Carregando...
 
Skip to main content
id da página: 7437 O INSTANTE — O AGORA — O MOMENTO

Momento

ETERNIDADE — O INSTANTE — O AGORA — O MOMENTO


VIDE: IN HOC TEMPORE


Wei Wu Wei

É concebível que o tempo pudesse ser detido? Concebível, mas não possível. Por que não é possível? Porque não há nada a deter.
Como assim?
Somente um objeto pode ser detido, e o tempo não possui existência objetiva.

Se o tempo é puramente psicológico, por que não cessa quando dormimos? Não é puramente psicológico.
Queres dizer que é também físico?
Ambos — psique e soma — estão sujeitos à temporalidade.
Por que razão?
Porque o tempo representa um volume espacial, uma mensuração do espaço que é interpretada como sequência. Enquanto “espaço”, o tempo é fundamental.
O “espaço”, então, não possui existência objetiva? Nenhuma, absolutamente.
Mas o que é ele enquanto “tempo”? Intemporalidade.

Pode ser visto como tal?
A lacuna não pode ser transposta conceitualmente, pois há uma descontinuidade entre os opostos enquanto o raciocínio for conduzido de modo dualista; mas pode-se realizar uma aproximação pela imaginação.
Como se faz isso?
Imagina a remoção da serialidade do tempo, e o que restará? Intemporalidade?
Sim, pois o tempo é serialidade. Imagina a remoção da imutabilidade, e o que restará do intemporal?
O tempo serial?
Exatamente. Pela imaginação, ao menos, pode-se ver que, negativamente, possuem um denominador comum.
Qual seria?
Presumivelmente, a mensuração espacial que ambos representam — um noumenalmente, o outro fenomenalmente. Contudo, é apenas em sua mútua negação que readquirem essa qualidade.

Esse jeu d’imagination ajuda-nos?
Sem dúvida. Não nos mostra que não são separados, que o tempo é um aspecto da intemporalidade?
E então?
Como fenomenalmente somos sequenciais enquanto tempo, assim noumenalmente devemos ser imutáveis enquanto “intemporalidade”. Não seria essa a compreensão essencial?
Por certo! Visto dessa forma, é ao menos uma demonstração daquilo que somos! Se isso necessitasse de prova, não seria esta?

Afirmaste há pouco que a suspensão do tempo é concebível: podemos concebê-la?
Certamente. Experimenta.
Tudo simplesmente permanece imóvel?
Não. Tudo desaparece — inclusive aquele que concebe.
Por quê?
Porque o tempo não possui existência objetiva.
Não compreendo como isso funciona.
Concebes o tempo como cessando, mas é o próprio concebente que cessa conceitualmente, pois ele é o que o tempo sequencial é: a serialidade, enquanto tal, é concebida como cessando — “tu” e tudo o que os sentidos percebem. “Tu” não podes continuar se o tempo cessa.
O que demonstra que o tempo é aquilo que fenomenalmente somos?
Que ele representa a serialidade pela qual, unicamente, podemos parecer ser, e portanto é uma medida daquilo que intemporalmente somos.
Mas isso não implica que, ao assim desaparecermos, devamos automaticamente permanecer intemporalmente?
Perfeitamente! É evidente que sim. Isso decorre também do que acabamos de discutir.

Somos um ou outro, ou ambos?
Não, isso não pode ser dito com exatidão.
Por quê?
Somos intemporais — intemporalidade, se preferires —, mas o que parecemos ser temporalmente é apenas aparência.
A qual é uma existência conceitual, ou pseudoexistência, manifestada por meio da cisão da mente intemporal em sujeito e objeto, sendo a “conceitualidade” a apreensão mediante a comparação de opostos?
Creio que exprimiste com clareza.

