Escreveu-se esta obra, não para os animais irracionais que, em seu exterior, têm a forma de homem, mas que em sua imagem, em espírito, são feras más e selvagens, o que é revelado e exibido por suas propriedades; mas para a imagem do homem, para aqueles que estão brotando da imagem animal com uma imagem humana que pertence ao reino de Deus, e que gostariam de viver e crescer na imagem humana, no homem certo. Aqueles que são muitas vezes, e muito, impedidos pela vida contrária, e assim estão envolvidos na vida mista, e labutam em desejo pelo nascimento da vida santa: para eles estes escritos foram escritos. E se lhes pede que não considerem impossível discernir e conhecer tal mistério; e se lhes dá isto para considerarem em uma semelhança.
Que imaginem uma vida que é o resultado e o crescimento de todas as vidas, e é mista. Mas que imaginem também outra vida a crescer nela a partir de todas as vidas, que, embora tivesse crescido de todas as vidas, era livre de todas as outras vidas, e ainda assim possuía todas as propriedades essenciais dessas vidas. Esta outra nova vida (que imaginem) é iluminada com a luz, e apenas em si mesma; de modo que ela poderia contemplar todas as outras vidas, e elas (as outras vidas) não poderiam ver nem apreender a nova vida. Assim é todo aquele que, da vida mista, má e boa, nasce de novo em e de Deus. Esta nova imagem, nascida na vida de Deus, contempla todas as vidas naturais, e nada lhe é estranho ou difícil; pois ela contempla apenas a sua raiz de onde cresceu.
Como uma bela flor cresce da terra áspera, que não é como a terra mas declara por sua beleza o poder da terra, e como ela é misturada de bem e mal; assim também é todo homem, que, da natureza e qualidade animal, selvagem, terrena, nasce de novo para se tornar a imagem certa de Deus.
Para aqueles que são um crescimento de tal tipo, e estão brotando no belo lírio no reino de Deus, e estão em processo de nascimento, escreveu-se este livro; para que eles fortaleçam suas essências nele, brotem na vida de Deus, e cresçam e frutifiquem na árvore do paraíso. E vendo que todos os filhos de Deus crescem nesta árvore, e cada um é um galho desta mesma árvore, quis-se transmitir aos nossos galhos e ramos companheiros em nossa árvore, na qual todos estamos, e da qual todos crescemos, a nossa seiva, sabor e essência, para que a nossa árvore do paraíso se torne grande, e para que nos regozijemos uns com os outros. E se pediria a todas as crianças, que estão assim crescendo nesta árvore, para refletirem amigavelmente que cada ramo e galho ajuda a abrigar o outro da tempestade, e se nos confia ao seu amor e crescimento. (Prefácio de Boehme)