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id da página: 275 Hulin – PEPIC – A Generosidade do Absoluto: Gênese da Servidão Michel Hulin

Hulin PEPIC Servitus

HULIN, M. Le principe de l’ego dans la pensée indienne classique: la notion d’ahamkara. Paris: Vrin., 1978

  • Caracterização do Absoluto como fonte perene e contraponto da finitude

    • Definição do Absoluto como a frescura daquilo que permanece em estado nascente, uma fonte jorrante captável no ímpeto, desejo e curiosidade da consciência humana voltada para o mundo.
    • Identificação do espanto da eterna juventude do absoluto e seu contraponto no fato massivo da ignorância e da dor.
    • Apresentação da liberdade absoluta de Shiva como apenas a face gloriosa da experiência, gerando a necessidade de relacionar a autonomia suprema do jogo divino com a servidão dos seres finitos.
  • Exposição da teoria dos tattvas como dialética descendente do Xivaísmo

    • Definição do papel da teoria dos tattvas ("princípios") ou da processão das hipóstases como uma dialética descendente própria do Xivaísmo.
    • Observação de que a doutrina é comum às várias escolas shivaítas, o que dificulta a expressão da originalidade filosófica do Trika neste quadro pré-fabricado.
    • Menção da estrutura dos trinta e seis tattvas, compreendendo os vinte e cinco do Samkhya acrescidos de onze tattvas shivaítas.
    • Divisão do conjunto entre o "caminho puro" (shuddhadhvan) – os cinco primeiros tattvas – e o "caminho impuro" – todos os demais.
  • Descrição dos cinco tattvas do caminho puro como vibrações ideais da consciência

    • Caracterização dos cinco primeiros tattvas – Shiva, Shakti, Sadashiva, Ishvara e Shuddhavidya – como níveis de experiência ou fases de uma vibração elementar da consciência pura, não como uma criação cósmica.
    • Esclarecimento de que Shiva, como primeira hipóstase, não é mais a realidade absoluta (Parameshvara ou Anuttara), que está além da manifestação.
    • Definição de cada tattva do caminho puro:
      • Shivatattva: O primeiro frêmito do desejo de criar, no qual Shiva se desfaz da massa infinita do cognoscível, atingindo um estado de "vacuidade além do vazio" (shunyatishunyatva); a experiência assume a forma do Eu puro e simples, privado de conteúdo.
      • Shakti tattva: Ênfase no aspecto negativo, no desaparecimento da objetividade; não é uma sucessão temporal ao Shivatattva.
      • Sadashiva tattva: Marca a reaparição não-temporal do cognoscível, expressa na forma experiencial "eu sou isso" no sentido de "sou eu que sou isso".
      • Ishvara tattva: A objetividade reassume seus direitos; o Eu contempla a massa do cognoscível, mantendo-se à distância; a experiência é do tipo "Isso é o que eu sou", simbolizada por "olhos bem abertos" (unmesha).
      • Shuddhavidya tattva: Restabelecimento do equilíbrio; no "eu sou isso" característico, nem o "eu" nem o "isso" predominam; o "isso" reflete-se no "eu" tal como é, e o "eu" aceita o "isso" como conteúdo.
    • Interpretação do ciclo como uma oscilação pendular entre o polo do "Eu" (Shiva/Shakti) e o polo do "Isso" (Ishvara), com o equilíbrio em Shuddhavidya.
  • A intervenção de Maya como hiato para a finitude e a via impura

    • Identificação do sexto tattva, Maya, como o princípio que faz o caminho puro desembocar no caminho impuro, conduzindo à finitude e à dor.
    • Destaque do hiato (descontinuidade) entre o quinto tattva (Shuddhavidya) e Maya, refletindo a impossibilidade de uma solução puramente teórica para o problema da finitude.
    • Caracterização da alienação na finitude como "falsa" em sua experiência, só podendo ser vinculada provisoriamente a um princípio condicional e irracional.
    • Comparação com o estatuto de Maya no Advaita Vedanta (real-irreal – sadasadanirvacaniya).
    • Explicação do tema do jogo divino (lila) no Trika: "Para se divertir, o Senhor supremo assume corpos... e saboreia os frutos amargos de seus erros. Assim como um imperador, embriagado por seu poder, se diverte fazendo o papel de soldado raso... o Senhor, em sua exultação, deleita-se em assumir os vários aspectos (do mundo)".
    • Aprofundamento da noção de liberdade (svatantrya): a mais alta liberdade do Senhor Supremo é manifestar-se sob o aspecto da alma ligada (pasu), obscurecendo-se e limitando-se a si mesmo.
    • Citação: "O que poderia ser mais difícil de alcançar do que isso: manifestar, Naquele que é a própria manifestação, a negação da luz? Portanto, é a mais elevada liberdade do Senhor supremo manifestar-se dessa forma sob o aspecto da alma limitada...".
    • Reconhecimento deste ponto como o limite extremo de toda teogonia: fazer entrever a possibilidade de princípio da finitude e da dor em geral.
  • Os cinco kañcukas como princípios limitadores e constituidores da alma individual

