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id da página: 9571 Boehme – Confissões Jacob Boehme

Boehme Confissões

THEOSOPHOSJACOB BOEHME — AS CONFISSÕES DE JACOB BOEHME

Trad. em inglês: THE CONFESSIONS OF JACOB BOEHME

Coletânea de excertos da obra de Boehme realizada por Evelyn Underhill. Existe outra coletânea muito boa em francês, organizada por Alexis Klimov (BÖHME, Jakob. Confessions. Paris: Fayard, 1997).

Jacques Masui, apresentação do livro de Klimov
Hesitou-se um pouco em publicar na própria coleção textos daquele que foi cognominado o “Príncipe dos Obscuros”. Utilizando mitos e símbolos em vez de conceitos, considerou-se-o por muito tempo como um original entre os cristãos. Quantos, contudo, o conhecem ou fingem tê-lo lido? Além disso, as traduções tornaram-se raras e a leitura delas muito difícil sem um guia seguro, por isso contenta-se geralmente com os estudos que lhe foram consagrados: notadamente aquele de Alexandre Koyré.


Após reflexão, e lembrando-se de uma seleção intitulada: The Confessions of Jacob Boehme, encontrada outrora na Inglaterra, decidiu-se encarregar um especialista qualificado, o Senhor Alexis Klimov, professor na Universidade do Québec, conhecido por sua erudição e sua sensibilidade aos fenômenos da vida interior, de realizar em francês o que fez, em 1920, o compilador (Evelyn Underhill) das Confessions publicadas em inglês. Não se duvida, e os leitores julgarão, que ele tenha perfeitamente logrado, se não em tornar Boehme completamente inteligível, pelo menos, por seu prefácio, pelos textos que reuniu e por suas notas penetrantes, em tornar claras as ideias mestras, sempre fruto de suas visões, do grande philosophicus teutonicus.

A pessoa de Boehme é tão extraordinária e tão pura ao mesmo tempo (uma alma infantil!), os seus dons visionários tão excepcionais e a sua doutrina tão audaciosa, que era necessário um dia retornar a ele. O momento parece propício. Além disso, ele nos permite compreender melhor a origem das correntes que fertilizaram toda a filosofia germânica no século dezoito, e reencontrar também — a palavra não é muito forte — certas dimensões do cristianismo, que se haviam perdido na Idade Média durante o desenvolvimento da escolástica (a Ortodoxia guardou algo disso), notadamente a Sofia, a apófase, a deificação e a pneumatologia. Acrescente-se que existem igualmente estranhas ressonâncias entre o das Nichts (o Nada) em Boehme e em Heidegger. Parece inútil, a esse propósito, realçar que o Nada do “filósofo teutônico” é o dos místicos: jamais um vazio “vazio”, mas uma Plenitude, um Inefável que precede e permite o ser, um Nada que desemboca no sentimento do Todo.

Boehme, que o Catolicismo romano havia rejeitado, reviveu espontaneamente as intuições que se haviam expandido alguns séculos antes em Eckhart e seus discípulos: todos descendentes de uma linhagem que remonta a Plotino e a Dionísio o Areopagita. Não conhecendo estes e não dispondo da sólida formação tomista dos seus antecessores, Boehme foi incapaz de colocar em conceitos claros o que via, mas talvez nos impressione tanto mais por suas imagens espantosas e suas audácias que não eram reprimidas por autoridade alguma, apesar das perseguições do início, nem edulcoradas por teologia alguma. Assim, ele “energiza”, de certa forma, as audácias metafísicas do grande Renano que, por outro lado, não se abriu sobre as suas próprias experiências.

Todos, com nuances, redescobriram uma via que jamais foi completamente obstruída, mas que, durante séculos, foi desacreditada pelo cristianismo ocidental: a de um saber experimentado (outrora se diria “contemplativo” e, nos dias de hoje, “existencial”) oposto ao saber discursivo que se conhece demasiado! Hoje, esta via reaparece em plena luz. É aceita, estudada e posta em paralelo com as tradições orientais cujos fundamentos (do judaísmo e do islã até o taoismo) são finalmente postos em luz, longe do que ainda é demasiado frequentemente, infelizmente, taxado de ocultismo ou de esoterismo... na acepção mais adulterada deles. Os Documentos espirituais encontrar-se-iam amplamente justificados se permitissem abrir brechas nas divisões que separaram o pensamento da vida e de melhor revelar o que há de essencial em todas as tradições; seja por testemunhos, seja por estudos que conduzam a um vivido interior do qual se está novamente sedento.