continuidade que representa, de certo modo, a realidade determinante do objeto, do mesmo modo os diferentes aspectos de uma verdade, por mais contraditórios que possam parecer, apenas descrevem, contendo implicitamente uma indefinição de aspectos possíveis, a Verdade integral que os ultrapassa e os determina. Repetir-se-á ainda o que se disse anteriormente: a afirmação dogmatizante corresponde a um ponto que, como tal, contradiz, por definição mesma, todo outro ponto, enquanto a enunciação especulativa, ao contrário, é sempre concebida como um elemento de círculo que, por sua própria forma, indica, em princípio, sua continuidade própria e, por isso, o círculo inteiro, portanto a verdade inteira.

Resulta daí que, na doutrina especulativa, é o ponto de vista, de um lado, e o aspecto, de outro, que determinam a forma da afirmação, ao passo que, no dogmatismo, esta se confunde com um ponto de vista e um aspecto determinados, excluindo, por conseguinte, todos os outros pontos de vista e aspectos igualmente possíveis.