BRAUN, Lucien; BERNARD GORCEIX; PIERRE DEGHAYE (orgs.). Paracelse. Paris: A. Michel, 1980
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A Luz da Natureza como Princípio de Conhecimento e Revelação
- A concepção da luz da natureza não como uma simples revelação através do estudo do céu e da terra, mas como um princípio de conhecimento ativo, um sol cujos raios penetram todas as coisas – fogo, água, pedras, metais – tornando todos os corpos transparentes como cristal.
- A descrição deste sol como um olho através do qual a natureza escuta as suas próprias profundezas, reunindo em si todas as artes que a sua visão permitirá exercer.
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A Relação do Homem com a Luz da Natureza
- A necessidade de o homem se apropriar do olho da natureza, tornando-se o astro que radia na natureza, sem, no entanto, se identificar simplesmente com ela para a conhecer.
- A tese de que os adeptos da natureza são superiores a ela, conhecendo-a melhor do que ela própria se conhece, instruindo-se por ela mas superando-a, sendo o homem mais do que a natureza, o céu e a terra.
- A distinção fundamental entre o conhecimento natural, acessível pela luz da natureza, e o conhecimento sobrenatural, concedido pela contemplação do Espírito Santo aos que adquiriram o privilégio da segunda nascença.
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A Posição de Paracelso como Filósofo da Natureza
- A autoidentificação de Paracelso como filósofo, e não apóstolo, situando-se no plano do conhecimento natural, e não no sobrenatural.
- A constatação de que, não obstante, o filósofo da natureza fala incessantemente de Deus, apresentando a natureza segundo o projeto do seu autor divino e delimitando-a face ao sobrenatural, dentro de um sistema absolutamente teocêntrico.
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A Estrutura Antropológica e os Diferentes Planos do Ser
- A concepção do homem como um edifício de vários andares, cuja totalidade de altura se encontra no homem, que compreende todos os níveis quando desenvolve plenamente as suas virtualidades.
- A projeção, no seio da própria Trindade, de uma rutura de nível, relacionando a natureza com o Père e o sobrenatural com o Filho e o Espírito Santo.
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Os Três Graus do Homem: Corpo, Homem Sideral e Homem Interior
- A descrição do primeiro grau como o homem visível, animal, de carne e sangue.
- A definição do segundo grau como o homem invisível, sideral, que é simultaneamente espírito e um corpo sutil (corpus spirituale), identificado com o pensamento e a imaginação.
- A caracterização do terceiro grau como o homem interior segundo o Espírito Santo, possuindo um corpo glorioso revestido da carne celeste de Cristo.
- A associação dos dois primeiros níveis à primeira nascença e à natureza, e do terceiro nível à segunda criação ou segunda nascença, no sobrenatural.
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Os Três Espíritos e as Três Luzes
- A identificação de três espíritos que são três luzes: o espírito que anima o corpo visível, o espírito sideral que reina no corpo sideral e se identifica com o pensamento imaginativo, e o terceiro espírito identificado com o corpo glorioso.
- A definição das duas primeiras luzes reunidas como a luz natural, e a terceira como a luz sobrenatural.
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O Astrum como Realidade Invisível e Fogo Universal
- A concepção do astrum como uma entidade universal, a realidade invisível dos astros, uma alma do mundo que é simultaneamente espírito e corpo, um fogo sutil que habita os quatro elementos.
- A distinção entre o céu visível (os astros) e o céu invisível (o astrum).
- A descrição do homem como um abreviatura da criação (microcosmo), contendo em si o céu e a terra, com o corpo visível como corpo elementar (terra e água) e o homem sideral como o céu (fogo invisível).
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A Luz da Natureza como Emanação do Astrum
- A definição da luz da natureza como o fogo que procede do astrum, sendo o próprio astrum a sua emanação.
- A paradoxal exterioridade do astrum, que, estando em cada um de nós, só se objetiva na sua totalidade universal, aparecendo como o firmamento exterior.
- A necessidade de o homem se abrir às dimensões do universo para comunicar com o astrum universal através do fogo do seu próprio corpo sideral, e não através do espírito de carne e sangue.
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A Imaginação como Poder Atraente e Incubador
- A concepção da imaginação não como ornamento poético, mas como um poderoso desejo que opera como um ímã, atraindo o fogo celestial iluminador.
- A reciprocidade do desejo: o céu projeta a sua imaginação sobre a terra, particularmente no homem, e o homem deseja o céu, nascendo o adepto no momento do encontro destes dois desejos.
