O "LIVRO DO VAZIO PERFEITO" é uma obra do taoismo escrita por volta do século V aC. Tradução em francês de Léon Wieger.
Lie Tseu ou Lie Yu K’eou é o autor do Tchoung niu-tchen king, que se pode traduzir por “Verdadeiro Clássico do Vazio Perfeito”. O título data apenas de 732 depois de Jesus Cristo, e teve a honra de um édito imperial que fixou assim definitivamente sua denominação. Sob essa designação, foi inserido entre os textos clássicos do taoismo estudados em uma Academia recém-fundada para esse fim.
A biografia de nosso autor não é rica em informações; a maior parte provém do próprio livro, no qual nos são descritas quase inteiramente suas condições de vida, desde a época em que, jovem discípulo, seguia o ensinamento de um mestre.
Todavia, no século XII, o letrado Kao Seu-souen e, depois dele, Tsiao Houng (1541-1620) chegaram a negar até mesmo sua existência. Consideravam-no um personagem alegórico inventado por Tchouang Tseu, o último dos grandes filósofos do taoismo clássico.
Os europeus, cuja forma de espírito crítico se compraz frequentemente em favorecer esse gênero de alegações, não deixaram de explorar tal oportunidade. Balfour, Eitel e H. A. Giles negaram com brilho a existência da personagem de Lie Tseu; para Balfour, trata-se simplesmente de “um filósofo que jamais existiu”. Talvez também se tenha admirado do pequeno número de vezes em que ele é mencionado na obra que lhe é atribuída. Com efeito, através dos cento e quarenta e poucos trechos reunidos sob o título de Tchoung hiu tchen king, ele é mencionado apenas dezoito vezes, e sem aparecer como personagem principal.
Além disso, é bastante grave constatar que Se-ma Ts’ien não o menciona nem o cita, mesmo em suas biografias. Pode ser, responde então Lieou Hiang, que, na época de Se-ma Ts’ien, a obra de Lie Tseu já se tivesse tornado rara ou mesmo desaparecido completamente. Entretanto, existem fontes anteriores ao Che-ki que mencionam nosso filósofo. Assim ocorre com Che-tseu, com os filósofos Wen Tseu e Lu Pou-wei, e com Hoai Nan-tseu.
Tchouang Tseu, por sua vez, cita-o e o trata como um personagem existente; chegará mesmo a imitá-lo em suas alegorias.
Lie Tseu nasceu provavelmente por volta de 450 antes de Cristo. Se se leva em conta a história narrada no Livro VIII, cap. 6, chega-se mais ou menos a esse resultado. Com efeito, o ministro Se Tse-yang conhece o filósofo depois que este viveu quarenta anos no Estado de Tcheng; ora, é em 399 a.C. que o ministro toma conhecimento da existência, em Tcheng, do filósofo. Ignora-se o ano de sua morte.
Quanto à sua vida, a seu ofício, pouco se sabe. Vivia, ou melhor, subsistia, graças sem dúvida aos dons de discípulos ou devotos. No que concerne à tentativa de obter cargo junto a um príncipe, parece ter renunciado a isso por iniciativa própria.
Não dirá ele a Po-houen Mou-jen: “Com certeza, ele (o príncipe) teria confiado a mim os assuntos do Estado, exigindo de mim a realização de grandes feitos” (II, 14). O que é pedir muito a um taoista...
É possível que se tenha contentado com um emprego menos prestigioso e que tenha procurado um, como Lao Tseu, que é tido como tendo sido arquivista. Teria agido assim como muitos letrados taoistas e confucianos. Mas parece nunca ter podido ou querido se empregar. Sua miséria recorda que a pobreza dos clérigos e intelectuais não é de hoje.
As personagens Po-houen Mou-jen e Hou k’ieou Tseu-lin, que desempenham no texto que aqui se apresenta os papéis, um de mestre de Lie Tseu, outro de amigo e confidente deste último, é em vão que se tenta identificá-los. A esse respeito, as informações de um Tchouang Tseu são bastante ilusórias. Não parece ter tido outras fontes além precisamente do Tchoung hiu tchen king.