    • Apresentação dos cinco tattvas seguintes a Maya – Kalā, Vidyā, Rāga, Kāla, Niyati – como os "kañcukas" (corseletes, camisas-de-força).
    • Definição da função comum dos kañcukas: limitar, particularizar e, assim, individualizar a experiência universal do caminho puro.
    • Descrição específica de cada kañcuka:
      • Kalā: A atividade determinada e direcionada a uma tarefa específica; restrição da onipotência (sarvakartritva) original.
      • Vidyā: O conhecimento limitado a um objeto determinado; redução da onisciência (sarvajñatva).
      • Rāga: O "apego", fixação subjetiva e contingente do desejo em objetos particulares; feito dos resquícios da plenitude (purnatva) da satisfação.
      • Kāla: O tempo, a experiência submetida ao antes e ao depois; decadência da eternidade divina.
      • Niyati: A "necessidade", submissão da atividade e do conhecimento a relações fixas e objetivas entre coisas exteriores; a onipresença (vyapakatva) decaída.
    • Caracterização deste recuo (samkoca) como o que constitui a alma individual (anu) e a afeta com as três "impurezas" (mala): a individuação, o karman e a submissão a Maya.
  • Incorporação dos princípios do Samkhya e descrição do sujeito finito

    • Menção à incorporação dos vinte e cinco princípios do Samkhya clássico para completar a "via impura".
    • Destaque da reinterpretação do purusha no Trika: não mais uma mônada espiritual imaculada, mas o princípio que estrutura o sujeito finito e transmigrante (pashu).
    • Esclarecimento de que a existência de uma prakriti independente é, agora, parte de sua ilusão subjetiva, levando o sistema a admitir tantas prakritis quantos purushas.
    • Identificação de traços distintivos na descrição do sujeito finito (māyāpramātr):
      • A autonomia e separação do objeto nunca são completas: "O fogo da consciência pura em ação... consome parte do combustível que é o conhecível.".
      • Interpretação de "consumir" como "assimilar" (svātmasāt karoti), significando que a particularidade do objeto se dissolve na universalidade da consciência pura.
      • Explicação de que a combustão é parcial ou provisória devido aos samskāras, que eventualmente suscitam a reaparição do objeto.
    • Descrição do intervalo (antarāla) entre duas percepções determinadas, onde a consciência (citi), tendo "consumido" o objeto anterior, repousa em sua essência pura indiferenciada.
    • Comparação deste intervalo a uma parada de um viajante à sombra de uma árvore, sendo a viagem a transmigração e seu termo a liberação.
  • Fenômenos de quasi-libertação e transcendência da individualidade na experiência empírica

    • Identificação de clarões de quasi-libertação na consciência empírica: a consciência pura realiza a cada instante as três operações cósmicas – emissão (srishti), manutenção (sthiti) e dissolução (samhara) – dissolvendo os objetos nela mesma.
    • Descrição de situações onde a experiência transcende os limites da individualidade, como quando vários sujeitos concentram a atenção num mesmo espetáculo, formando temporariamente uma única pessoa.
    • Caracterização desta unificação como precária, mas funcionando como uma janela natural, intermitentemente aberta, da prisão da individualidade.
  • Reinterpretação do Ahamkara no Trika além de sua função cosmológica

    • Contextualização do Ahamkara como uma categoria cosmológica, inserida entre a buddhi e o manas nos vinte e cinco tattvas do Samkhya.
    • Destaque de textos que vão além desta visão tradicional, apresentando o Ahamkara como um "décimo-terceiro sentido" superior.
    • Citação: "Uma vez que o objeto da experiência tenha sido provado, (a consciência) também retrai os instrumentos (da experiência)... para dentro de si mesma, para dentro do eu... o ego, o (décimo terceiro) sentido... consiste em uma reapreensão ininterrupta, e é por isso que os outros (sentidos) são reabsorvidos por ele".
    • Explicação da função do Ahamkara como o lugar de efetuação do parāmarśa (reapreensão), evitando uma regressão ao infinito na apreensão dos objetos e operações mentais.
    • Ilustração com o exemplo do amputado que, ao segurar com seus cotos ou boca, ainda assim "segura com as mãos", demonstrando que o poder do Ahamkara detém a capacidade de agarrar em geral e a transfere para outro suporte orgânico quando o normal falta.