I. Introdução
A palavra «normal» deriva do latim norma, que se relaciona com o grego gnomon, um esquadro de carpinteiro, etc., e com o grego gignoskein, «conhecer», e o sânscrito jna, assim como todas essas palavras se relacionam com o nosso «conhecer» moderno. Assim, o nosso título assume que a natureza e os valores da arte, bem como a relação própria entre o homem enquanto artista e o homem enquanto homem, não são de modo algum matérias de opinião ou que devam ser descobertas por um procedimento experimental, mas sim matérias de conhecimento certo. Assim, São Tomás afirma que «A arte possui fins determinados e meios de operação verificados»; e, de modo semelhante, na Índia, a arte é considerada antes como um corpo de conhecimento que deve ser aprendido e como uma perícia que deve ser adquirida — do mesmo modo que alguém aprende e põe em prática os princípios da engenharia, na qual o mestre exige precisamente um produto que “funcione” — do que como uma questão de sentimento ou de gosto pessoal.
A visão normal da arte pressupõe ao mesmo tempo uma visão normal da vida, com uma hierarquia de valores verificados. Por outro lado, «Desde os dias do Renascimento, não pode haver dúvida de que as grandes obras de arte foram compradas ao preço da vida ordinária» (Ranke): contrariamente ao que se supunha, de que a arte, como o Sábado, fora feita para o homem, chegou-se a supor que a arte existia por si mesma, e que devia ser servida à custa da vida. Há já muito tempo nos damos conta de que nem tudo está bem na arte de nossos dias; mas, ao reconhecer isso, não nos permitamos considerar a enfermidade da arte de outro modo que não como um sintoma, nem desperdicemos tempo em buscar remédios paliativos; o que se deve fazer é restabelecer a saúde de todo o organismo, o qual, quando se encontra são, por esse mesmo motivo é belo em todas as suas atividades. Não se deve personificar a «Arte» e atribuir-lhe a culpa por suas próprias desordens, mas recordar, como diz Plotino, que «No que toca às artes e ofícios, tudo aquilo que deve ser buscado nas necessidades da natureza humana está guardado no Homem Absoluto».