Sumário
- Livro Segundo: Hooang Ti
- Houang ti
- Como num sonho
- O escolar Vin e Lie tseu
- Lie tseu e Kouan Yin
- Atirar ao arco
- Santa simplicidade
- O guarda do parque zoológico do rei
- O barqueiro
- A queda d'água
- O caçador de cigarras
- As gaivotas
- Uma caça pelo fogo
- O feiticeiro e o sábio
- Lie tseu tenta uma viagem a Ts'i
- O caminho para a vitória
- Forma e conteúdo
- O homem e os macacos
- O galo de combate
- A coragem de Houei Yang
- Livro Terceiro: O Rei Mou de Tcheou
- O rei Mou de Tcheou
- Magia e doutrina das aparências
- Um pensamento de Lie tseu sobre a magia
- Vigiar e sonhar
- Ainda sobre o sonho e o estado de vigília
- Yin o Rico e o seu doméstico
- Ainda os sonhos
- Cura difícil
- Da loucura
- O homem de Y en e o brincalhão
- Livro Quarto: Confúcio
- Conhecer
- Os dois santos
- Quem é santo?
- K'ong tseu e os seus discípulos
- Um sábio perfeito
- A aprendizagem de Lie tseu
- Viagem e contemplação
- Sábio sem o saber
- Um poema
- Mestres ou servos
- O atleta que desilude
- Sofismas (resumo)
- Vox populi
- As palavras de Yin Hi
- Livro Quinto: T'ang
- Questões de T'ang (1)
- Questões de T'ang (2)
- A fé move montanhas
- K'oua Fou
- Necessidade e liberdade
- Um paraíso estranho
- Kouan Tchong
- Embaraço de Confúcio
- O equilíbrio
- Uma operação
- Os mestres de música
- Os efeitos do canto
- O músico e o amador de música
- Ning Che e o seu autómato
- Uma história de arqueiros
- A arte de conduzir um char (resumo)
- Um ódio teimoso
- Uma curiosidade e dúvidas
- Livro Sexto: Sobre o Destino
- Natureza e destino
- Pei Kong e Si Men
- Kouan Tchong, Pao Chou-ya, a sua amizade e o seu destino
- Teng Si e Tseu Tch'an
- Acaso e felicidade
- Uma citação do livro de Houang ti
- Os quatro caracteres
- O erro nasce da semelhança
- O duque de Ts'i e a morte
- Como antes
- Vontade e destino
- Livro Sétimo: Sobre Yang Tchou
- Sobre a fama
- Aproveitar o instante presente
- A igualdade na morte
- Demasiadas virtudes prejudicam
- In medio stat virtus
- Piedade pelos vivos
- O caminho da vida e da morte
- Carpe diem
- Um homem avisado
- Nada vale a pena
- Sobre o egoísmo
- A morte universal
- A capacidade está submetida à função
- A glória é um engano
- O que é a perfeição humana
- Os desejos e a tranquilidade
- Cada um no seu lugar
- Sobre a fidelidade e a justiça
- O nome e a sua utilidade
- O devir
- Sobre a morte
- Da modéstia no porte
- Agir sem ter consciência de agir
- O tao da vida e da morte
- Sê o teu próprio médico
- Nada se pode fazer, nada se pode explicar
- Agir ou não agir
- Os nossos atos seguem-nos
- Doutrina e divergência
- Da realidade e da aparência
- Guardar-se do bem
- Livro Oitavo: Discursos sobre as Convenções e o Destino
- O homem e a sua sombra
- O Tao e a luta pela vida
- Saber porquê
- Quão difícil é possuir o Tao
- A imitação da natureza
- Pobreza e amor-próprio
- O jogo das circunstâncias
- A expedição do duque Wen de Tsin
- Um bom governador ignora os ladrões
- Da perfeita adaptação às circunstâncias (resumo)
- Um ensino alusivo é difícil
- A prudência do sábio é a sua força
- A felicidade pelo infortúnio
- Os dois malabaristas
- O conhecedor de cavalos
- Importa governar-se a si mesmo primeiro
- A modéstia é uma proteção
- Ladrões e letrados
- Uma ofensa devida ao acaso
- Tomar o nome pela coisa
- Até onde pode ir a lealdade
- O homem que detinha o segredo da imortalidade
- Uma bondade que se transforma em crueldade
- Não há privilegiados no mundo dos vivos
- Tudo antes de mendigar
- Fantasia de um pobre
- Um conselho interessado
- O ladrão do machado
- Os pensamentos negros influem na conduta
- Ele só via o ouro
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