Mas não permanecemos ainda na dualidade? Tempo e não-tempo são um par de contrapartes interdependentes, como quaisquer outros.
Exatamente. Devemos enfrentar isso. Mas trata-se de uma querela verbal. O tempo é sequência; a sequência e a abolição da sequência constituem uma mensuração do “espaço”, um volume que inclui o volume tridimensional que os sentidos podem interpretar. Isto é apenas um conceito geométrico em si, mas todas essas mensurações provêm de uma única fonte, um único “olho” que se supõe medir. Que “olho” é esse, e onde se encontra?
Meu palpite é que é o meu olho — se não “todo o meu olho”!
É ambos! Como conceito, é “todo o meu olho”, mas, como verdade metafísica, é o meu “olho” enquanto Eu. E onde está o teu “olho” enquanto tu?
Não, não! Agora saíste dos trilhos! É MEU olho, quem quer que o diga, e todo ser sensível pode dizê-lo — ou, se os animais e as plantas não podem “dizê-lo”, podem sabê-lo sem formulá-lo. É sempre o “Eu”, e está em toda parte fenomenalmente.
Não é um centro?
Sim, sempre um centro, de onde quer que esteja “vendo”.
Como isso é possível?
O Eu — ou “Eu-Eu”, aham-aham, como o chamou Maharshi — é o centro do infinito, e o centro do infinito é, necessariamente, em toda parte fenomenalmente.

Tudo isso é conceitual.
Tudo o que dizemos é conceitual. O problema é que as pessoas estão condicionadas a aceitar a objetivação conceitual como aquilo que chamam de “real”. Mas não há “realidade”. Tudo o que podemos fazer, exceto a apreensão silenciosa dos sábios — cuja apreensão não pode ser transmitida —, é conceituá-la em forma abstrata.
Sim, e então?
Então fazemos o que fizeram os Mestres, o que fez Huang Po.
E o que foi?
Destruir o conceito. Após um longo e incrivelmente brilhante discurso sobre a “Mente”, ao sair do salão, voltou-se e acrescentou: “E, a propósito, por favor, não se esqueçam: é claro que não existe tal coisa como ‘Mente’”, com o que desapareceu, deixando seus monges bouche bée. Exceto, talvez, alguns poucos para os quais todo o discurso fora proferido.
E estamos entre eles. Quais somos nós?
Estamos tão bem qualificados quanto eles para estar entre os últimos.
Eu estou entre os primeiros — bouche bée!
Espero que não, ao leres o discurso de Huang Po! Isso, ao menos, é claro. O choque da saída é o que produz o efeito?
Como choque — talvez; mas a questão é que, quando o conceito é abandonado, e de qualquer modo que o seja, a verdade subjacente permanece — e deve tornar-se evidente.
Ela é evidente antes do choque ou depois dele?
Só pode haver um momento no tempo em que se torna evidente. E qual é esse momento?
É intemporal, mas é representado no tempo serial por um instante. Então, quando é?
É sempre, para sempre, eterno — bem como sendo eterno. Chama-se AGORA.


Julius Evola: DOUTRINA DO DESPERTARA CONSCIÊNCIA SAMSARICA — INSTANTANEIDADE E CONTINUIDADE

Sobre esta base, a teoria búdica de samsara pôde se reforçar até aquela da «instantaneidade» ou da «existência instantânea»: kshana. Se a existência e o sentido do Eu são condicionados pelos contatos, esta existência deve se reduzir na série pontual dos mesmos contatos. Em um tal sentido, estritamente falando, a vida é instantânea, segundo a imagem búdica da roda de um carro, roda cujo movimento é, certamente, contínuo, embora, o carro se movendo ou não, ela só toca, em um só ponto, o solo. «Assim também, a vida dos seres só tem a duração de um pensamento: o ser do momento passado viveu, mas ele não vive e não viverá; o ser do momento futuro viverá, mas não vive nem viveu; o ser do momento presente vive, mas ele não viveu, nem não viverá».


  • No Budismo, a importância do momento é enfatizada de todas as formas.
    • O "conhecimento", num texto, é comparado a um relâmpago.
    • Exorta-se a "levantar e despertar" quando se percebe a própria passividade, a própria indolência, "sem deixar passar o momento" — se o momento certo for deixado passar, aquele momento em que se teria sido capaz de superar a força à qual tanto homens como deuses estão sujeitos, o demônio da morte reafirmará o seu poder.
    • "A batalha deve ser travada hoje — amanhã podemos não mais existir. Não há tréguas para nós com o grande exército da morte. Apenas aquele que vive assim, lutando incansavelmente dia e noite, alcança a beatitude e é chamado um sábio abençoado."
    • A seguinte analogia é usada para ilustrar este estado de espírito: o que faria um rei, a quem fosse anunciado que as montanhas estavam a desmoronar-se e a mover-se e a derrubar tudo à sua frente, fechando sobre o seu reino a partir do leste, do oeste, do sul e do norte, e que soubesse claramente quão difícil é alcançar o estado humano de existência?