- A analogia entre o corpo terrestre, que atrai o alimento, e o corpo sideral, que atrai como um ímã a luz do firmamento.
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Os Três Graus de Geração e a Nutrição como Conhecimento
- A descrição dos três graus de geração correspondentes à tripartição do homem: geração pelo céu e terra (corpo elementar), geração apenas pelo céu (corpo sideral), e geração pelo Espírito Santo (corpo glorioso).
- A equiparação entre nutrição e conhecimento: o homem conhece de acordo com o que é e com o que come, ingerindo a terra e o céu ao nível natural, e o corpo de Cristo ao nível sobrenatural.
- A identificação da ciência do homem com o seu corpo, sendo a luz da natureza, ao nível do corpo sideral, a ciência do médico.
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A Dualidade na Natureza e a Relação com a Divindade
- A delimitação da natureza, que inclui o céu sideral (mesmo invisível), face ao céu eterno, infinitamente superior, que é sobrenatural.
- A caracterização da luz da natureza como uma sabedoria transitória, lunar, aplicável à vida mortal, em contraste com a luz solar do Espírito Santo.
- A projeção da rutura entre natureza e sobrenatural no seio da Trindade, associando a primeira criação ao Père e a segunda ao Filho, sendo as criaturas do Filho que vão para o céu.
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Deus Pai como Princípio da Natureza e da Ciência Natural
- A tendência para identificar Deus Pai com a natureza ou com o macrocosmo, sendo Ele o autor da natureza e o dispensador das ciências e artes naturais, incluindo a medicina e a magia natural.
- A instituição, por Deus Pai, de uma "religião natural", com os seus próprios santos, profetas e fé, distinta da religião do Filho, mas igualmente legítima no seu domínio.
- A concepção de uma fé natural, inata, que confere poderes sobre o mundo visível (como a fé que move montanhas), distinta da fé salvífica em Jesus.
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O Poder da Imaginação e a Ética do Adepto
- A identificação entre pensamento, imaginação e o espírito sideral (astrum), dotado de um poder real sobre o mundo natural.
- A afirmação de que o homem, através da sua imaginação-fé, poderia operar prodígios e curar-se a si mesmo, mas a interdição ética de o fazer, para não tentar a Deus.
- A exortação para que o homem interiorize este poder e o coloque ao serviço da sua vocação específica, submetendo-se à natureza e à vontade do Pai, em vez de a pretender dominar.
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A Medicina e o Problema do Mal na Natureza
- A compreensão do mal físico como inerente à criação desde a origem, coexistindo com o bem numa ambivalência universal.
- A visão de Deus Pai como autor do bem e do mal na natureza, mas também como o reparador, através do médico interior (archaeus) e do médico exterior (o adepto).
- A integração paradoxal do diabo na economia divina natural, sendo ele um conhecedor das ciências naturais e podendo, por permissão divina, instruir o médico.
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A Alquimia como Arte da Revelação e da Perfeição da Natureza
- A concepção da luz da natureza não como mero esclarecimento, mas como um fogo que purifica e torna visível a realidade invisível das coisas.
- A missão do homem-adepto de revelar plenamente as maravilhas divinas na criação, fazendo "eclodir" os mistérios que Deus semeou na natureza, através de um processo alquímico de morte e regeneração.
- A ideia de que a criação não está acabada, cabendo ao homem, através dos seus artes (especialmente a alquimia), aperfeiçoá-la e acabá-la, sublimando-a até à sua plena manifestação.
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A Superioridade do Homem e a Dinâmica do Tempo
- A tese de que o homem, por seus pensamentos, supera a luz da natureza (o astrum) e cria um novo céu, sendo, portanto, mais do que o céu e a terra.
- A noção de um progresso do conhecimento humano ao longo do tempo, onde os pósteros superam os antigos, e os nascidos duas vezes (em Cristo) podem atingir uma perfeição superior no conhecimento natural.
- A projeção desta dinâmica na própria Trindade, onde o Filho é maior do que o Pai.
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A Conjunção Final das Duas Luzes
- A possibilidade de as duas luzes – a natural e a do Espírito Santo – se unirem harmoniosamente na alma humana regenerada, sem contradição.
- A perspectiva de uma natureza transfigurada no fim dos tempos, tornando-se perfeitamente diáfana e integrada no reino de Deus, realizando assim o seu desejo original de transparência e perfeição.