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Mitologia Grega
Mircea Eliade História das Crenças e das Ideias Religiosas
Segundo Plutarco (Pompeu, 24, 5), os piratas da Cilicia "celebravam em segredo os Mistérios" de Mithra; vencidos e capturados por Pompeu, difundiram esse culto no Ocidente. Trata-se da primeira referência explícita aos Mistérios de Mithra. Ignora-se o processo que transformou o deus iraniano exaltado pelo Mihr-yasht no Mithra dos Mistérios. O seu culto desenvolveu-se provavelmente entre os magoi estabelecidos na Mesopotâmia e na Ásia Menor. Deus-paladino por excelência, Mithra tornara-se o protetor dos soberanos partos. O monumento funerário de Antíoco I de Comagena (69-34 a.C.) mostra o deus apertando a mão do rei. Mas o culto régio de Mithra não comportava, ao que parece, nenhum ritual secreto; desde o término da época aque-mênida, as grandes cerimônias de Mithrakana eram celebradas em público.
A mitologia e a teologia dos Mistérios mithríacos nos são acessíveis sobretudo graças aos monumentos figurados. Os documentos literários são pouco numerosos e referem-se principalmente ao culto e à hierarquia dos graus iniciatórios. Um dos mitos relatava o nascimento de Mithra de uma rocha (de petra natus), tal como o antropomorfo Ullikummi, o frígio Agdistis e um célebre herói da mitologia osseta. É por essa razão que a caverna desempenhava um papel essencial nos Mistérios de Mithra. Por outro lado, segundo uma tradição transmitida por Al-Biruni, às vésperas da sua entronização, o rei parto retirava-se a uma gruta e os seus súditos aproximavam-se e veneravam-no como um recém-nascido, mais exatamente como uma criança de origem sobrenatural. As tradições armênias falam de uma caverna onde Meher (i.e., Mihr, Mithra) se recolhia e de onde só se retirava uma vez por ano. Com efeito, o novo rei era Mithra, reencarnado, renascido. Voltamos a deparar esse tema iraniano nas lendas cristãs da Natividade na gruta de Belém coberta de luz. Em síntese, o nascimento miraculoso de Mithra fazia parte integrante de um grande mito irânico-sincretista do Cosmocrata-Redentor.
Walter Burkert: ANTIGOS CULTOS DE MISTÉRIO
Mitra é uma antiqüíssima divindade indoiraniana, documentada desde a Idade do Bronze e cultuada por todas as partes onde veio a predominar a tradição iraniana. Seu nome significa "o intermediário", no sentido de "tratado", "promessa de fidelidade". Mas não há indicações relativas aos mistérios característicos de Mitra anteriores ao ano 100 d.C.; a instituição deles e sua exata relação com a tradição iraniana são problemas que ainda não foram solucionados. O culto se realizava em "cavernas" subterrâneas, onde pequenos grupos de homens se reuniam para as iniciações e as refeições rituais, na frente de uma pintura de Mitra matando o touro, que sempre ocupa a abside da "caverna". Havia sete graus de iniciação. A iconografia mitraica é surpreendentemente uniforme, com muitos símbolos, mas seu respectivo mito não aparece na literatura. O culto de Mitra está intimamente associado às legiões romanas, tendo sido os adoradores recrutados principalmente entre os soldados, comerciantes e funcionários do império romano.