PREFACIO
A literatura sagrada da Índia é acessível à maioria de nós apenas por meio de traduções realizadas por eruditos especializados em linguística, mais do que em metafísica; e tem sido exposta e explicada — ou, como melhor se diria, explicada desde fora — principalmente por estudiosos já munidos das pressuposições dos naturalistas e dos antropólogos, eruditos cujas capacidades intelectuais foram tanto inibidas pelos próprios poderes de observação que já não podem distinguir a realidade da aparência, o Sol Superno da metafísica do sol físico de sua própria experiência. À parte destes, a literatura indiana tem sido estudada e explicada por propagandistas cristãos, cujo interesse principal consistia em demonstrar a falsidade e a absurdidade das doutrinas implícitas, ou por teosofistas, pelos quais tais doutrinas foram caricaturadas com as melhores intenções, e talvez com resultados ainda piores.
Por outro lado, o homem instruído da atualidade encontra-se completamente fora de contato com aqueles modos do pensamento europeu e com aqueles aspectos intelectuais da doutrina cristã que mais se aproximam dos das tradições védicas. Um conhecimento do cristianismo moderno será de pouca utilidade, pois a sentimentalidade fundamental de nossos tempos reduziu o que outrora fora uma doutrina intelectual a uma mera moralidade que dificilmente pode distinguir-se de um humanismo pragmático. De um europeu dificilmente se pode afirmar que esteja adequadamente preparado para o estudo do Vedanta, a menos que tenha adquirido algum conhecimento e compreensão, ao menos, de Platão, Filon, Hermes, Plotino, dos Evangelhos (especialmente o de São João), Dionisio Areopagita e, finalmente, do Mestre Eckhart, o qual, com a possível exceção de Dante, pode ser considerado, de um ponto de vista indiano, como o maior de todos os europeus.
O Vedanta não é uma «filosofia» no sentido corrente da palavra, mas apenas no sentido que esta possui na expressão philosophia perennis, e somente se se tiver em mente a «filosofia» hermética ou aquela «Sabedoria» pela qual Boécio foi consolado. As filosofias modernas são sistemas fechados, que empregam o método da dialética e que partem do pressuposto de que os opostos são mutuamente exclusivos. Na filosofia moderna, as coisas são assim ou não são assim; na filosofia eterna, isto depende do ponto de vista. A metafísica não é um sistema, mas uma doutrina congruente; não se interessa meramente pela experiência condicionada e quantitativa, mas pela possibilidade universal. Consequentemente, considera possibilidades que podem não ser nem possibilidades de manifestação nem possibilidades formais em qualquer sentido, assim como conjuntos de possibilidades que podem realizar-se em um mundo dado. A realidade última da metafísica é uma Identidade Suprema, na qual se resolve a oposição de todos os contrários, inclusive a do ser e do não-ser; seus «mundos» e seus «deuses» são níveis de referência e entidades simbólicas, que não são lugares nem indivíduos, mas estados do ser realizáveis no interior de vós.
«El Vedânta y la Tradición Occidental», The American Scholar, VIII (1939), pp. 226-227
DESTAQUES:
Capítulos sem as densas notas de Coomaraswamy
III TRES HIMNOS VÉDICOS
APÉNDICE
EL RIG VEDA COMO LIBRO DE LA TOMA DE LA TIERRA
INTRODUCCIÓN